● Entre 2006 e
2018, a alienação eleitoral cresceu quase 8% no caso da escolha do presidente
da República e 10% no processo de eleição de deputados federais
O número de eleitores brasileiros que não
comparecem às seções eleitorais somado àqueles que votam branco ou nulo –
fenômeno tecnicamente chamado de alienação eleitoral – vem crescendo a cada
eleição, nos últimos 15 anos. Apesar da obrigatoriedade do voto obrigatório e
do comparecimento às urnas no Brasil ainda estar em patamares considerados
saudáveis, na casa de 75%, a alienação eleitoral cresce de forma persistente
desde 2006, sobretudo entre o público jovem.
O alerta é do estudo A Alienação Eleitoral no
Brasil Democrático, que acaba de ser lançado pelo Instituto
Votorantim, com o objetivo de fornecer insumos para análise da participação dos
eleitores nos processos de votação. A iniciativa faz parte do Programa
Cidadania, criado pelo instituto em 2018 para fortalecer a cultura democrática
brasileira a partir do protagonismo cidadão, com atuação em temáticas
relacionadas à geração de conhecimento, inovação e fortalecimento de lideranças
e de organizações comunitárias que trabalham no tema.
De 2006 a 2018, ano das últimas eleições para o
legislativo e o executivo nacionais, a decisão de não votar ou optar pelo voto
branco ou nulo cresceu 7,86%, no caso da escolha do presidente da República e
9,99%, quando se trata da eleição de deputados federais.
Enquanto um a cada quatro eleitores brasileiros não
exerce o direito ao voto em pleitos presidenciais, nas eleições para governador
o número apresenta variação de 10%, e para o Senado a alienação eleitoral chega
ao total de 46,8% de votos válidos, ambos em relação a 2006 e 2018. O Sudeste é
a região com a maior taxa de alienação, chegando a 37,5% para eleições de
prefeitos em 2020. Segundo as análises do estudo, quanto mais distante do dia a
dia do eleitor e menos clara a função do cargo, menor o interesse do eleitor em
registrar seu voto.
Em regiões metropolitanas, por exemplo, a alienação
dos eleitores chega a ser 10% maior em pleitos estaduais/federais na comparação
com as eleições municipais.
Outros destaques
O estudo mostra que o público com menor engajamento
nas eleições são os jovens entre 16 e 24 anos. Nas eleições de 2018, por
exemplo, eleitores acima dessa faixa etária votaram quase duas vezes mais do
que os jovens.
O nível de escolaridade é a variável que mais
influencia o não comparecimento às urnas. Pessoas com Ensino Superior
compareceram três vezes mais às urnas em comparação com eleitores que possuem
apenas o ensino primário.
‘‘O estudo indica que, na média, o exercício do
voto pelos brasileiros encontra-se em um patamar saudável. Porém, o fato de a
alienação ser crescente e mais forte entre jovens reforça a necessidade de
fomentarmos a conscientização e a participação política, um movimento que vai
além das eleições”, diz Rafael Gioielli, gerente-geral do Instituto
Votorantim.
Outro ponto que influencia o desinteresse em
escolher representantes é a baixa identificação partidária do eleitor. Os dados
mostram que pessoas que se identificam partidariamente votam três vezes mais
nas eleições presidenciais e duas vezes mais nas eleições legislativas que os
eleitores sem nenhuma identificação ideológico-partidária.
A alienação eleitoral poderia ser ainda maior no
Brasil sem as urnas eletrônicas. Segundo dados analisados pelo estudo do
Instituto, a adoção da tecnologia de votação por meio do uso de teclados
simples reduziu de maneira relevante o número erros que resultavam na anulação
de votos. O sistema eletrônico contribuiu com uma queda de 42% dos votos nulos
e brancos em eleições presidenciais e de 57% em eleições para governos
estaduais entre 1994 e 2002, quando as urnas foram totalmente implementadas.
“Provavelmente, essa queda está relacionada à facilidade que a tecnologia
trouxe para o eleitor indicar seus candidatos, sobretudo para as populações
menos escolarizadas”, afirma Gioielli.
Para composição do estudo e análise comportamental
do eleitorado brasileiro, o Instituto Votorantim cruzou as bases de dados do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), desde 1992, e do Centro de Estudos de
Opinião Pública da Unicamp (Universidade de Campinas), desde 2002. O estudo foi
desenvolvido em parceria com Ivan Filipe Fernandes, professor doutor de
Políticas Públicas na Universidade Federal do ABC (UFABC), onde coordena o
Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, e pesquisador do Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), com apoio do cientista político
Caique Terenzzo.
A íntegra e o sumário executivo do estudo A Alienação
Eleitoral no Brasil Democrático estão disponíveis no site do
Programa Cidadania (https://www.programacidadania.org.br/alienacao-eleitoral/)
do Instituto Votorantim.
Instituto Votorantim
https://www.institutovotorantim.org.br/
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