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terça-feira, 3 de março de 2020

Um dia sem mulheres: a resposta das mexicanas à violência contra as mulheres



Imagine um mundo sem mulheres por um dia. Nenhuma mulher nos escritórios, escolas, restaurantes, comércios, mercado financeiro. Nenhuma mulher dirigindo pela cidade, ocupando os espaços nos transportes públicos. Impossível?! E se eu contar que esse dia se tornará realidade em 9 de março, no México? Estou no país para uma série de compromissos profissionais e me deparei com uma chamada de grupos feministas para um dia de protestos alusivos ao Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março. Como a data cairá em um domingo, o movimento optou por transferir a iniciativa para a segunda-feira, quando haverá maior visibilidade para a causa. Aliás, a mobilização visa repudiar e protestar contra o aumento de feminicídios e ataques às mexicanas.

Essa aliança de grupos feministas mexicanos é uma resposta extrema a um problema que tem assolado muitos países, sobretudo os latino-americanos. A violência de gênero tem crescido assustadoramente e vem acompanhada da desigualdade e do cultivo da cultura do machismo. Com a hashtag #UNDÍASINNOSOTRAS, a iniciativa ganhou a simpatia da imprensa e da população de um país que tem cerca de 63 milhões de mulheres, 60% da população total. Chamou a minha atenção o fato de essa mobilização feminista ultrapassar as barreiras de classe. Coletivos que abarcam mulheres de diferentes realidades socioeconômicas – inspirados pelo #MeToo – estão engajando as mexicanas em uma postura questionadora sobre os papéis sociais até então relegados a elas. Uma parte do movimento, inclusive, tem atitudes bastante contundentes que incluem a pichação de monumentos. O brado contra o governo é “estupram mulheres, protegem monumentos”.

A postura do presidente Andrés Manuel López Obrador tem sido durante criticada. Os especialistas em comportamento social dizem que a nova geração de mulheres do México não está disposta a perpetuar uma postura cordata; elas se cansaram do enfoque moderado do feminismo. No México, os casos de mortes de mulheres aumentaram 136% nos últimos cinco anos; em 2019 foram 1.006 casos, incluindo Cecilia Aldrighett, uma garota de 7 anos, torturada e que teve o cadáver encontrado dentro de uma sacola plástica. A indiferença e indolência do governo – palavras das ativistas – não são mais toleradas pelas mexicanas de todas as classes sociais. A imprensa local tem denunciado casos inacreditáveis que mostram o quanto essa violência está institucionalizada e arraigada. Uma lástima!

No Brasil, um estudo realizado pelo professor Jefferson Nascimento – doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP) – aponta que o nosso país possui a quinta maior taxa de feminicídio do mundo. O mapeamento atesta que 107 casos foram registrados nos primeiros 20 dias de 2019 em 94 cidades e 21 Estados. Desse montante, 68 foram consumados. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o número de assassinatos no país é de 4,8 para cada 100 mil mulheres.

Aqui, no México, espero acompanhar de perto esse movimento e momento histórico. Às mulheres do México, todo o meu apoio e solidariedade.





Lu Magalhães - presidente da Primavera Editorial, sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro. Graduada em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pennsylvania, Estados Unidos). A executiva atua no mercado editorial nacional e internacional há mais de 20 anos.


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