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segunda-feira, 31 de maio de 2021

Formação de professores em tempo de pandemia: um desafio

Durante a presente reflexão pretende-se responder a seguinte questão: Como os novos professores em formação irão encarar a docência e o mundo acadêmico pós ensino remoto? Além disto, deseja-se saber se o professor continuará a ser feliz.

De início, deve-se lembrar que a formação de qualquer profissional sempre foi um desafio aos responsáveis por esta missão. Desde os modelos mais antigos de formação, até os atuais, o desafio está atrelado a esta responsabilidade. Todavia, existem peculiaridades relativas a cada profissão, muitas das quais, singulares, específicas, e o formador deve estar ciente disto.

Ao se pretender a formação de certo profissional, deve-se pensar inicialmente sobre a real necessidade de sua existência e qual seria seu público alvo. Portanto, as perguntas poderiam ser estas: Qual a real necessidade deste profissional e por que deve-se investir em sua formação? Quem ele irá atender?

Particularmente, o professor não é um profissional que se pode prescindir. O professor integra o rol de profissionais sempre presentes nas diferentes demandas da humanidade, por isso, excepcionalmente, na formação de professores já se tem, implicitamente ou tradicionalmente, a resposta para as duas indagações anteriores. É notório o conhecimento da sociedade sobre a importância do professor, daí esta certeza.

Entretanto, não obstante tal segurança, da necessidade e do público alvo, ao se formar um professor, deve-se saber acerca de seu público alvo específico, localidade onde atuará e as condições de trabalho que terá, dentre tantas outras variáveis.

Verificando-se por meio da literatura de que há séculos, diversas nações têm manifestado preocupação com relação à formação de seus professores, conclui-se que o tema da presente discussão é praticamente atemporal, embora os objetivos necessitem sempre de atualização, em face da necessidade contemporânea, sobretudo quanto à especificidade do professor.

Diante deste universo, pensa-se no momento atual, vivenciado pela humanidade, durante a travessia de uma crise político-social, decorrente de uma pandemia, inimaginável e, portanto, imprevista pelos vários gestores, nos diferentes segmentos da sociedade. Nesse contexto, apresenta-se então a questão exposta no início desta reflexão: Como os novos professores em formação irão encarar a docência e o mundo acadêmico pós ensino remoto? E se o professor continuará a ser feliz.

Estas perguntas, por mais naturais que possam parecer, vêm acompanhadas de questões subliminares, as quais poderiam ensejar um texto sobre o assunto. Responder objetivamente a tal questionamento não é simples; mesmo porque, as variáveis contidas nele são inúmeras e adensariam o conteúdo deste artigo.

Diante destas dúvidas, porém, como formador de formadores, ou formador de pessoas que irão formar os cidadãos das próximas gerações, deve-se ser otimista, pois um formador, um pesquisador da educação, um cientista da educação que não for otimista, terá grande chance de esmorecer pelo caminho e desistir da nobre missão que é a de formar professores, professores felizes. E a que se deve ou se dá tal otimismo? O otimismo se dá no próprio contexto da crise, uma vez que o empirismo não deixou de existir e o conhecimento continua a ser obtido também empiricamente, conhecimento este que deve culminar com saberes. O cientista sabe muito bem fazer isto: extrair das experiências proveitos importantes para a obtenção de resultados e soluções de problemas.

A súbita necessidade da utilização de recursos tecnológicos digitais, com meios remotos de comunicação, proporcionou aprendizados importantíssimos em tão pouco tempo, que, não fosse a crise, talvez levar-se-ia anos para serem obtidos. Por isso, em meio à pandemia, muito se aprendeu e os professores, formadores de professores, estão entre estes aprendizes. Resultado: os próprios alunos destes professores, futuros professores, oxalá pós-pandemia, terão sido formados não só com uma fundamentação teórica, como costumava ser antes da hecatombe, mas também com uma prática efetiva, uma prática de Metacognição.

Sabe-se que os currículos dos cursos de Licenciatura, como são chamados os cursos de formação de professores no Brasil, já possuíam e continuam a possuir ensaios, práticas docentes simuladas, estágios etc., todavia, o aprendizado empírico adquirido neste tempo de crise ficará indelével para esta geração.

Certamente, os professores que estão se formando durante a atual realidade da crise político-social serão bem diferentes de seus próprios professores, que tiveram de se reinventar para poderem lograr o êxito desejado.

Os novos professores em formação irão encarar a docência e o mundo acadêmico pós ensino remoto de forma muito mais pragmática e possivelmente menos romântica, porém, não menos importante. Esta nova realidade levará a um novo modelo de educação, a uma nova escola e a um novo comportamento da família quanto ao desenvolvimento da criança e do adolescente. Diversas universidades, sobretudo do hemisfério norte, onde o ano letivo se inicia por volta do mês de agosto ou início de setembro, já estão com novos projetos pedagógicos para serem implementados, fato que, de igual modo, também deverá ocorrer nas universidades brasileiras num futuro próximo.

Nesse todo, apesar das intempéries e contratempos destacados, o lema "Ser Professor é ser feliz" deve continuar.




Ítalo Francisco Curcio -  doutor e pós-doutor em Educação. Pesquisador no curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.


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