Há muito tempo se fala que a advocacia e todo o
sistema jurídico passará por uma grande revolução digital. Acesso remoto, home
office, vídeo conferência, processo digital, pauta virtual, jurimetria e
inteligência artificial. Tudo isto já e realidade!
O futuro chegou ao Direito no galope de uma
pandemia. Os tribunais já emitiram e decidiram acabar com o atendimento
presencial, audiências, sustentações orais e atendimentos físicos a advogados,
o acesso à justiça só ocorrerá de forma impessoal e digital onde magistrados
“encastelados”, sem ouvir as partes pessoalmente, sem sentir e usar os demais
sentidos humanos, julgarão em larga escala com parâmetros padronizados,
parametrizados através de robôs, algoritmos, jurimetria e inteligência
artificial em uma indústria de larga escala e em um mundo onde cada vez
mais vemos direitos sendo mitigados, ou seja, com farta matéria prima.
A pandemia vem justificando, com quase uma
unanimidade, tais atos de todo o antigo e democrático sistema jurídico. O
contato com as partes, com a causa, o princípio da oralidade, da
acessibilidade, dos direitos humanos, das relações pessoais, políticas, dos
relacionamentos, dos debates acalorados em colegiados de julgadores, das
mudanças de posicionamentos, dos votos vencidos, mas debatidos, da réplica e
tréplica, da questão de ordem, da evolução jurisprudencial, da verve, do clamor
público, da paixão e da razão, darão lugar ao “click”, ao “curtir”, ao digitar!
Como ficará o contraditório? A Ampla defesa? E a
imperiosa proteção de uma cadeia de custódia de provas digitais e altamente
manipuláveis por montagens, por fake news, por softwares de edição de vídeos,
fotos, gravações de áudios?
O novo e frio império do Direito Digital que nem
Dworkin poderia vislumbrar, chegou de forma coativa e tão aceita como
justificativa para o salvamento da humanidade em plena pandemia.
Ufa, passará! Sim, a pandemia passará, mas será que
a justiça voltará a ser humanizada? Tais evoluções digitais que facilitam a
vida de todos, menos dos injustiçados, retrocederão
permitindo que nós advogados, juízes, promotores, e demais operadores possamos
atuar de forma presencial, direta, revolucionária, sem adulterações e edições
digitais por um mundo mais justo como decidimos quando escolhemos pela carreira
jurídica?
Sinceramente acho que não, as mudanças chegaram e
ficarão. Nossa justiça a partir desta pandemia será ainda isolada e menos
humana.
Fabiano Neves Macieywski - advogado, especialista
em direito ambiental e sócio do escritório Neves Macieywski Garcia Advogados
Associados.
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