"Trata-se de
um grupo especialmente vulnerável aos efeitos da infecção e que precisa ser
protegido", diz Dra. Clarissa Mathias, presidente da entidade
Em carta enviada ao Ministério da Saúde nesta
terça-feira (9), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) defende que
pacientes oncológicos em todo o território nacional sejam incluídos nos grupos
com prioridade na vacinação contra a COVID-19. A defesa se baseia nas
evidências científicas de que pacientes com câncer são mais vulneráveis aos
riscos de complicações ocasionadas pelo coronavírus Sars-Cov-2.
De acordo com a presidente da SBOC, Dra. Clarissa
Mathias, que assina a carta, o contato com o Ministério da Saúde tem o objetivo
inicial de esclarecer por que os pacientes oncológicos não constam
expressamente no grupo de comorbidades do Plano Nacional de Operacionalização
da Vacina contra a COVID-19. “Trata-se de um grupo especialmente vulnerável aos
efeitos da infecção e que precisa ser protegido. A SBOC representa o
oncologista clínico ao cuidar dessa população em sua jornada dupla de luta
contra o câncer e a COVID-19”, diz.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), baseada na
literatura científica produzida ao longo do enfrentamento da pandemia ao redor
do mundo, classifica o paciente oncológico no grupo de risco para complicações
da COVID-19, independentemente do tipo da doença e das circunstâncias do
tratamento. “Esse entendimento inclui, automaticamente, o paciente com qualquer
tipo de câncer no grupo prioritário para vacinação. Essas pessoas não podem
esperar”, defende Dra. Clarissa Mathias.
O próprio Plano Nacional de Operacionalização da
Vacina contra a COVID-19 citou, nas suas duas primeiras edições, a OMS ao dizer
que “idosos e pessoas com comorbidades, tais como pressão alta, problemas
cardíacos e do pulmão, diabetes ou câncer, têm maior risco de ficarem
gravemente doentes”. Apesar disso, as edições seguintes, publicadas nos dias 22
e 29 de janeiro de 2021, excluem o câncer do grupo de comorbidades
prioritárias, restringindo-se a incluir na descrição do grupo de
imunossuprimidos os pacientes oncológicos que realizaram tratamento
quimioterápico ou radioterápico nos últimos seis meses e aqueles com neoplasias
hematológicas.
O plano federal também se refere ao paciente
oncológico ao caracterizar os grupos de risco para agravamento e óbito por
COVID-19, ao lado de pessoas com “insuficiência renal, doenças cardiovasculares
e cerebrovasculares, diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), anemia falciforme, obesidade mórbida e
síndrome de Down, além de idade superior a 60 anos e indivíduos transplantados
de órgãos sólidos”.
“Diante da flagrante incoerência do plano ao se
referir ao paciente oncológico como grupo de risco e não incluí-lo nos grupos
prioritários para vacinação, solicitamos que o Ministério da Saúde informe
claramente se esse ‘detalhe’ constará expressamente na próxima edição do
documento”, conta o gerente jurídico da SBOC, Dr. Tiago Matos.
Evidências científicas
A vacinação dos brasileiros com diagnóstico de
câncer tem sido uma preocupação da SBOC, que publicou, em janeiro, um
guia com orientações sobre as vacinas aprovadas para uso emergencial no país.
Ao longo da pandemia, a entidade tem atuado também no desenvolvimento e na
promoção de condutas técnicas a serem adotadas pela comunidade oncológica e
toda a população, concentradas no site coronavirus.sboc.org.br
e difundidas por todos os seus canais de comunicação.
De acordo com o diretor executivo da SBOC, Dr.
Renan Clara, todas as iniciativas da entidade têm sido baseadas nas mais
recentes evidências científicas internacionais. “A SBOC não só repercute o que
há de mais consensual na comunidade global de cientistas dedicados ao
enfrentamento da pandemia como contribui com o desenvolvimento do conhecimento
científico nacional a respeito do vírus e de seus impactos no organismo que
combate um câncer, seja ele qual for”, conta.
Estudo brasileiro publicado no Journal of Clinical
Oncology (JCO) identificou e acompanhou 198 pacientes com câncer que
desenvolveram COVID-19 entre março e julho de 2020. Destes, 33 morreram.
“Trata-se de uma taxa de mortalidade de 16,7%, seis vezes mais que o índice
global, de 2,4%”, observa Dr. Renan Clara.
Ainda de acordo com o estudo, a maior taxa de
mortalidade foi encontrada em pacientes com neoplasias do trato respiratório
(43,8%), principalmente câncer de pulmão metastático, e tumores hematológicos,
como linfomas e leucemia, sendo que o pior prognóstico está relacionado à fase
da doença em que o paciente se encontra, com maior risco para quem tem câncer
ativo, progressivo ou metastático.
“Esse e outros estudos evidenciam que não apenas os
pacientes imunossuprimidos estão mais susceptíveis a manifestações graves da
doença, mas também aqueles em diversos outros espectros da doença, sendo
inviável estratificá-los e urgente incluí-los entre aqueles que precisam ser
imunizados contra um mal que pode ter consequências fatais para sua saúde e a
própria vida”, enfatiza Dra. Clarissa Mathias.
Ainda de acordo com a presidente, “a SBOC seguirá
vigilante e em diálogo com os organismos responsáveis, entidades parceiras e
parlamentares defensores da causa, junto ao Ministério da Saúde, até que o
Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19 seja
alterado para incluir os pacientes oncológicos e todos sejam vacinados”.
SBOC - SOCIEDADE BRASILEIRA DE ONCOLOGIA CLÍNICA
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