Estudo avaliou a influência do microclima de Brasília
na qualidade de vida da população. Vegetação proporciona benefícios diretos em
áreas urbanas
A
capacidade das árvores de climatizar naturalmente áreas urbanas é um tema que
tem chamado cada vez mais a atenção de pesquisadores e urbanistas. No Distrito
Federal, a questão da arborização tem sido objeto de estudo para promover o uso
sustentável dos recursos naturais como políticas públicas. Estudante de
Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Júlia
Almeida mensurou as influências da microclimática da vegetação na escala
residencial de Brasília, comprovando o poder da vegetação na qualidade de vida.
A
estudante partiu da análise de elementos como a disposição da vegetação no meio
urbano e sua influência na temperatura e umidade relativa do ar. A metodologia
combinou revisão bibliográfica e estudo de campo em espaços com áreas verdes.
Para a aferição de temperaturas dos microclimas analisados, a estudante do CEUB
adotou as Superquadras 508 Sul, 308 Sul e 508 Norte, ambas localizadas no
centro de Brasília.
De
acordo com o estudo, na Superquadra 308 Sul a vegetação favorece a geração de
microclima no local devido à distribuição das árvores e jardins de maneira
uniforme. Na quadra, a relação é 59,11% de área permeável e 40,58% de área
arborizada. A temperatura fica entre 25,5 a 27ºC em agosto, contrastando com os
29 a 30ºC das superfícies pavimentadas. Em setembro, as temperaturas são mais
elevadas, de 30 a 32ºC na presença de vegetação e 32 a 34ºC nas superfícies
pavimentadas.
Já
na quadra 308 Norte, a distribuição da vegetação não é uniforme, a área
reservada para a vegetação é significativamente menor, agravada pelo percentual
de superfície impermeável, que favorece o surgimento das ilhas de calor. A
pesquisa concluiu que o problema está na má distribuição da vegetação nos
centros urbanos, a exemplo do Plano Piloto de Brasília. A Asa Sul conta com
maior quantidade de área verde, diferente da Asa Norte, com maior percentual de
área impermeabilizada.
Como
conclusão, nos espaços com mais vegetação, a temperatura tende a ser cerca de
2,5 a 3ºC mais baixa do que lugares expostos ao sol direto. “O planejamento
urbano é fundamental para que possamos priorizar a vegetação nos espaços. É
necessário plantar mais nas cidades de forma organizada, para que se possa
desfrutar do conforto térmico e todos os benefícios na geração de microclimas
agradáveis, “, completa Julía.
Ar-condicionado natural
Orientador
do projeto acadêmico, o professor de Arquitetura e Urbanismo do CEUB Dr.
Gustavo Cantuária, que pesquisa o tema dos benefícios da vegetação urbana a
mais de 25 anos, afirma que o refrescamento passivo das habitações pode ser
alcançado por meio do ar fresco, resultante de maneira natural do processo de
evapotranspiração, sem a necessidade de uso de ar-condicionado ou outros
elementos mecânicos. A vegetação, por sua vez, deve ser vista como um grande
ar-condicionado natural, eficiente e capaz de refrescar espaços constantemente.
“O
uso da vegetação como ar-condicionado natural não apenas evita o uso de
energia, mas contribui para a redução do aquecimento urbano, já que os
equipamentos mecânicos geram calor no ambiente externo. Portanto, a
incorporação da vegetação na área urbana é uma estratégia importante para
garantir a sustentabilidade ambiental e o conforto das pessoas”
Segundo
ele, uma árvore com folhagem encorpada pode refrescar como um ar-condicionado
em uso contínuo. Além disso, a copa da árvore oferece sombreamento, inibindo a
radiação solar direta no espaço abaixo dela. Os raios solares que batem na
vegetação são absorvidos pela folhagem, o que contribui para a fotossíntese e a
regulação da temperatura.
“Em
Brasília, onde as temperaturas são elevadas o ano inteiro e a seca dura seis
meses, esse processo de modificação do ar é altamente benéfico e necessário
para garantir qualidade de vida”, ressalta Cantuária. O urbanista do CEUB
considera que o planejamento urbanístico da cidade deve andar junto com a
natureza, plantando árvores ao mesmo tempo em que se constroem edifícios, para
garantir que o espaço urbano seja mais agradável.
Cenário nacional
De
acordo com a levantamento de arborização realizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), das capitais brasileiras, Goiânia é a cidade
mais arborizada, com 89,5% de vegetação presente, seguida de Campinas, com
88,4% e Belo Horizonte com 83%. Porto Alegre aparece em quarto lugar, com 82,9%
de arborização.Com 36,9% Brasília possui 200 espécies de árvores
catalogadas pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
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