Imagine um mundo sem mulheres por um dia. Nenhuma
mulher nos escritórios, escolas, restaurantes, comércios, mercado financeiro.
Nenhuma mulher dirigindo pela cidade, ocupando os espaços nos transportes
públicos. Impossível?! E se eu contar que esse dia se tornará realidade em 9 de
março, no México? Estou no país para uma série de compromissos profissionais e
me deparei com uma chamada de grupos feministas para um dia de protestos
alusivos ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março. Como a data
cairá em um domingo, o movimento optou por transferir a iniciativa para a
segunda-feira, quando haverá maior visibilidade para a causa. Aliás, a
mobilização visa repudiar e protestar contra o aumento de feminicídios e
ataques às mexicanas.
Essa aliança de grupos feministas mexicanos é uma
resposta extrema a um problema que tem assolado muitos países, sobretudo os
latino-americanos. A violência de gênero tem crescido assustadoramente e vem
acompanhada da desigualdade e do cultivo da cultura do machismo. Com a hashtag
#UNDÍASINNOSOTRAS, a iniciativa ganhou a simpatia da imprensa e da população de
um país que tem cerca de 63 milhões de mulheres, 60% da população total. Chamou
a minha atenção o fato de essa mobilização feminista ultrapassar as barreiras
de classe. Coletivos que abarcam mulheres de diferentes realidades
socioeconômicas – inspirados pelo #MeToo – estão engajando as mexicanas em uma
postura questionadora sobre os papéis sociais até então relegados a elas. Uma
parte do movimento, inclusive, tem atitudes bastante contundentes que incluem a
pichação de monumentos. O brado contra o governo é “estupram mulheres, protegem
monumentos”.
A postura do presidente Andrés Manuel López Obrador
tem sido durante criticada. Os especialistas em comportamento social dizem que
a nova geração de mulheres do México não está disposta a perpetuar uma postura
cordata; elas se cansaram do enfoque moderado do feminismo. No México, os casos
de mortes de mulheres aumentaram 136% nos últimos cinco anos; em 2019 foram
1.006 casos, incluindo Cecilia Aldrighett, uma garota de 7 anos, torturada e
que teve o cadáver encontrado dentro de uma sacola plástica. A indiferença e
indolência do governo – palavras das ativistas – não são mais toleradas pelas
mexicanas de todas as classes sociais. A imprensa local tem denunciado casos
inacreditáveis que mostram o quanto essa violência está institucionalizada e
arraigada. Uma lástima!
No Brasil, um estudo realizado pelo professor
Jefferson Nascimento – doutor em Direito Internacional pela Universidade de São
Paulo (USP) – aponta que o nosso país possui a quinta maior taxa de feminicídio
do mundo. O mapeamento atesta que 107 casos foram registrados nos primeiros 20
dias de 2019 em 94 cidades e 21 Estados. Desse montante, 68 foram consumados.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o número de
assassinatos no país é de 4,8 para cada 100 mil mulheres.
Aqui, no México, espero acompanhar de perto esse
movimento e momento histórico. Às mulheres do México, todo o meu apoio e
solidariedade.
Lu
Magalhães - presidente da Primavera Editorial, sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro.
Graduada em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP), possui mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo
(USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School
(Universidade da Pennsylvania, Estados Unidos). A executiva atua no mercado
editorial nacional e internacional há mais de 20 anos.
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