Queda em 2020 chegou a 210% até setembro em comparação ao mesmo período de 2019 e pode agravar este ano segundo estudo. Entenda.
O estrago na saúde decorrente
da pandemia de coronavírus é maior do que se possa imaginar. Incapacitou
milhares de jovens brasileiros em 2020. Isso porque, o relatório da ABTO
(Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) mostra que até setembro de
2019 10.995 brasileiros passaram pela cirurgia.
No mesmo período de 2020, último dado da associação, foram realizados
4.807 transplantes de córnea no País, uma redução de 210% em relação ao ano
anterior. Pior: Segundo a ABTO até o mês
de setembro a fila de espera saltou de 10.825 em 2019 para 14.433 em 2020.
O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto
do Instituto Penido Burnier e membro do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia)
afirma que recentemente voltou a circular na imprensa uma prótese que exista há
mais de 10 anos, mas não substitui o transplante por ser um dispositivo caro e
não ser eficaz para todas as doenças na córnea. No Brasil, ressalta, o
ceratocone responde por 70% dos transplantes. A doença em geral aparece na
adolescência e progressivamente torna
a córnea, lente externa do olho, mais fina e fraca, fazendo com que tome o
formato de um cone. Esta alteração compromete bastante a visão, explica, porque
a luz penetra distorcida nos olhos e forma imagens desfocadas. Outros sintomas
são: troca frequente do
grau dos óculos, visão de halos noturnos, aversão à luz do sol, maior fadiga
visual e olhos irritados. “O problema é 85% de nossa interação com o meio ambiente depende
da visão e no início o ceratocone pode ser confundido com astigmatismo por ter
sintomas semelhantes”, afirma. Por isso, o especialista acredita que uma
parcela maior da população pode estar com esta doença.
Estudo
Para
o especialista a pandemia pode aumentar ainda mais a deficiência visual por
conta da menor captação de córnea pelos bancos de olhos. “Um estudo divulgado
no final de janeiro na publicação científica, JAMA Ophthalmology da Associação
Médica Americana (AMA) mostra que em um grupo de 11 pessoas contaminadas pelo
SARS-CoV-2 a córnea de 6 (55%) apresentou o RNA genômico do vírus. Quatro
dessas mesmas córneas (67%) apresentaram RNA subgenômico”. Por isso, a
recomendação é evitar a captação para transplante de pessoas com Covid-19 ou
recém contaminadas.
Tratamentos
Queiroz Neto afirma que na
criança a evolução do ceratocone é mais rápida. O diagnóstico precoce só pode
ser feito por tomografia, exame de imagem que analisa a face interna e externa
da córnea. A única terapia que interrompe a evolução é o crosslinking, mas só
pode ser aplicado em córnea com espessura mínima de 400 micras. "Consiste
na reticulação das fibras de colágeno que aumenta a resistência da córnea em
até 3 vezes com aplicação de vitamina B2 (riboflavina),
associada à radiação ultravioleta", explica.
Outro tratamento é o implante
de anel intraestromal que aplana a curvatura da córnea e por isso facilita a
adaptação da lente de contato.
O oftalmologista explica que
quanto maior a protuberância da córnea,
maior o desconforto para usar as lentes
de contato, única forma de corrigir a refração nos casos moderados e avançados
da doença. Para estas pessoas, é mais indicado o uso de lente escleral que
invés de se apoiar na córnea se apoia na esclera, parte branca do olho, e por isso
é bastante confortável.
Novidades
Pesquisadores da Universidade
de Loughborough, Reino Unido, acabam de anunciar o desenvolvimento de um laser portátil projetado para monitorar alterações biomecânicas
sutis no inicio no ceratocone, como por exemplo o afinamento localizado da
córnea. Ainda não há previsão de quando este dispositivo chega ao mercado, mas
para Queiroz Neto a portabilidade pode viabilizar ações em locais distantes num
país de dimensão continental como o Brasil.
Outra novidade foi apresentada no reunião anual da Academia
Americana de Oftalmologia é a CTAK, adição de tecido estéril para ceratocone
que é moldado à córnea com um laser ultra rápido de femtossegundo, numa técnica
semelhante ao implante de anel intraestromal. “Por enquanto, resta aos
especialistas brasileiros realizarem
tratamentos com as ferramentas disponíveis que já demostraram eficácia e
alertar a população para apostarem na prevenção com consulta médica periódica
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