Um
estudo realizado por uma companhia de tecnologia infantil, SuperAwesome,
concluiu que crianças de 6 a 12 anos, nos Estados Unidos, estão passando ao
menos 50% do seu tempo mexendo em telas diariamente durante a quarentena. A
discussão sobre o tempo de utilização de celulares, tablets, computadores e TVs
já existia. Na pandemia, a preocupação se intensificou, até porque muitos
ficaram dependentes das telas para os estudos.
No
Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda limitar o uso de
telas para crianças entre 2 a 5 anos em uma hora por dia; entre 6 e 10 anos,
são recomendadas duas horas. E, para os mais velhos, a recomendação é de três
horas diárias. Uma rotina que extrapole esses limites pode ser a porta de
entrada para a dependência em eletrônicos, mal que atinge cerca de 65% das
crianças do mundo todo.
Não
à toa, este excesso, somado ao estresse do momento atual, tem causado diversos
tipos de transtornos. Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria da Universidade
de São Paulo (USP), baseada em respostas de cerca de 7.000 pais de crianças e
adolescentes dos 5 aos 17 anos, mostra que 27% das pessoas dessa faixa etária apresentam
sintomas de ansiedade ou depressão em nível clínico na pandemia, ou seja, com
necessidade de avaliação profissional.
“De
fato, identificamos muitos pacientes, especialmente crianças, que nunca tiveram
nenhum tipo de transtorno e passaram a apresentar quadros ansiosos ou até
depressivos. Quem já era acometido por algum transtorno, teve uma piora
significativa”, afirma Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e
Adolescência na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP
(Associação Brasileira de Psiquiatria).
Como
estimular a capacidade imaginativa das crianças
Ainda
que o uso excessivo do meio digital possa causar prejuízos à saúde mental, ele
se tornou, durante a quarentena, uma forma de entretenimento e de saciar a
necessidade de estímulos. “O cérebro humano foi desenhado para buscar uma
estimulação constante. No entanto, para a criança, isso tem um custo alto, pois
quando essa superestimulação é tirada, o cérebro dela não descansa e segue
pedindo a continuação da estimulação”, explica a psiquiatra.
Assim
que desliga a tela, a criança olha ao redor e não encontra nada compatível à
torrente sensorial que os eletrônicos podem proporcionar. Para piorar, muitos
pais incentivam o uso das telas para evitar que os filhos fiquem entediados e,
consequentemente, agitados, como se os eletrônicos fossem os únicos meios de
despertar a atenção.
“Em
meio ao caos que estamos vivendo, a correria e impaciência fizeram muitas
famílias esquecerem que há várias outras maneiras de estimular a criança, e de
forma mais saudável, tanto para a mente como para o corpo”, diz Danielle
Admoni.
Segundo
a psiquiatra, é preciso fazer o “desmame das telas”. Para isso, dicas não
faltam:
-
Deixe a criança entediada. Permita que ela mesma busque a estimulação que seu
cérebro precisa. Se notar dificuldade, invente uma atividade com ela. Aos
poucos, vá deixando que ela brinque sozinha, evitando criar uma dependência da
sua presença.
-
Motive seu filho a brincar com algo que não tenha pilhas ou baterias. Vale presentear
a criança com um brinquedo novo. Se ela quiser escolher, incentive jogos de
construção, massinha de modelar, pinturas, quebra-cabeça com o tema do seu
personagem favorito ou até brinquedos artesanais.
-
Proponha desafios, como reorganizar seus brinquedos. Peça para seu filho
escolher algo que não lhe interesse mais e sugira doar para alguma criança na
rua ou para uma instituição. Só vale se seu filho participar deste ato. Será
uma excelente oportunidade de ensina-lo a exercer a solidariedade.
-
Aposte nos livros. A leitura, que auxilia no desenvolvimento cognitivo,
socioemocional e cultural, deve ser introduzida junto com os demais brinquedos
como mais um objeto de prazer e de exploração do mundo.
-
Caso seu filho não demonstre entusiasmo pelos livros, leia com ele. Além de ser
uma oportunidade de estarem juntos, você pode ajudar a criança a desenvolver
linguagem, compreensão, imaginação, criatividade, entre outras habilidades que
a leitura pode proporcionar.
-
Demonstre interesse pelas atividades de seu filho. Pergunte o que ele está
fazendo, como está fazendo e se disponha a ajuda-lo no que for preciso. Além
disso, elogie suas evoluções.
-
Crie uma tabela que estipule o tempo dedicado aos eletrônicos. Coloque metas e
seja firme. Não deve haver exceções.
-
Não esqueça de dar o exemplo. Evite ao máximo usar o celular quando estiver com
seu filho.
“Vale
lembrar que é possível que algumas crianças não respondam bem à retirada ou
redução das horas de uso das telas. Daí a importância de ter paciência e
firmeza, não deixando se levar por manhas ou chantagens. Na realidade, será a
intensidade e frequência de protesto por parte da criança que mostrará o quanto
essa intervenção é necessária. O mais importante é que este processo seja
natural e que a criança perceba que as mudanças propostas são positivas. Se for
preciso, não hesite em buscar ajuda de um especialista”, finaliza Danielle
Admoni.
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