Procurar ajuda médica e psicológica pode aumentar as chances de sucesso nessa empreitada
A maioria das pessoas conhece os males do cigarro. A principal causa de morte evitável no mundo, o tabagismo está associado a inúmeras doenças, desde neoplasias, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e fibrose pulmonar, entre outras. A lista de problemas de saúde que podem ser provocados pelo consumo de tabaco (cigarro, cachimbo, charuto e até tabaco mascado) é enorme. Soma-se a isso os reflexos negativos na qualidade de vida, limitando, por exemplo, a capacidade de realizar atividades físicas, o desempenho sexual e até a sensibilidade para sabores e aromas. O tema é foco de várias campanhas realizadas no Dia Mundial sem Tabaco, celebrado todo ano no dia 31 de maio.
As diversas iniciativas contra esse mal têm
contribuído para um declínio consistente na prevalência de tabagismo no País.
Mas, ainda assim, há uma parte da população (entre 12% e 14%) que segue
fumando, engrossando estatísticas como a do Instituto Nacional do Câncer
(Inca), que aponta a morte de 428 pessoas a cada dia devido a doenças
relacionadas ao uso do tabaco. Dentre os fumantes, há uma grande parcela que
gostaria de parar de fumar, muitos dos quais já tentaram. E como então
enfrentar esse desafio?
Uma doença a ser tratada
Mais do que um hábito, o tabagismo é uma doença causada pela dependência da nicotina presente nos produtos à base de tabaco. E, como doença, deve ser tratada com acompanhamento médico e psicológico em um programa de cessação do tabagismo.
De acordo com o pneumologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Felipe Marques da Costa, para ter sucesso no tratamento é fundamental que o indivíduo queira, de fato, parar de fumar, pois esse é um processo contínuo, que requer adesão. Atualmente, as intervenções são baseadas quase sempre em duas frentes: terapia cognitiva comportamental conduzida por psicólogos ou psiquiatras e tratamento farmacológico.
“O tratamento deve ser personalizado, estruturado de acordo com as condições de saúde da pessoa, avaliação de doenças prévias, alergias, tipo e grau de dependência. Também é importante que os especialistas saibam se ocorreram tentativas anteriores de parar de fumar, quais abordagens se mostraram vitoriosas na época e poderiam ser retomadas e quais os motivos de suas falhas, que devem ser contornados”, orienta o médico.
Doença complexa, o tabagismo pode ter como principal fator a dependência química da nicotina, geralmente medida em uma escala de 0 a 10 por meio do Teste de Fagerström, baseado em um questionário sobre o hábito de fumar. Em alguns casos, a dependência de nicotina pode até ser baixa, mas a dependência psicológica é forte, ligada à ansiedade, que também necessita ser tratada, muitas vezes antes do início do tratamento medicamentoso.
Os gatilhos mentais que levam o indivíduo a acender o cigarro também devem ser observados para serem rompidos ou substituídos, por exemplo, por uma atividade saudável e prazerosa, o que depende do perfil de cada pessoa. “A vontade de fumar que surge como escape de uma situação psicológica pode ser respondida com a ingestão, por exemplo, de um copo d’água, o consumo de uma bala, uma caminhada ou corrida”, orienta Felipe.
Atualmente, o tratamento farmacológico pode ser baseado em três medicamentos, que podem ou não ser combinados, dependendo de cada caso: terapia de reposição de nicotina; bupropiona, um antidepressivo; e vareniclina, medicamento que age no receptor da nicotina, reduzindo o desejo de fumar e os sintomas da abstinência.
Os especialistas também dão especial atenção às
mudanças nos hábitos alimentares dos pacientes em tratamento. De um lado, há
pessoas que substituem pela comida a compulsão pelo tabaco; de outro, alguns
medicamentos ministrados, como os ansiolíticos e antidepressivos, podem de fato
abrir o apetite. Frente a isso, médicos e psicólogos traçam conjuntamente
estratégias para evitar impactos indesejados como o ganho de peso.
BP – A Beneficência Portuguesa
de São Paulo
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