Presença de superbactérias avança em frangos e porcos e
ameaça saúde pública
A
resistência a antibióticos está aumentando rapidamente no Brasil, China, Índia,
Quênia e Uruguai. É o que conclui uma pesquisa recém-publicada na revista Science,
baseada na análise de mais de 900 estudos epidemiológicos. Estes são países em
que a produção de carne aumentou substancialmente nas últimas décadas,
impulsionada pela adoção de sistemas intensivos de criação de animais em
fazendas industriais. Nestes sistemas, antibióticos normalmente destinados à
medicina humana são usados tanto para promover o crescimento rápido dos animais
como de forma profilática, para aumentar a probabilidade de que os animais
possam sobreviver confinados em condições intensivas até a idade de serem
abatidos.
Em
nível global, mais de 70% dos antibióticos de uso médico são usados na
pecuária. O Brasil, em especial, tem um dos maiores índices globais de consumo
de antibióticos na pecuária. Este novo estudo mostra que os antibióticos mais
usados - as tetraciclinas, sulfonamidas, quinolonas e penicilinas - são os que
apresentam as maiores taxas de resistência. De 2000 a 2018, a proporção de
antibióticos aos quais as bactérias se tornaram resistentes quase triplicou em
galinhas e porcos.
“A resistência antimicrobiana é uma das maiores ameaças a medicina
moderna ... O mundo está caminhando para uma era pós-antibióticos, na qual
infecções comuns poderão ser novamente fatais” (Organização Mundial de
Saúde)
A presença de superbactérias em animais e nas carnes
comercializadas tem implicações sérias para a saúde humana. A transmissão de
superbactérias de animais para humanos pode ocorrer através da alimentação. É o
que alerta a Organização Mundial de Saúde (OMS). Além disso, animais como
frangos e porcos atuam como reservatórios destas superbactérias, por isto não
basta simplesmente consumir carnes rotuladas como livres de antibióticos. Hoje
em dia, mais de 700 mil pessoas morrem todos os anos por infecções resistentes
a antibióticos. Em 2050, estima-se que este número aumente para 10 milhões de
mortes ao ano, mais do que câncer ou diabetes. O governo britânico informa que
as as infecções resistentes a antibióticos poderão custar então ao mundo cerca
de 100 trilhões de dólares.
“Além dos problemas
éticos e ambientais, o consumo de carnes e derivados está contribuindo de forma
substancial para estarmos, em breve, em uma nova era em que os antibióticos não
terão mais efeito” comenta Ricardo Laurino, presidente da Sociedade
Vegetariana Brasileira. “Mais do nunca, é essencial que as pessoas revejam
seus hábitos alimentares”, complementa.
Fonte: Van Boeckel et al (2019). Global trends in antimicrobial
resistance in animals in low- and middle-income countries. Science 365: 6459.
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