Segundo o estudo
de Demografia Médica da USP, dados de 2022 revelam que as mulheres são minoria
em todas as especialidades cirúrgicas, como a cirurgia plástica, onde
representam 25% dos especialistas. Médica cirurgiã fala sobre o assunto
Mês da Mulher e a discussão mais frequente gira em
torno da igualdade – ou da falta dela. Esse é o tema, inclusive, da
International Women’s Day em 2023, uma comunidade mundial que luta para
promover a igualdade de gênero. A campanha #EmbraceEquity (ou abrace a equidade
em português) é apoiada por diversas instituições, como a Sociedade
Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS, na sigla em inglês).
No Brasil, por exemplo, apenas 25% dos
profissionais dessa área são mulheres, mas em outras, os dados são ainda mais
discrepantes: em urologia, ortopedia e neurocirurgia, os homens representam
mais de 90% dos especialistas. Em outras 9 especialidades, eles são mais de 80%
do total.
Os dados constam em um estudo da USP de Demografia
Médica no Brasil. O documento mais recente, com informações de 2022, mostra que
as mulheres são minoria em todas as especialidades cirúrgicas, caso da cirurgia
plástica. Os números contrastam com o público, já que a grande maioria das
pacientes são mulheres.
Por que será que isso acontece? A médica cirurgiã
plástica Dra Patrícia Marques tem uma pista. “As carreiras cirúrgicas têm uma
formação muito árdua, exigem muito do profissional e isso não favorece as
mulheres, que precisam conciliar o trabalho e os estudos com os cuidados com a
casa e os filhos, mas isso, aos poucos, está mudando. O que é nítido hoje em
dia é que as mulheres não são protagonistas, os cargos de chefia, professores
acadêmicos, médicos com maior notoriedade quase sempre são homens. São poucas
as mulheres que ocupam uma posição de destaque”, diz.
Dra. Patrícia, que é referência nacional em
frontoplastia, a cirurgia de redução de testa, e tem mais de 600 procedimentos
realizados, conta que já passou por diversas situações constrangedoras na
carreira por ser mulher. “Quando comecei a despontar na frontoplastia, que era
uma modalidade cirúrgica que praticamente não era feita no Brasil, eu fui
pioneira, os colegas queriam saber de quem se tratava e ao invés de falarem
comigo, pedirem uma opinião, uma orientação, eles simplesmente invadiam minha
sala de cirurgia. Os homens se sentem muito à vontade para ocupar um espaço que
acham que é deles e entravam na sala de cirurgia sem pedir permissão. Isso não
se faz! Tenho a impressão de que ver o sucesso de outro homem é natural, agora
quando a colega é uma mulher, isso provoca um incômodo”, pontua.
Atualmente, os cursos de medicina já são mais
frequentados por mulheres do que por homens, então em um futuro próximo, elas
serão maioria. O que resta saber é se terão o mesmo destaque que eles, se serão
vistas como referência, como uma participação especial em um congresso, como
especialistas em suas áreas. Em nível estrutural, Dra. Patrícia sugere que
existe algo a ser feito. “Congressos, por exemplo, poderiam convidar mais
mulheres para uma mesa de discussão, hospitais, universidades poderiam colocar
mais mulheres em posição de destaque”, diz.
Números são importantes, mas qualidade conta
bastante, sem falar na importância do exemplo. “Em minha formação foi
importante ver que tinham mulheres que estavam em carreiras bem-sucedidas e que
conseguiam conciliar com a família, que eu não precisaria renunciar a isso. Eu
acho que quando tivermos mais mulheres inspiradoras, outras vão poder chegar
lá!”.
A médica, que tem especializações em Barcelona e em
Nova York, finaliza falando do orgulho que sente da profissão: “As pessoas
banalizam um pouco a cirurgia plástica como algo puramente estético, mas além
da importância das cirurgias reparadoras, elas não dimensionam os benefícios
aos pacientes. Na frontoplastia, por exemplo, as pessoas chegam traumatizadas e
receber agradecimentos às lágrimas de que mudei a vida delas é muito
gratificante. O trabalho é duro, tem zero glamour, mas quando alguém diz que eu
mudei a sua vida, isso faz tudo valer a pena”, conclui.
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