Psiquiatra Marco Antonio Abud fala sobre algumas ações que podem minimizar os sintomas da sensação de falta de segurança quanto ao futuro
Após tantos meses sem frequentar o ambiente físico da sala de
aula, as crianças seguem na expectativa para a retomada de suas rotinas nas
escolas em 2021. Mesmo com a pandemia da Covid-19 ainda em curso e sem sinais
de que deve terminar tão cedo, as escolas já começam a receber seus alunos em suas
dependências. Essa expectativa traduz o anseio de muitas crianças, adolescentes
e pais pela volta da "normalidade" - se é que poderemos retornar a
ela.
Porém, a chegada desse dia envolve um período de mudanças, tanto para alunos
quanto para professores. Por mais que essas alterações de rotina sejam
positivas - sabe-se o quão benéfico é a convivência entre alunos, colegas e
mestres - essa expectativa tem o poder de promover um grande gasto de energia
na mente das pessoas, o que gera ansiedade. "Nós teremos que nos readaptar
às rotinas e talvez conhecer novas, como medidas de isolamento, esquemas
híbridos de aulas, entre outros. É comum que nesse período haja sintomas de
ansiedade e alterações de sono nas crianças e adolescentes", explica Marco
Antônio Abud, médico psiquiatra e fundador do canal Saúde da Mente
Para Abud, algumas situações pedem algumas atitudes por parte dos pais para
tentar minimizar a ansiedade. O médico exemplifica o caso do comportamento do
filho menor, que de repente tornou-se mais pegajoso, com receio de se separar
da mãe. "Isso também ocorre nesses casos. Porém nesse momento é importante
validar o sentimento da criança antes de aconselhá-la.. Isso significa
reconhecer e dar o direito a ela de sofrer, de se expressar", afirma. O médico
ainda reforça que ações de empatia também podem surtir um efeito positivo.
"Você pode expressar para a criança que você mesmo já sentiu algo parecido
e deixe claro que existe um espaço aberto para que ela possa conversar contigo
sobre isso".
A forma de falar é outro aspecto fundamental. "É importante que sejam
comunicadas as regras de volta às aulas, planos e horários que a escola passou
para os pais. Isso deve ser feito de uma forma que a criança entenda, com
clareza. E, também, é fundamental deixar um espaço para que ela faça perguntas
sobre as dúvidas que surgirem", reforça o Dr. Marco Abud.
Esse tipo de conduta auxilia o cérebro a sentir que há segurança, há algo
previsível, na visão do médico. Abud fornece algumas dicas nesse sentido.
"Você pode fazer pequenos rituais com seus filhos, como sempre dar um
abraço nele antes dele entrar na escola. Isso dá uma sensação de
controle".
Ajudar a criança a ver o lado positivo das coisas - e também da mudança - é
fundamental. "Uma forma de fazer isso é fazer algumas perguntas como
"o que você vai querer fazer primeiramente quando chegar na escola?
". Isso ajuda a mostrar que existe um aspecto positivo na mudança, apesar
do clima de incerteza. Nós teremos que nos adaptar às novas rotinas".
Porém, Marco Abud pede atenção redobrada aos pais para identificar qual é o
momento certo de buscar ajuda médica. "É normal haver momentos de
adaptação, mas eles não podem interferir no dia a dia das crianças, nas suas
atividades rotineiras. Ela não pode ter dificuldade de fazer aquilo que ela se
propõe a fazer em termos de rotina, atividade extracurriculares e lições de
casa", complementa. De acordo com o especialista, se a criança ou o
adolescente começarem a ter crises de choro e ansiedade na hora de ir para a escola
- e isso durar mais do que duas semanas - é importante fazer uma avaliação com
um profissional de saúde mental. Quando o retorno vier, que todos estejam
mentalmente saudáveis para encarar os desafios de 2021.
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