Administrador
André Massaro alerta sobre as táticas aplicadas pelas quadrilhas, que prometem altos
ganhos às pessoas que aderirem ao "negócio"
Promessas de rentabilidade atraente, lucros altos e
garantias de retornos rápidos e acima da média do mercado vêm atraindo cada vez
mais pessoas em falsos investimentos de pirâmides financeiras que, na verdade,
nada mais são do que um golpe.
Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em
2020 houve um aumento de 75% na incidência de pirâmides em relação ao ano
anterior, o que representa 325 comunicados enviados aos Ministérios Públicos
Federal e Estaduais. Consequentemente, nos últimos anos, as notícias de
quadrilhas sendo desarticuladas em operações policiais por conta da prática
estão bem mais frequentes.
As pirâmides financeiras, de acordo com o
administrador André Massaro, coordenador do Grupo de Excelência em
Administração Financeira – GEAF, do Conselho Regional de Administração de São
Paulo – CRA-SP, muitas vezes são disfarçadas por seus autores de investimentos,
vendas diretas ou arranjos comerciais e prometem uma remuneração alta para os
investidores que aderirem ao esquema e, ainda, levarem mais pessoas para o
modelo de negócio.
“Já houve algumas pirâmides famosas de serviço de
telefonia, de alarme de carro, cosméticos, produtos de limpeza, entre outras.
Quando a pirâmide é baseada em produtos, eles viram um veículo para o
investidor transferir dinheiro entre os níveis. Um exemplo hipotético é a
pirâmide disfarçada de um esquema de vendas diretas de cosméticos. A pessoa tem
que comprar os produtos para revender e os acumula em casa. Na prática, a
maioria das pessoas nem consegue vender esses cosméticos e pagam caríssimo. É
algo um pouco contrassenso, pois nas vendas diretas o preço é mais caro do que
em farmácias e supermercados. O valor é maior exatamente porque o produto é um
mero veículo para transferência de dinheiro dos níveis mais baixos da pirâmide
para os mais altos”, explica Massaro.
Geralmente, os esquemas de pirâmides se expandem e
se tornam mais populares em momentos em que a economia está em crise, pois é
uma situação propícia para fazer promessas de ganhar muito dinheiro e convencer
as pessoas a entrarem no esquema. “Durante a fase aguda da pandemia, por
exemplo, muitas pessoas fecharam suas empresas, perderam o emprego e não tinham
mais renda. Então, elas começam a querer dinheiro de todo jeito e algumas, em
estado de verdadeiro desespero, se tornam vítimas em potencial dos criminosos,
que são especialistas em montar esse tipo de esquema, sempre disfarçando a
pirâmide de alguma outra coisa”, comenta o coordenador do GEAF.
Como identificar que é um golpe?
Para Massaro, existem várias formas de identificar
se o convite para aderir à pirâmide é um golpe. A primeira delas é analisar o
tamanho da promessa. Para exemplificar, ele cita a pirâmide que se apresenta
como oportunidade de investimentos, que tipicamente acena com possibilidades de
retorno. No entanto, no mundo dos investimentos, seja em um banco ou uma
corretora de valores, não há promessa de retorno de valores, afinal, as
restrições regulatórias do mercado financeiro não permitem que se fale nisso.
“Então, quando mencionam explicitamente retorno,
algo como “ganhe 5%, 10% ao mês”, já é um sinal amarelo. Se falam de um retorno
muito alto já é um sinal vermelho. Basta comparar com outros investimentos no
mercado financeiro: quantos porcento está um título de banco ou um fundo de
investimento? Se a promessa for algo muito acima disso, já é algo suspeito. É
natural ter aplicações um pouco mais agressivas e que rendem acima da média,
mas quando está exageradamente a mais, está claro que tem alguma coisa errada”,
esclarece o administrador.
Outra forma de identificar é pela comunicação, pois
esses esquemas de pirâmide têm um tipo de abordagem muito característico. “Eles
fazem uso intenso de sinais visuais para despertar o desejo das pessoas. Usam
muito material de mídia, vídeo e fotos associadas à riqueza, como mansões,
carros de luxo e viagens paradisíacas, sempre sugerindo que você vai ficar
rico, o que realmente mexe com a ambição das pessoas. Por isso, esse tipo de
comunicação voltada para o emocional é outro sinal claro de pirâmide”, elucida
Massaro.
Como evitar que outras pessoas sejam vítimas?
O administrador, que há muitos anos também atua
como educador financeiro, revela que já fez vários trabalhos voltados ao tema
para evitar que mais pessoas caiam nesse tipo de golpe. Porém, percebeu que
grande parte das vítimas acredita nessas promessas simplesmente porque quer
arriscar, mesmo tendo muitos especialistas alertando sobre o perigo.
Por esta razão, ele afirma que é importante ouvir o
que os educadores estão dizendo em vez de dar atenção às promessas dos
“arquitetos de pirâmides”, que são mestres no discurso persuasivo. “Nós,
profissionais, temos que avisar e deixar recursos acessíveis para a pessoa
saber que tem como identificar uma pirâmide e quais são os sinais suspeitos.
Mas cabe a pessoa que recebe a oferta, mesmo que esteja no desespero, não se
encantar com os discursos de que seu dinheiro vai dobrar a cada mês. É muito
importante pesquisar antes e desconfiar se não é um golpe, para não “cair na
real” só depois de aderir ao negócio”, orienta.
Além disso, um dos requisitos da pirâmide é de que
o participante traga outras pessoas. Ao tentar convencê-las de entrar no
esquema, ele se torna cúmplice de uma fraude. “Muita gente que entra em uma
pirâmide deliberadamente acaba levando outras pessoas. Isso é algo que jamais
deve ser feito, para que não haja mais vítimas”, afirma Massaro.
O que as vítimas devem fazer?
Vale recorrer às autoridades, mas é preciso ter
ciência que é difícil resgatar o valor investido, uma vez que a maioria das
pirâmides é criada por quadrilhas especializadas, que já têm meios de ocultar
esse dinheiro enviando-o para fora do Brasil. Com isso, as chances são remotas.
Às vezes, um valor ínfimo é recuperado, mas raramente é o suficiente para pagar
todos os envolvidos no esquema.
Para se ter uma ideia, segundo uma pesquisa da
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), do Serviço de Proteção ao
Crédito (SPC) e do Sebrae, cerca de 11% dos brasileiros já caíram em golpes
financeiros. Desses, 55% foram atraídos por esquemas de pirâmides. Entre os que
entraram no negócio, 66% não conseguiram reaver os valores.
“Lamentavelmente, a história mostra que a maioria
das pessoas envolvidas em pirâmide não recupera o dinheiro, uma vez que as
chances de perdas são muito grandes. É possível tentar entrar com um processo
contra a empresa que fez a pirâmide, mas como essas organizações são mal
intencionadas desde o início, quando o esquema explode elas desmontam tudo e,
daqui cinco anos, voltam com outro nome”, conclui Massaro.
André Massaro - Graduado em Administração e pós-graduado em Economia, Massaro é autor,
consultor, professor e palestrante especializado em finanças, investimentos,
economia, pensamento crítico e tomada de decisões. Publicou diversos livros
sobre investimentos e finanças e é autor/editor do blog www.andremassaro.com.br .
CRA-SP - O Conselho Regional de Administração de São Paulo – autarquia federal
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