Excesso de informações e sentimentos provocados pela pandemia vêm provocando efeitos nocivos à saúde mental, incluindo dificuldade constante de concentração, insônia e até mesmo crises de ansiedade e depressão
Cansaço, estresse
mental, tristeza. Esses são alguns dos adjetivos que podem descrever como anda
a saúde mental da população um ano após o início da pandemia. Com o aumento de
casos e mortes e novos lockdowns podendo ser decretados, a esperança de que a
situação pudesse mudar vai sendo adiada, gerando ainda mais ansiedade na
população.
Os dados confirmam a tendência. Um estudo encomendado pela revista Veja aponta
que mais de 80% da população acha que a crise está demorando mais do que
esperava e cerca de 73% veem o número de óbitos muito acima do que imaginavam.
A preocupação em perder algum parente é grande para 48% dos brasileiros e cerca
de 8% temem ficar desempregados. São medos que, aliados com uma rotina mais
sobrecarregada de home office para muitos, abalam em muito o equilíbrio mental.
Para o psiquiatra Marco Abud, especialista no assunto, o excesso de informações
acaba preenchendo nosso cérebro de tal maneira que resulta em um turbilhão de
reflexões que, em alguns casos, leva a um descontrole emocional capaz de levar
à dificuldade constante de concentração, insônia, e até mesmo crises de
ansiedade e depressão.
"Não existe ainda um consenso que classifique o que vem sendo denominado
de ‘aceleração do pensamento’ como um distúrbio, até por conta da necessidade
de estudos científicos mais robustos que apontem com mais clareza para as
causas e consequências dessa condição, mas de fato a dificuldade em parar de
pensar traz efeitos nocivos para a nossa saúde geral. Entre as consequências
estão a elevação no nível de preocupações e excesso de tarefas, o que faz com
que acabem sendo desencadeados outros sintomas que impactam na nossa qualidade
de vida. A exemplo disso, podem ocorrer a elevação dos batimentos cardíacos,
sensação de fadiga, falta de ar, dor de cabeça e até outros sinais físicos que
saltam aos olhos, como a queda excessiva de cabelos", explica.
Fundador do canal Saúde da Mente no YouTube, o maior sobre o tema no Brasil -
somando atualmente mais de 1,5 milhão de inscritos - , Abud afirma que há
formas para controlar esse tipo específico de ansiedade e que, com apoio
médico, é possível passar a reconhecer os gatilhos responsáveis por desencadear
o problema e aprender a frear seus avanços.
"Para muitos de nós, o celular se tornou instrumento de trabalho em tempo
integral nesta pandemia, fazendo com que a nossa dependência em estarmos
conectados 100% do tempo traga prejuízos gerais ao nosso bem estar físico e
mental. Mas a partir de medidas simples, como criar o hábito de restringir o
uso do aparelho em momentos como a hora das refeições e perto da hora de
dormir, podem trazer de cara uma melhora efetiva na redução desses sintomas de
aceleração".
Técnicas de controle da respiração e meditação, assim como a adoção rotineira
de atividades físicas e de iniciativas que permitam que possamos sair do piloto
automático, buscando outras formas de interação que façam com que o nosso
cérebro relaxe, também são aliadas nessa busca pelo equilíbrio mental. E o
médico enfatiza: não tenha receio de buscar aconselhamento especializado para
lidar com essas questões.
"É essencial que deixemos de tratar os assuntos relacionados à saúde mental
como tabu. Assim como sabemos que é preciso buscar apoio médico quando sentimos
uma dor estomacal ou dificuldade para enxergar letras miúdas no momento da
leitura, buscar o diagnóstico para transtornos que causam o desequilíbrio
emocional não deveria ser motivo de dúvidas. O acompanhamento profissional irá
garantir um olhar para os sintomas específicos de cada indivíduo e, de acordo
com a gravidade do caso, indicar as condutas terapêuticas mais
assertivas", reforça Abud.
Acima de tudo, a chave está em lembrar que, antes de qualquer outra urgência, o
respeito a si mesmo deve prevalecer. "É impossível deixar a agenda de lado
e esquecer os compromissos. Não há mal algum em fazer uma coisa de cada vez, e
mesmo que a lista de tarefas pareça estar repleta de urgências, lembre-se de
avaliar as reais prioridades e organizá-las numa ordem lógica antes de começar
a fazer tudo de uma vez. Isso permitirá que você direcione a sua concentração e
consiga concluir uma ação antes de iniciar outra, o que, certamente, trará
muito mais proveitos ao final do dia. E não não deixe de estabelecer limites:
pequenas pausas ajudam a ‘recarregar as baterias’ e é preciso criar uma agenda
que limite as horas de trabalho - mesmo estando em home office - e garanta a
preservação dos momentos de descanso", finaliza Marco Abud.
A seguir, confira cinco dicas para "desacelerar" os pensamentos e
controlar a sensação de exaustão mental:
Desconectar
Os aparelhos eletrônicos se tornaram tão essenciais nas nossas vidas que parece
não ser mais possível viver sem um celular por perto - e sem sinal de internet
o mundo parece até que irá desabar. O problema é que esse vício em nos
mantermos conectados, leva a um ciclo sem fim de excesso de informações que
chegam por meio de redes sociais, aplicativos de mensagens e inúmeros outros
canais de comunicação digital. Esse excesso, contudo, faz com que a nossa mente
permaneça em alerta máximo o tempo todo. E o remédio para isso é um só:
concentre-se no que estiver fazendo e largue o celular quando ele não for
essencial para aquela atividade específica.
Organize uma lista de tarefas antes
A pandemia e toda adaptação ao home office trouxe a sensação para muitas
pessoas de que falta tempo para dar conta do trabalho e ainda tocar os afazeres
domésticos. Afinal, é preciso dar conta de participar de reuniões virtuais,
produzir aquilo que é necessário para o bom andamento do trabalho, cozinhar as
refeições (e lavar a louça), ajudar os filhos nas tarefas… Uma lista de tarefas
que parece interminável, não é mesmo? Mas a verdade é que na maioria das vezes
é totalmente possível dar conta de tudo isso sem abrir mão dos momentos de
relaxamento e descanso. O poder de estabelecer limites cabe só a você mesmo e
nem sempre aquela tarefa que parecia tão essencial precisa ser feita com
urgência. Reflita e crie uma agenda, só assim será possível focar no que
precisa ser feito sem deixar que o desespero te faça se autosabotar.
Faça pausas
Que tal aproveitar para almoçar com calma ao som das suas músicas favoritas? Ou
talvez tentar sentar à mesa no mesmo horário que as pessoas que moram com você
e aproveitar o momento para conversar um pouco sobre temas que sejam do
interesse de todos? Vale também levantar no meio da tarde para tomar um
cafezinho ou comer uma fruta longe do computador. Esses momentos de
descontração e distração são excelentes para ajudar o cérebro a relaxar antes
de retornar ao nível máximo de produtividade.
Pratique alguma atividade de lazer
Não é novidade que a prática de exercícios físicos traz benefícios para o corpo
e a mente. Quando nos movimentamos o cérebro libera hormônios como endorfina,
serotonina, dopamina e ocitocina, que provocam a sensação de bem-estar e, com
isso, ajudam a controlar os níveis de estresse. Vale caminhar, dançar, praticar
os mais variados esportes.
Mas não é só isso: tocar um instrumento, pintar, cozinhar, ler ou incluir qualquer outra ação na sua rotina que contribua para te trazer prazer e aliviar a tensão são sempre bem-vindos. Entre a comunidade médica também há um consenso sobre o valor das chamadas práticas integrativas, como a meditação e a ioga, que exercem papel essencial para o equilíbrio entre corpo e mente, ajudando no controle da respiração e relaxamento em prol da saúde mental.
Se sentir que algo está fora de controle, procure ajuda profissional
Quando tentar colocar as ideias em ordem se torna um motivo de desespero é hora
de pedir apoio. Ainda mais diante desse período de mais de um ano de incertezas
que seguimos enfrentando, é comum nos sentirmos desorientados, sem saber como
processar o volume de dados, tarefas e preocupações que insistem em nos rondar.
O aconselhamento médico profissional irá contribuir nesse processo de
reencontro com o seu equilíbrio e te dar as ferramentas para lidar da melhor
maneira com essas dificuldades.
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