Dados da
Organização Mundial da Saúde apontam que 22% da população brasileira adulta
sofre com a obesidade. Entre crianças de até 5 anos de idade, a proporção é de
uma a cada dez
Considerado prioridade pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), o combate à obesidade se
tornou ainda mais relevante em meio à pandemia, cujos fatores associados ao
isolamento social e seus impactos na saúde física e mental da população levaram
ao aumento de casos entre crianças e adultos.
Conforme dados da organização, divulgados em 2021, 22% da população adulta
brasileira estava obesa, enquanto análise feita pelo Estudo Nacional de
Alimentação e Nutrição Infantil indica que, atualmente, uma em cada dez
crianças de até cinco anos de idade está acima do peso no Brasil.
A endocrinologista da Rede de Hospitais São Camilo de SP Cristiane Lauretti
alerta para o risco deste número aumentar ainda mais. “A estimativa da OMS é
que, em 2025, até 700 milhões de pessoas atinjam a massa corporal (IMC) acima
de 30, indicando obesidade”, destaca.
De acordo com a médica, entre os fatores que contribuem para o sobrepeso
e obesidade estão os hábitos
cultivados no dia a dia, muitas vezes propagados em família. “Os hábitos
perpetuados em casa influenciam diretamente na saúde da família como um todo,
sobretudo na saúde dos filhos”, reitera.
O que diz a ciência?
Este tema foi abordado por uma pesquisa realizada pela Península
Medical School, na Inglaterra, que sugere que o vínculo
comportamental pode ser ainda mais relevante para a obesidade infantil do que fatores genéticos.
Segundo o estudo, publicado na revista científica International
Journal Obesity, mães obesas apresentaram dez vezes mais
probabilidades de terem filhas obesas, e, entre pais e filhos, essa proporção
foi de seis vezes mais.
Com esses dados, os especialistas entendem que afinidades entre os gêneros em
uma mesma família contribuem para a reprodução do estilo de vida. “É comum
vermos no consultório histórias que nos levam a uma análise semelhante a esta
pesquisa”, afirma a nutricionista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo
Tatiana Bononi.
“Muitas vezes, a criança começa a ganhar peso devido a hábitos alimentares
ruins que são comuns em casa, como o consumo excessivo de açúcar e embutidos,
refrigerantes e bolachas recheadas, por exemplo.”
Esses hábitos, somados à falta de estímulo para a prática de atividades físicas
e brincadeiras ao ar livre, são os principais causadores da obesidade, o que é observado tanto nos pais como nos
filhos.
“A sobrecarga com a rotina de trabalho e ritmo acelerado do dia a dia foi
modificando os hábitos das famílias ao longo dos anos e isso só piorou com o
agravante do isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19 e seus
consequentes impactos econômicos”, salienta Tatiana.
Conforme ressaltam as especialistas do Hospital São Camilo SP, geralmente, os
familiares são os responsáveis pelos primeiros contatos das crianças com os
alimentos, e a introdução de hábitos saudáveis nesta etapa pode evitar
problemas graves à saúde dos pequenos ao longo da vida.
“Com a manutenção deste quadro, essas crianças terão um risco maior de
desenvolver doenças cardiovasculares e complicações metabólicas no início da
vida adulta”, alerta Dra. Cristiane.
A nutricionista, por sua vez, acredita que a conscientização da população é o
melhor caminho, estimulando ações de combate à obesidade por
meio de informação e educação, sobretudo considerando a avaliação dos hábitos
dentro da realidade de cada família.
“São os adultos que levam para casa os alimentos que a criança consumirá no dia
a dia. Portanto, devemos atuar junto a esses pais e cuidadores para que novos e
melhores hábitos sejam perpetuados no meio familiar, evitando apresentar aos
filhos produtos ultra processados ou açucarados”, orienta.
Riscos e tratamentos
Considerada pela OMS uma doença crônica, a obesidade está
entre os principais fatores de risco para diversas doenças cardiovasculares,
tipos de cânceres e diabetes, além de estar associada à redução da expectativa
de vida.
Dr. Ivan Sandoval, cirurgião geral e responsável pelo Centro de Tratamento
da Obesidade do Hospital São Camilo
de São Paulo, explica que a obesidade é
uma doença do metabolismo que acarreta muita facilidade em ganhar peso. “Bons
hábitos e estilo de vida saudável, em alguns casos, não são suficientes
para resolver a questão. Porém, são parte fundamental em
qualquer tratamento.”
Ele ressalta que a doença é multifatorial e, por isso, seu tratamento deve ser
conduzido por uma equipe formada por vários especialistas. “Embora o mercado
esteja cheio de promessas de soluções rápidas, essas medidas são ilusórias e
não trazem resultados positivos”, alerta.
Segundo o especialista, o paciente que está com excesso de peso necessita de
acompanhamento multidisciplinar e tratamento contínuo, assim como qualquer
outra doença crônica. “Não devemos culpar ou discriminar o paciente, mas
sim incentivá-lo a participar de todo este processo, incluindo as mudanças
na rotina do dia a dia. Caso isso não seja feito, haverá grande chance de ganho
ou reganho de peso.”
Por isso, além de levar em conta a história do paciente à identificação das
causas do problema, um programa eficaz de tratamento da obesidade envolve abordagem nutricional e
psicológica durante todo o processo, podendo estar associado a outras medidas,
como uso de medicamentos, intervenções como a gastroplastia endoscópica ou
cirurgia bariátrica.
Hospital São Camilo
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