Obstetra e paciente devem atuar juntos para obterem os melhores resultados, já que grande parte do tratamento da maior parte das doenças consiste numa mudança de estilo de vida para promoção da saúde integral da futura mamãe e de seu bebê
Por
que algumas mulheres têm dificuldade de engravidar? O que faz com que outras
cheguem a conceber – mas não levem a gestação além de algumas poucas
semanas?
A Obstetrícia – ciência médica responsável pela gravidez, parto e puerpério – está bastante evoluída para fornecer respostas a essas perguntas e, atualmente, sabe-se que o estilo de vida adotado pelas mulheres e homens que desejam ter um bebê interfere diretamente na possibilidade de o gerarem. Além disso, inúmeras doenças e disfunções são capazes de impedir que a gestação aconteça ou que, quando a concepção ocorra, o embrião não seja implantado ou mesmo não consiga se desenvolver. “Quando uma mulher tem dificuldade de engravidar, é preciso que se investigue logo o que está acontecendo. E se há uma perda gestacional, é fundamental que ela seja investigada imediatamente, na primeira vez que ocorre. Não se deve aguardar que aconteça um segundo aborto, até mesmo em respeito a essa família”, alerta a Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, membro do corpo clínico do hospital Albert Einstein.
Segundo a obstetra, algumas condições de saúde da mulher podem ser a causa de não haver a concepção, a não implantação do embrião ou a perda gestacional. Ela relata seis problemas bastante comuns, que chegam ao consultório corriqueiramente, e fala sobre diagnóstico e tratamento deles. “É fundamental ressaltar que boa parte deles tem, em comum, a mudança do estilo de vida como pilar do tratamento. Esse ponto merece atenção especial, então, deixei para abordá-lo em destaque, ao final do texto”, esclarece a especialista.
Abaixo,
Dra. Mariana Rosario elucida os seis problemas de saúde que dificultam a
gestação:
- Disfunções da tireoide – A tireoide é chamada de maestrina do metabolismo
porque ela produz os hormônios T3 e T4, que ajudam a regular a função de
diversos órgãos, como intestinos, cérebro, rins, fígado e coração. Em
desequilíbrio, esses hormônios atrapalham a gestação. Começando com o
hipertireoidismo, com a alta produção dos hormônios T3 e T4, o metabolismo
fica acelerado, bem como as funções corporais. Assim, muitas mulheres não
ovulam e têm a menstruação irregular ou suspensa – o que impede a
gestação. Se a gestação ocorre, pode haver alterações no feto ou aborto.
Portanto, é importante tratar o problema antes de engravidar ou, caso a
gestação aconteça, ter acompanhamento durante todo período. Existe uma
relação direta entre os hormônios da tireoide e os ovários. De forma mais
simples, a glândula hipófise, localizada no cérebro, estimula a produção
tanto dos hormônios dos ovários quanto dos da tireoide e os receptores
para os hormônios tireoidanos encontram-se justamente nos ovários. Assim,
quando faltam hormônios tireoidanos – condição causada pelo
hipotireoidismo – a ovulação é prejudicada e a gravidez pode não
acontecer. O bebê também precisa do hormônio T4 para se desenvolver
plenamente, então, é fundamental que a mãe tenha essa dosagem regulada no
seu organismo.
- FSH alto – FSH é a sigla para o hormônio folículo-estimulante,
uma substância que auxilia o ovário na produção de hormônios. Toda mulher
nasce com o número exato de óvulos que terá durante sua vida e, a cada
ciclo, libera os que serão fecundados e gerarão embriões ou, então, serão
expelidos na menstruação. Conforme os anos passam, a quantidade de óvulos
diminui e essa redução faz com que acabemos por produzir menos hormônios –
o que pode indicar a falência ovariana, o fim da idade reprodutiva. O
cérebro, então, turbina a produção de FSH. A ideia, com isso, é obter uma
resposta do ovário e estimulá-lo a produzir mais hormônios. Então, quando
o exame da Tentante mostra o TSH alto, ela se preocupa porque sua reserva
ovariana pode estar baixa. Para as Tentantes, trata-se de uma situação que
gera bastante preocupação, afinal, não é possível recuperar os óvulos que
já se esgotaram. Porém é possível, com cuidados corretos, melhorar a
qualidade dos óvulos e da ovulação e baixar o FSH – e isso tem a ver com
mudança no estilo de vida.
- Hiperestrogenismo – O estradiol é um hormônio que, produzido pelos ovários, pela glândula adrenal e pela placenta (neste caso, durante a gravidez), tem imenso impacto no bem-estar e na saúde da mulher, em todas as fases da sua vida. E o que o estradiol alto tem a ver com a infertilidade? Bem, o estradiol é o antagonista da progesterona, ou seja, onde sobra estradiol, falta progesterona ou se cria uma resistência à progesterona. E, sem progesterona, não há gravidez. Portanto, quando o estradiol está muito alto (hiperestrogenismo), existe a dificuldade em engravidar. O tratamento inclui mudanças no estilo de vida e, em casos extremos, adoção de implantes hormonais pode ser necessária.
- Trombofilia – A trombofilia, de forma simplificada, é a formação de
um coágulo que percorre a corrente sanguínea e, ao se deparar com um vaso
mais estreito, o ‘entope’ e causa a interrupção da passagem do fluxo
sanguíneo. Essa condição pode ser bastante grave, porque o sangue carrega
oxigênio e alimenta o organismo. Na Obstetrícia, a trombofilia está ligada
à morte placentária, que é quando o coágulo interrompe a alimentação do
bebê porque bloqueou os vasos da placenta. A trombofilia pode ser
classificada como hereditária ou adquirida. No último caso, ela está
ligada a um problema chamado de Síndrome Antifosfolípide (SAF), síndrome
que altera os vasos do útero que deveriam ser responsáveis pela
implantação do embrião. A trombofilia pode levar ao óbito fetal, mesmo em
fetos com mais de dez semanas e de desenvolvimento normal; abortamentos
precoces sem razão aparente e parto prematuro antes de 34 semanas, muitas
vezes com pré-eclâmpsia. Para saber se há predisposição ao problema, é
necessário fazer alguns exames laboratoriais. Neles, é feita a detecção
dos anticorpos antifosfolípides. No caso de exame positivo, a gestante ou
tentante entra em um processo de tratamento preventivo. Essa é uma maneira
de preservar tanto a mãe quanto o bebê que está por vir! Esse é um dos
únicos quadros que, diretamente, independe da mudança do estilo de vida da
paciente para que se obtenham ganhos consideráveis no tratamento.
- Endometriose – A endometriose é uma inflamação sistêmica, que pode
interferir em diversas etapas do processo de fecundação e implantação do
embrião. A doença também altera a anatomia do sistema reprodutor, já que
pode estar presente nos ovários, tubas uterinas, útero e outros órgãos.
Além disso, a inflamação sistêmica libera substâncias capazes de
interferir no sistema imunológico, dificultando ainda mais todo o
processo. O tratamento da endometriose começa na mudança do estilo de
vida.
- SOP – Síndrome dos Ovários
Policísticos – Esse termo,
conhecido por muitas mulheres, refere-se a um ‘conjunto de sinais e
sintomas (síndrome)’ que inclui cistos nos ovários. Mas não basta
apresentar cistos para que uma mulher seja diagnosticada com SOP: para que
se feche o quadro, é necessário que se apresentem alguns sintomas como
menstruação irregular ou inexistente (o principal sintoma); resistência à
insulina ou diabetes; pelos em locais pouco comuns do corpo (como costas e
rosto); acantose nigricans (manchas escuras pela pele); problemas de pele
e queda de cabelos. O tratamento se inicia pela adoção de dieta e
exercício físico. Não existe tratamento de SOP sem essas duas
‘estratégias’. Depois, se há resistência à insulina, o médico deve avaliar
se existe a necessidade do uso de medicação para o quadro. Por fim, entra
a suplementação – e existe muita novidade nessa área.
Por que a mudança do estilo de vida é tão importante para quem tenta engravidar
Os casais Tentantes (mulheres e homens) devem ter como fundamento que a mudança de estilo de vida faz com que óvulos e espermatozoides mais saudáveis geram embriões com melhores condições – e, consequentemente, bebês muito mais saudáveis.
No caso das mães, além disso, preparar o organismo para a gestação significa que ela será levada do começo ao fim com mais disposição, saúde e segurança, tanto para ela quanto para o seu bebê. “Já se sabe que filhos de mães obesas desenvolvem obesidade e diabetes quando adultos, bem como os das mães desnutridas. E que conseguimos mudar a ocorrência de doenças crônicas que nossos filhos poderão ter a partir dos hábitos que desenvolvemos hoje”, alerta Dra. Mariana.
É por isso que, em todo o mundo, preconiza-se o preparo de um ano para a mulher engravidar. “Nesse período, é possível investigar doenças existentes e tratá-las, adotar a suplementação adequada, acertar dieta e atividade física, verificar a qualidade do sono e a saúde intestinal, pilares para a boa saúde do casal, sendo a do pai até a concepção e a da mãe, até o puerpério”, enfatiza a médica.
Ela comenta que a SOP, endometriose, disfunções da tireoide, hiperestrogenismo e FSH alto, por exemplo, não são tratados sem a adoção de dieta equilibrada, adoção de atividade física, ajuste nas atividades intestinais, equilíbrio do sono e suplementação específica para cada caso. “Ainda que, em alguns casos, essas patologias exijam intervenção medicamentosa, nenhuma delas se resolve sem que esses ajustes sejam realizados. E alguém dificilmente engravidará sem que haja o equilíbrio desses elementos”, explica a médica.
Portanto,
fica o último conselho da especialista: “quem pretende engravidar pode, por
conta própria, iniciar ajustes em sua alimentação, cortando alimentos
prejudiciais à saúde e investindo em frutas, verduras, legumes, carnes magras e
alimentos saudáveis, com muitas fibras, água e redução de açúcar, lactose e
glúten. Tudo isso também ajudará o intestino. Também deve buscar a prática de
atividade física diária, sem desculpas. Com essas atitudes, naturalmente o peso
tenderá a se estabilizar. Depois, dedicar-se a dormir bem, evitando eletrônicos
duas horas antes de ir para a cama. A suplementação deve ser realizada sob
orientação médica, então, é preciso marcar uma consulta com especialista. Mas é
possível iniciar o processo já!”, finaliza.
Dra. Mariana Rosario – Ginecologista, Obstetra e Mastologista. CRM- SP: 127087. RQE Masto: 42874. RQE GO: 71979.
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