Covid-19 coloca-se como mais um obstáculo à redução de mortes de gestantes e puérperas em decorrência de complicações evitáveis
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) alerta para a necessidade de atenção à saúde da gestante para além da pandemia de Covid-19. Ao lado das perdas decorrentes da infecção pelo novo coronavírus, a cada cinco horas*, uma mulher morre devido a outras complicações gestacionais – sobretudo, eclampsia, hemorragia e infecção puerperal. A Febrasgo aponta que parte considerável desses casos de mortalidade materna (morte de uma mulher durante a gestação ou puerpério – período de 42 dias após o parto) é evitável por meio de cuidadoso acompanhamento obstétrico antes, durante e após a gestação.
O obstetra
Dr. Marcos Nakamura Pereira, presidente da Comissão Nacional Especializada em
Mortalidade Materna da Febrasgo, aponta que o planejamento da gestação e o
pré-natal têm papel primordial para a identificação de eventuais adversidades
que possam evoluir para complicações. “Existem algumas formas bem estabelecidas
para a prevenção de óbitos de gestantes e puérperas. Uma mulher que planeja
engravidar pode identificar e controlar doenças pré-existentes (como
hipertensão e diabetes) antes da concepção. Caso isso não ocorra, os riscos
elevam-se bastante”. O especialista acrescenta que por meio de pré-natal adequado,
é possível acompanhar a evolução da gestante e buscar controlar as
intercorrências de saúde que inspirem maior cuidado.
Causas de
Óbitos
Segundo dados do Ministério da Saúde, de 2015 a 2019, anualmente, a mortalidade materna vitimou cerca de 1650 mulheres em média. As causas mais recorrentes foram eclampsia (14%), hipertensão gestacional com proteinúria significativa (10,6%), hemorragia pós parto (10%) e infecção puerperal (5,8%).
Os
desafios de combater a mortalidade materna perpassam, contudo, outros âmbitos
que impactam a saúde da mulher. De acordo com pesquisa DataFolha, realizada
antes da pandemia, 13% das brasileiras afirmou não realizar consultas
ginecológicas. Dentre as que a buscam atendimento, a idade média da primeira
consulta era de 20 anos, geralmente por suspeita ou quadro de gravidez. Essa
faixa etária (10 a 19 anos) corresponde por 12,8% do total de óbitos maternos
registrados pelo Ministério da Saúde. Na outra ponta, gestantes com mais de 35
anos – a chamada gestação tardia – apresentam-se mais suscetíveis a quadros de
hipertensão arterial, diabetes, obesidade e outros fatores de risco para
complicações que as tornam o grupo com maior potencial de vulnerabilidade.
Covid-19
A infecção decorrente do novo coronavírus tornou-se a principal razão de óbitos de gestantes em 2020 e caminha para repetir semelhante quadro em 2021. Ao longo dos 14 meses de pandemia, 1149 gestantes e puérperas faleceram em decorrência da Covid-19 (695 delas, somente neste ano), segundo dados do Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19).
Paralelamente ao receio de se contaminarem, os adiamentos de consultas, menor acesso a opções contraceptivas e eventual redução de atendimentos ambulatoriais para acompanhamento de comorbidades contribuíram para esse cenário. “Ao lado dessas perdas, a Covid-19 reflete também um grau de prematuridade dos bebês que pode afetar a vida da criança e da família toda”, comenta a obstetra Dra. Rosiane Mattar, presidente da Comissão Nacional Especializada em Gestação de Alto Risco da Febrasgo.
A
complexidade da situação, associada à necessidade de atualização contínua de
informações para orientação técnica, levou a Febrasgo a organizar uma Comissão
Nacional Especializada Temporária para constante acompanhamento de pesquisas,
estudos e políticas públicas para a construção de recomendações médicas para
nortear o trabalho de ginecologistas e obstetras de todo o país. “Ao todo, são
18 especialistas que têm dialogado diariamente para orientar e capacitar a
população e o tocoginecologista para lidarem não somente com a Covid-19, mas
também sua relação com outras doenças e condições de saúde”, explica a Dra.
Rosiane que também preside essa Comissão.
Live
Para
ampliar a discussão sobre os desafios para a redução da mortalidade materna, no
próximo dia 28, a Febrasgo realiza o evento online ‘II Encontro Nacional pela
Saúde da Mulher e Redução da Mortalidade Materna’. A transmissão ocorrerá, às
13h, nos canais da federação no Facebook e Youtube.
*Fonte:
MS/SVS/CGIAE - Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM
Nenhum comentário:
Postar um comentário