Recentemente
experimentei o fenômeno de trashing que é o lado sombrio da sororidade. Eu tive
o meu trabalho questionado por uma mulher feminista que denunciou meu perfil em
um grupo feminista me acusando de ser opressora, sexista e gordofóbica e
incentivou um cancelamento em massa do meu perfil apenas por eu não compactuar
com a ideia do feminismo radical de que a exposição do corpo é algo negativo
para o movimento feminista.
Entendo
as ideias que estão por trás disso e são muito legítimas, mas tenho o direito
de discordar, agora o que é injustificável é você impor uma ideia para outra
pessoa através do fenômeno da detonação.
“Ah
então porque você não pensa como eu eu vou comentar em todas as fotos do seu
perfil para te expor e falar como você é uma falsa feminista”. Aliás esse
diálogo de diferenças de contrapontos seria plenamente possível se ao invés de
me expor a pessoa quisesse construir um diálogo comigo no privado, sem me expor
e tentar destruir minha credibilidade para os meus seguidores, familiares,
amigos e clientes.
Isso
foi doloroso, porque já fui atacada por mulheres que não compactuam com o
feminismo, mas pela primeira vez fui atacada por mulheres feministas. O foco
não deveria ser esse, deveríamos buscar o diálogo, a união e o respeito,
não imposição de saberes e julgamentos.
Também
é importante falar sobre o que é esse fenômeno de detonação e como muitas vezes
ele é usado por pessoas com ideais progressistas, mas que na realidade se
transformam na ideia do oprimido imprimindo as próprias ações dos opressores.
Detonação
não é discordar de uma ideia é uma forma particularmente cruel de assassinato
de reputação - é o “só porque você me bloqueou porque eu estava sendo
inoportuna e inconveniente no seu perfil vou te detonar, vou jogar o seu ig em
um grupo para ter um cancelamento coletivo”.
O
trashing é tão cruel quanto um estupro coletivo. É manipulador, desonesto e
excessivo. É ocasionalmente disfarçado pela retórica do conflito honesto, mas
ele não é feito para expôr desacordos ou resolver diferenças. É feito para
desacreditar e destruir.
Esse
ataque é executado fazendo com que você sinta que a sua mera existência é
prejudicial ao Movimento e que não há nada que se possa fazer para mudá-lo.
Infelizmente experimentei o lado sombrio da sororidade, que nada mais é do que
a reprodução da lógica patriarcal de rivalidade feminina.
Mayra Cardozo - advogada especialista em Direitos
Humanos pela Universidade Pablo de Olavide (UPO) – Sevilha. A professora de
Direitos Humanos da pós-graduação do Uniceub - DF, é palestrista, mentora de
Feminismo e Inclusão e Coach de Empoderamento Feminino. Membro permanente do
Conselho Nacional de Direitos Humanos da OAB e do Comitê Nacional de Combate à
Tortura do Ministério da Mulher e dos Direitos Humanos.
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