Há não muito tempo comentei nesta
coluna como a igualdade de gênero no mercado de trabalho tem se mostrado ainda
mais fundamental nos últimos anos, visto que a pandemia evidenciou -- o que
convenhamos já era óbvio -- que foram as mulheres que mais acumularam tarefas
com a reconfiguração dos modelos de trabalho, tendo que lidar com os cuidados
em casa, com filhos, idosos e outros parentes, assim como grande parte dos
afazeres domésticos e, claro, ser uma exímia profissional.
Além da disparidade salarial entre os
gêneros, da falta de planos de carreira para o sexo feminino e do acúmulo de
funções que certamente impactam o nosso desempenho, também nos deparamos com os
desafios da maternidade na vida e na carreira das mulheres. A jornada dupla de
mãe e profissional é algo que permeia e aflige o imaginário de muitas colegas.
Por vezes, somos colocadas em posição de escolher entre um e outro, uma vez que
para muitos não há possibilidade de desempenhar as duas funções de forma
plenamente satisfatória.
E o resultado desse cenário? Apenas
54,6% das mães de 25 a 49 anos que têm crianças de até três anos em casa estão
empregadas, segundo o estudo Estatísticas de Gênero, divulgado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado. Outro
levantamento, este da Catho, destaca que 30% das mulheres deixam o mercado de
trabalho para cuidar dos filhos, enquanto que entre os homens, essa proporção é
quatro vezes menor, de 7%.
Por mais que a sociedade tenha evoluído
para garantir que mulheres tivessem mais direitos, como a licença-maternidade
remunerada, o proibimento da demissão durante o período gestacional,
assistência médica e sanitária às gestantes, fica claro que ainda não é o
suficiente. Sem contar que alguns desses avanços, muitas vezes, não funcionam
na prática, já que pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta
que 50% das trabalhadoras que tiram licença-maternidade são demitidas em
aproximadamente 24 meses.
Assim como falei em meu texto publicado em março, as empresas têm um papel fundamental para nos ajudar a mudar este cenário. Como? Alçando mulheres com esse perfil a cargos de liderança, e digo isso por experiência própria. Até a minha chegada na eNotas em 2020, não havia mulheres em cargos de liderança e menos ainda mulheres com filhos. É difícil para qualquer gestão entender como lidar com esse perfil de colaborador se não há nenhum em seu time.
Por mais que gestores tranquilizem as funcionárias que vão lidar com a maternidade, algumas mães ainda se sentem pressionadas e, a meu ver, isso se dá por uma questão cultural, pois nesses casos mesmo que as pessoas reforcem nossas capacidades, nos cobramos não apenas no trabalho, mas também em casa. Tudo tem de ser impecável, filhos, casa, trabalho, todos perfeitos.
Assim que assumi à frente do departamento de Marketing, fiz questão de levantar essa bandeira e mostrar o quanto perdemos ao deixar mulheres de fora do nosso radar, em especial às que lidam com a maternidade, que traz responsabilidades e competências que podem e devem ser melhor aproveitadas pelas empresas. Estar em um cargo de liderança implica em muitas questões, entre elas garantir que o ambiente de trabalho seja diverso, justo e receptivo para todos os colaboradores -- Empatia é a palavra. E, para colocar-se no lugar do outro, compreender sua realidade, dificuldades e propor melhorias, precisamos estar minimamente por dentro dessa realidade.
Hoje, entre nossas colaboradoras, temos
11 mães e três gestantes, e ainda há um longo caminho a percorrer. Contudo,
acredito que estamos no percurso certo, já que passamos a atrair e reter
talentos com esse perfil. Para garantir a permanência dessas colaboradoras,
algumas ações foram essenciais, como oferecer auxílio creche,
licença-maternidade estendida e flexibilidade no trabalho, sejam opções de
trabalho remoto ou flexibilidade de horário. Esses são fatores que fizeram e
fazem a diferença para nós e que, sem sombra de dúvidas, serão bem recebidos na
sua empresa.
Daniella Doyle - head de Marketing da eNotas.
Graduada em Jornalismo e também em Publicidade e
Propaganda pela PUC Minas.
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