Produção de exames para o diagnóstico de doença que causa cegueira sobe
em 2022 e supera nível pré-pandemia, aponta o CBO
Dados levantados
pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia apontam retomada dos cuidados voltados
ao diagnóstico do glaucoma, problema responsável pelo maior número de casos de
cegueira evitável no Brasil e no mundo. Durante todo o mês de maio, a entidade
tem impulsionado ações para reforçar a importância do diagnóstico e tratamento
precoce da doença.
Superada a emergência epidemiológica
provocada pela covid-19, o Sistema Único de Saúde (SUS) começa a sentir os
efeitos da retomada na rotina de consultas, exames e procedimentos
oftalmológicos. Parte desse movimento resulta da necessidade de atender
demandas represadas durante a pandemia. Um bom exemplo desse fenômeno foi
apontado pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), que observou alta no
número de exames voltados ao diagnóstico do glaucoma no primeiro trimestre de
2022. Os dados extraídos da base oficial do Datasus apontam um crescimento de
28% no volume de procedimentos, em comparação ao mesmo período de 2021.
De acordo com os números analisados
pelo CBO, no País, foram realizados 1.248.579 exames para identificar o
glaucoma no primeiro trimestre de 2022. O número é maior que os registros
realizados no mesmo período dos anos 2019, 2020 e 2021. Na avaliação dos
especialistas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, esse quadro sugere que a
rede pública tem sido acionada para atender as demandas represadas nas fases
mais críticas da pandemia, superando, inclusive, o desempenho registrado antes
da chegada do SARS-CoV-2 ao Brasil.
Doença -- O
glaucoma é a principal causa de cegueira evitável no mundo. O problema surge em
consequência do aumento da pressão intraocular e a perda da visão ocorre pela
destruição gradativa do nervo óptico, estrutura que conduz as imagens da retina
ao cérebro. Para o presidente do CBO, Cristiano Caixeta Umbelino, os exames
para aferir a pressão intraocular devem estar na agenda de cuidados clínicos de
os brasileiros.
“O glaucoma é uma doença silenciosa e
progressiva. Por isso, reforçamos a importância da realização precoce dos
exames para o seu diagnóstico. Embora não tenha cura, o acompanhamento
oftalmológico já nas fases iniciais pode garantir o seu controle e livrar o
paciente de um quadro de cegueira permanente”, alerta o presidente do CBO.
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia
avalia que haja cerca de 1,5 milhão de pessoas com glaucoma no Brasil. No
entanto, lembra o presidente da entidade, existe um grande contingente de casos
que não foram ainda diagnosticados. No mundo, estima-se que, em 2020, haviam 80
milhões de pessoas com glaucoma instalado. Uma projeção da Associação
Internacional de Prevenção da Cegueira (IAPB, do nome em inglês) indica que o
total de pacientes com essa doença chegará a 112 milhões até o ano de 2040, em
todo o mundo.
Dados absolutos
- No primeiro trimestre de 2019, antes da chegada do coronavírus, o banco de
dados do SUS registrou um total de 990.124 exames relacionados à doença. Em
2020, no mesmo período, observava-se uma tendência de aumento nos cuidados
relacionados ao glaucoma, com crescimento de 6,6% em relação ao mesmo período
do ano anterior. No entanto, ainda em março daquele ano, a crise sanitária no
Brasil interrompeu a evolução positiva dos números e, em 2021, os registros
apontam o pior desempenho para um primeiro semestre desde 2019.
Estados e regiões
-- Ao analisar a distribuição geográfica dos exames para
glaucoma realizados nos primeiros trimestres dos últimos quatro anos, é
possível verificar que a melhora da cobertura em 2022 se estende a todas as
regiões do País. Em números absolutos, com o melhor desempenho registrado no
primeiro trimestre de 2022, o Sudeste contabilizou 562.699 exames, número 22%
maior que o realizado no mesmo período do ano anterior (459.711).
O segundo melhor desempenho dentre as
regiões ocorreu no Nordeste, que somou 288.452 exames nos primeiros três meses
deste ano, com aumento de 34% na produção. Em seguida, vieram o Sul, o
Centro-Oeste e o Norte. Confira os detalhes desse ranking a seguir.
Já os estados que lideraram a produção ambulatorial no primeiro trimestre de 2022, em termos absolutos, foram São Paulo (377.114), Pernambuco (167.357) e Rio Grande do Sul (117.052). Em contrapartida, aqueles que obtiveram os desempenhos menos expressivos no mesmo período foram Mato Grosso (962), Roraima (1.006) e Distrito Federal (1.204).
Todas as unidades federativas do País
tiveram variação percentual positiva no comparativo entre os três primeiros
meses de 2021 e 2022, com exceção do Distrito Federal (-22%), Amapá (-17%) e
Rio Grande do Norte ( -13%), como mostra a tabela a seguir.
Registros - Dentre os procedimentos clínicos mais recorrentes para o diagnóstico e tratamento do glaucoma na rede pública, o mapeamento de retina ganha destaque, sendo o responsável por mais de 85.7% de todos os registros. No entanto, o exame que mais teve alta proporcional no comparativo entre 2021 e 2022 foi a tomografia de coerência óptica, com variação positiva de 88%.
Na avaliação do CBO, o aumento na
procura por cuidados relacionados ao glaucoma é fruto das ações de
conscientização realizadas nos últimos anos. “A cada ano, inclusive durante a
pandemia, dedicamos o mês de maio à intensificação de ações de conscientização
acerca do glaucoma. Além de uma ameaça direta à visão, essa é uma doença
silenciosa, por isso investimos em medidas educativas para que cada vez mais
brasileiros possam entender a importância do diagnóstico e tratamento precoce
desse problema”, alerta Cristiano Caixeta, presidente da entidade.
24h pelo Glaucoma
-- A divulgação desses dados pelo Conselho Brasileiro de
Oftalmologia (CBO) ocorre pouco após a realização da campanha 24 Horas pelo
Glaucoma, que essa entidade organizou em parceria com a Sociedade Brasileira de
Glaucoma (SBG), com foco no diagnóstico e no tratamento precoces dessa doença
ocular.
No último sábado (21), ocorreu o ponto
alto da campanha, com a realização de uma maratona de atividades nas redes
sociais da entidade. Nesta data, por meio do canal no Youtube do CBO, foram
transmitidas reportagens em vídeo, entrevistas com especialistas e
esclarecimentos sobre uso de medicamentos, realização de tratamentos e formas
de acesso ao atendimento no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
O projeto contou com o engajamento
solidário de várias personalidades da mídia, com o apoio de nomes como os dos
cantores Almir Sater e Carlinhos Brown, dos atores Caco Ciocler e Tony Ramos,
das atrizes Beth Goulart e Maria Clara Gueiros, e da empresária Luiza Helena
Trajano. A campanha também recebeu o apoio de diversas entidades públicas e privadas
ao redor do País, que iluminaram prédios, pontos turísticos e monumentos
históricos em verde, como forma de alertar sobre os riscos da doença e a
importância dos cuidados precoces.
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