No Mês da
Conscientização das Doenças Inflamatórias Intestinais, especialistas alertam
para a importância de uma alimentação saudável para o sistema gastrointestinal
Para colorir o mês de maio e marcar o World IBD
Day (Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal, celebrado em 19
de maio), a campanha de conscientização Maio Roxo, encabeçada pelas Associação
Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), e Sociedade
Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e Grupo de Estudos da Doença Inflamatória
Intestinal do Brasil (GEDIIB), visa conscientizar e alertar a sociedade para
importância de diagnóstico precoce e tratamento dessas doenças. Segundo dados
da SBCP, as doenças inflamatórias intestinais (DII) atingem mais de 5 milhões
de pessoas em todo o mundo e a incidência média fica em torno de 7 para cada
100 mil habitantes, constatando progressivo aumento na ocorrência de novos
casos.
As DII são divididas em dois subtipos: colite
ulcerativa com acometimento, principalmente do cólon, e Doença de Crohn, que
pode afetar qualquer região do trato gastrointestinal. As pessoas comumente são
acometidas por esses males no início da idade adulta, mas é possível ocorrer em
qualquer fase da vida. Nos últimos anos, a prevalência tem aumentado, atingindo
desde crianças até idosos. A causa é multifatorial e engloba fatores genéticos
e ambientais, como o estilo de vida ocidentalizado, incluindo padrão alimentar
caracterizado pelo alto consumo de proteínas e gorduras saturadas e baixa
ingestão de vegetais, frutas e fibras que favorecem o ambiente pró-inflamatório,
além de fatores como urbanismo, melhoria da higiene, aumento do uso de
antibióticos e ingestão de anticoncepcionais orais. Todas essas condições
interferem na microbiota do corpo como um todo, afetando as defesas naturais.
Eixo Cérebro-Intestino
A regra é clara: quem nunca sentiu dor de barriga
em momentos de ansiedade ou estresse? Não é coincidência, visto que o cérebro e
o sistema digestivo estão estritamente interligados. No intestino, estão
presentes bactérias que compõem a “microbiota intestinal”. Os tipos e as
quantidades desses microrganismos são influenciados pelo padrão alimentar,
visto que os produtos da digestão interagem com essas bactérias, fazendo com
que produzam substâncias que interferem em vias sistêmicas do corpo, inclusive
as relacionadas às funções cerebrais, como é o caso do triptofano. O
triptofano, por sua vez, é o aminoácido precursor da serotonina, ou seja, é
necessário para que tenha a formação e a liberação desse hormônio, o qual está
relacionado com o bem-estar. Por isso, as emoções influenciam na sensação geral
de prazer, bem como a alimentação impacta a saúde cerebral.
Alimentando as boas bactérias intestinais: o que
pôr à mesa
A alimentação saudável, tanto do ponto de vista
qualitativo quanto do ponto de vista quantitativo, auxilia na prevenção e no
tratamento das DII. A analista de P&D da Jasmine Alimentos, Erika Rodrigues
explica que devemos priorizar a tradicional comida de verdade. “A base dessa
alimentação deve conter verduras, como folhas em geral, alface, rúcula, agrião,
legumes como, por exemplo, abobrinha, brócolis e couve-flor e frutas. As
oleaginosas como, por exemplo, castanhas-do-pará, castanha de caju e amêndoa
também são muito importantes. As sementes de abóbora, de gergelim, de linhaça e
os grãos e cereais integrais como arroz integral, quinoa, aveia são
indispensáveis. As leguminosas, ou seja, feijão, lentilha e ervilha e as fontes
de proteínas com quantidades menores de gorduras saturadas, como peixes e ovos
complementam o que chamamos de comida de verdade”, diz.
Essa base de alimentação possui nutrientes e
compostos bioativos que atuam diretamente na inativação de vias
pró-inflamatórias, assim como na redução de substâncias relacionadas à
inflamação, contribuindo para o controle da dor, cicatrização e reparação da
mucosa. Ainda, atuam como pré e probióticos, proporcionando e preservando uma
microbiota saudável, ou seja, crescimento e desenvolvimento de bactérias
benéficas para a saúde intestinal.
Outro nutriente relevante é a fibra, visto que a
ingestão adequada deste nutriente colabora com a redução do risco das DII a
longo prazo. Esse nutriente está presente em frutas, verduras, legumes,
leguminosas, grãos e cereais integrais, além de sementes de linhaça e de chia.
“Em relação aos compostos bioativos, sabe-se que o
polifenol e suas classes flavonóides, estilbenos, ácidos fenólicos e lignanas
têm propriedades anti-inflamatórias e podem reduzir o estresse oxidativo
decorrente de patologias, podendo contribuir para a melhoria dos sintomas das
doenças inflamatórias intestinais. Em outras palavras, priorize o consumo de
vegetais e frutas como cebola, brócolis, alho e frutas vermelhas que possuem
ação antioxidante e efeitos anti-inflamatórios”, detalha a nutricionista e
consultora da Jasmine Alimentos, Adriana Zanardo.
Por fim, cabe ressaltar que os alimentos de
coloração vermelha e roxa como uva, morango, framboesa, mirtilo, açaí, goji berry
e cranberry
também têm propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. “Uma dica
imprescindível é o consumo do açafrão, também conhecido como cúrcuma. Seu uso
diário foi relacionado com a remissão clínica da colite em pacientes que
mantiveram o tratamento medicamentoso indicado para o quadro”, explica
Adriana.
O que não comer para o intestino inflamado
O ômega-6 é a família de ácidos graxos que, ao
contrário do ômega-3, possui ação pró-inflamatória quando ingerido em
quantidades elevadas, estando presentes em óleos vegetais e margarina. Segundo
estudos, o risco de desenvolver colite ulcerativa é duas vezes maior em
pacientes com alta ingestão de ômega-6.
Ainda, a sucralose, sacarina, aspartame, ciclamato
e outros adoçantes artificiais podem aumentar o risco de DII. Da mesma forma,
emulsificantes também podem aumentar o risco de desenvolvimento de colite
devido à alteração da microbiota e da mucosa intestinal, com possível
supercrescimento de Escherichia coli e proteobactérias,
que, consequentemente, aumentam a inflamação e danos intestinais.
SOS: fase de ativação da doença
“Quando o portador de DII estiver com a doença
ativa, deve-se pensar em quais são os sintomas predominantes para que a dieta
seja ajustada de forma a contribuir com a diminuição dos mesmos. De modo geral,
o raciocínio é pensar nos alimentos que têm fácil digestibilidade para não
demandar tanto do trato gastrointestinal, considerando que já está
consideravelmente inflamado em decorrência da doença. Pensando nisso, alguns
alimentos, apesar de serem saudáveis, podem ser reduzidos por um período até o
restabelecimento da homeostase intestinal”, explica a nutricionista e
consultora da Jasmine Alimentos.
Os alimentos fermentáveis, oligo, di,
monossacarídeos e polióis possuem carboidratos de cadeia curta que são mal
absorvidos e podem desencadear inchaço abdominal, dor, flatulência e diarreia.
Esses alimentos são: cebola, alho, ervilha, beterraba, couve, milho,
couve-flor, maçã, pera, manga, melancia, pêssego, ameixa, abacate, leite de
vaca, queijo fresco, ricota, feijão, grão-de-bico, soja, trigo, centeio,
castanha de caju, pistache e industrializados com xarope de milho, glicose,
sacarose e polióis (xilitol, manitol e sorbitol). Estudos apontam que 50% das
pessoas que tiveram redução do consumo desse grupo de alimentos apresentaram
melhora dos sintomas.
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