É comum que todo início de ano o produtor rural
reavalie oportunidades de safra para os meses seguintes. Essa dinâmica traz
reflexos para toda a cadeia de fornecimento, o que, invariavelmente, torna-se
um ponto de atenção na gestão das esteiras de crédito.
O mercado brasileiro, em razão principalmente do
tamanho da sua produção agropecuária, conta com algumas particularidades em
relação a outros países no aspecto de crédito rural. Nos Estados Unidos, por
exemplo, o crédito vem do sistema bancário, em redes muito mais regionalizadas
e espalhadas por todo o território nacional. Já no Brasil, as opções de
financiamento via Bancos são insuficientes, e nem todos estão interessados ou
dispostos a fornecer crédito a todos os produtores. Historicamente, os recursos
oriundos do sistema financeiro para financiamento da agropecuária no Brasil
sempre foram insuficientes, o que proporcionou o surgimento do crédito
mercantil, ou seja, as próprias indústrias e revendas de insumos agrícolas
financiando a agropecuária através da venda de insumos a
prazo.
Considerando-se o crescimento constante da produção
agropecuária brasileira, intensificação de tecnologias e grande aumento dos
custos de produção nos últimos anos, em parte pelas consequências da pandemia,
guerra na Ucrânia e nossa própria inflação, observa-se um aumento significativo
na necessidade de recursos para custear a produção agropecuária em 2023. Os
limites de crédito atuais oriundos do sistema financeiro ou do crédito mercantil
não crescem no mesmo ritmo do aumento dos custos, principalmente por questões
técnicas relacionadas à metodologia de análise de crédito e pelo apetite de
risco dos emprestadores.
Para driblar esses desafios, as indústrias e
revendas de insumos agrícolas acabam assumindo o papel cada vez mais
protagonista de financiadoras do produtor rural, que além de fornecer
insumos e equipamentos para recebimento a prazo também estão buscando o mercado
de capitais para financiar suas vendas, com destaque especial para operações de
CRA, FIDCs e FIAGROs. Mas essa é uma atividade que pode ser muito onerosa e
arriscada, pois por vezes a análise e o monitoramento dos recebíveis não são
realizadas de forma adequada, acarretando em perdas que podem ser
desastrosas.
Não é demais dizer que tamanha responsabilidade
quando associada a um bom nível de profissionalização e entendimento de
princípios de gestão de riscos, de forma a garantir a maior segurança possível
na concessão de crédito, pode garantir um diferencial competitivo importante
para indústrias, cooperativas e revendas de insumos agrícolas, uma vez que o
crédito passa a ser um catalisador de vendas. As empresas que estão
encarando a profissionalização e digitalização de forma séria, conseguirão
obter resultados e crescimento potencial maiores, mesmo sendo o ano de 2023
mais desafiador que anos anteriores, vis a vis aumentos dos custos e redução
das margens de lucro de uma forma geral.
Além disso, essa profissionalização ajuda tanto as
empresas que desejam realizar operações de fusões e aquisições em 2023, quanto
aquelas que desejam manter-se independentes porém sustentáveis. Isso porque, em
média, 80% das vendas dessas empresas são à prazo, e em tecnologia e
profissionais capacitados, não estarão aptas a analisar tão rápida e
minuciosamente o risco desse crédito, absorvendo para si o perigo do prejuízo,
tendo como consequência perda de valor no caso de fusões e aquisições ou
colocando em risco sua própria existência no médio prazo.
Para 2023, um dos grandes desafios de qualquer
empresa que venda insumos para a agropecuária é tornar a esteira de
crédito o ponto central na estratégia de negócio, e isso vale também para
cooperativas, indústrias e outros atores do agronegócio, que não
necessariamente instituições financeiras, que assumem o importante papel de
financiadores da produção agrícola nacional.
O crédito passa a ser cada vez mais protagonista na
estratégia dessas empresas. E quem atua em tecnologia para crédito no agro tem
bastante orgulho de promover a transformação digital nessas empresas.
Capacitá-las para assumirem, de fato, papel estratégico no segmento e sustentar
o crescimento de forma saudável para todo o setor.
A área de crédito já não é mais aquela área antiga que está ali pra dizer não. O que a tecnologia de gestão de risco no crédito promove é a viabilização de mais vendas, para mais gente, com um crescimento acelerado dessas empresas, expansão geográfica da rede e das vendas… Com mais segurança, mais velocidade e menos burocracia.
Luís Eduardo Rebolo Lapo -
Diretor de Riscos e Operações Estruturadas da Traive Finance. Formado em
Engenharia agrícola pela Unicamp, possui mais de 15 anos de experiência no
mercado financeiro e gestão de riscos. Já atuou em empresas de consultoria com
foco em gestão de crédito e risos com foco no agronegócio. Atuou na
estruturação da área de crédito e garantias no início do Banco Original. No
Santander estruturou os processos e estratégias de crédito para o setor Agro,
além da gestão de todo o portfólio de empresas do varejo, operações
estruturadas, câmbio e derivativos.
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