Opinião
Nesta semana, a
Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados promoveu uma
audiência pública sobre a adoção do prontuário eletrônico e a transformação
digital na saúde.
A
deputada Adriana Ventura (Novo-SP), uma das autoras do pedido da
realização da audiência, destacou que o Brasil necessita avançar na
informatização dos serviços de saúde, e que a criação do prontuário eletrônico
único caminha nessa direção.
Em minha
participação na audiência, aproveitei a oportunidade para chamar a atenção para
a importância do empoderamento do paciente, com a centralização de informações
em um histórico clínico digital único que tenha a mesma relevância de um
documento de identificação. Destaquei, ainda, a necessidade de
interoperabilidade ampla, padrões abertos, segurança dos dados e vinculação das
informações aos sistemas existentes.
Hoje o monitoramento
de informações de gestão de saúde, para que se tenha um entendimento de quais
são os vazios assistenciais e o perfil epidemiológico da população, requer que
nós, em um esforço privado, tenhamos que integrar informações de mais de 40
sistemas públicos diferentes. Isso mostra uma falta de orquestração enorme em
torno do maior beneficiário da saúde: o paciente. Quando o paciente precisa
dessa informação, ela já percorreu tantas bases que os dados dificilmente são
confiáveis.
É essencial ter
acesso a uma colaboração participativa do Datasus, que possibilite a geração de
dados corretos para que ele mesmo possa gerir políticas públicas com mais
eficiência. A partir do momento que esses dados são gerados, em tempo real, de
forma concreta, é possível enxergar onde estão os gaps da alocação financeira
entre hospitais, Estados, Municípios e Federação, bem como do Ministério da
Saúde. Assim, em termos de políticas públicas, o que facilitaria seu
desenvolvimento seria, por exemplo, dentro do orçamento impositivo de Estados e
Municípios, garantir um mínimo de atendimentos realizados com base em
telessaúde – pelo menos 20% em atendimentos digitais ou em sistemas digitais.
Deve haver uma
garantia de investimento na revisão dos protocolos do Datasus para a
digitalização, em parceria, ou com a validação das sociedades médicas, pois os
protocolos de linhas de cuidado do SUS são muito bons, entretanto voltados para
o presencial. Dada a complexidade existente, seria possível simplificar a
execução e sofisticar o monitoramento de muitos processos, o que ensejaria uma
revisão de protocolos, tais como do câncer de mama, doenças raras ou aqueles
que geram maior custo para o SUS. O Datasus é um grande receptor, ou seja, um
grande Big Data para gerar as políticas públicas, entretanto, não consegue
receber os dados corretamente, sendo apenas um mostrador de dados.
É necessária uma
revisão da legislação do prontuário. A ideia de Open Health consiste em ter o
prontuário na mão do paciente. Contudo, as instituições têm receio de trocar
informações por falta de entendimento sobre a LGPD. As instituições de saúde
precisam entender mais sobre a LGPD. Se essas informações são sistematizadas, a
garantia à conformidade com a LGPD aumenta.
O ideal seria
termos como exemplo a legislação europeia para a proteção de dados. Por lá, os
dados são mantidos na origem, e há uma obrigação por legislação, de se manter
esses dados na origem por um longo período. Desse modo, é imprescindível que as
plataformas de telessaúde funcionem como um transportador seguro de dados,
conectando as pontas de forma segura, empoderando paciente, corpo clínico e
fonte pagadora, para que eles troquem dados, buscando as informações
necessárias à garantia da melhor assistência, logística e resolutividade, em
tempo real.
É fundamental, também, que haja protocolos e logística bem definidos, tais como melhoria do E-SUS e dos sistemas de internações hospitalar e ambulatorial. Precisa existir uma camada de sofisticação, que hoje pode ser feita por meio da digitalização. O problema é que quando não há digitalização, cada profissional lança informações diversas e desiguais em um texto livre no sistema, fazendo com que a informação gerada seja de baixa qualidade.
Em suma, há que se desenvolver políticas
públicas para a geração de dados na origem com mais qualidade, com conexão
segura das informações para quem efetivamente está empoderado a usá-las, seja o
paciente, seja o corpo clínico, seja a fonte pagadora – tendo como base o
prontuário. Com esses três entes conectados é possível gerar um modelo base de
Open Health. Isso tudo acompanhado e normatizado, dentro do Datasus,
possibilita a geração de um robusto Big Data, o que fomentaria o planejamento
de políticas públicas nos mais variados níveis da saúde no Brasil.
Jeff Plentz -
fundador da techtools health, empresa de tecnologia focada na transformação
digital na área da saúde.
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