Infectologista do Hospital Anchieta diz que a doença requer cuidados
específicos e no país o contágio dos
vírus A, B e C são mais comuns.
O Brasil e o mundo
ainda enfrentam um grave problema de saúde pública por conta das hepatites
virais. Conhecido também como uma inflamação no fígado de origem infecciosa
(vírus), a hepatite é uma doença que requer muita atenção porque os primeiros
sinais aparecem de maneira silenciosa, e é importante conhecer bem o próprio
corpo. Instituída há nove anos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 28
de julho é o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais, data de
mobilização e sensibilização de toda sociedade quanto à importância da
prevenção e tratamento.
Em cada país o tipo
de vírus predominante varia de acordo com as condições climáticas, de
saneamento básico, entre outras. “No Brasil, as hepatites virais mais comuns são
as causadas pelos vírus A, B e C. As hepatites por vírus D (Delta) e E são mais
frequentes na África e na Ásia. A hepatite G é uma variante causada por uma
mutação do vírus C detectado primariamente na Ásia”, explica o
infectologista do Hospital Anchieta, Manuel Palácios.
A OMS estima que pelo
menos 400 milhões de pessoas no mundo estão infectadas cronicamente pelos vírus
das Hepatites B e C, já no caso da hepatite A mais de 1,4 milhão de
pessoas são contagiadas com o vírus anualmente. Segundo a organização, 57% dos
casos de cirrose hepática e 78% dos casos de câncer hepático estão relacionados
aos vírus de hepatite B e C. As hepatites virais já causaram a morte demais de
1,5 milhão de indivíduos.
É recomendado fazer
exames preventivos por se tratar de uma doença assintomática, muitas vezes
silenciosa e que pode se agravar rapidamente. Esse fator “silêncio” dificulta o
tratamento e pode tornar a patologia crônica, com sequelas graves, como
insuficiência hepática, cirrose hepática, câncer de fígado e ainda ser fatal.
Os sintomas mais
comuns, independente da tipagem, são: cansaço, febre, mal-estar, tontura,
enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes
claras.
Diferenças dos tipos de Hepatites e prevenção
As hepatites A e E
são originárias de uma infecção aguda. Após a cura, o vírus é totalmente
eliminado do organismo e, em grande parte, não há necessidade de tratamento,
mas isso varia de caso a caso. O contágio pode acontecer por má
higiene-pessoal, ingestão de alimentos e água contaminados, sendo mais vulneráveis
pessoas que vivem em situação precária de saneamento básico. Para evitar a
doença, é importante sempre lavar bem os alimentos crus, lavar as mãos após o
uso de sanitários e antes das refeições. O álcool em gel também é um aliado na
higienização das mãos.
Já as Hepatites B, C,
D (ou Delta) e G se enquadram nas Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)
porque se manifestam após um ato sexual desprotegido ou pelo sangue quando
utilizados objetos cortantes que podem estar contaminadas, como alicates de
unha ou aparelhos para tatuagens. Outra forma de disseminação é da mãe para o
filho na gravidez, parto e amamentação. Por isso, é fundamental usar
preservativo durante as relações sexuais e na gestação é imprescindível o
acompanhamento médico.
O tipo B da doença
varia com pouca duração, aguda ou na forma crônica que requer tratamento com
antivirais específicos, orais e/ou injetáveis. No Brasil, existem vacinas
apenas para os tipos A e B, por isso a erradicação é difícil. A imunização do
tipo B previne também o vírus D e está disponível no Sistema Único de Saúde
(SUS) gratuitamente.
Dados epidemiológicos no Brasil
De 1999 a 2017, foram
notificados 587.821 casos confirmados de hepatites virais no Brasil, de acordo
com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde − Ministério
da Saúde (Volume 49, N° 31, de 2018). Sendo que 164.892 (28,0%) são referentes
aos casos de hepatite A, 218.257 (37,1%) de hepatite B, 200.839 (34,2%) de
hepatite C e 3.833 (0,7%) de hepatite D.
A região Nordeste
concentra a maior proporção das infecções pelo vírus A (30,6%). No Sudeste, as
maiores proporções são dos vírus B (35,2%) e C (60,9%). O Norte do país acumula
75% do total de casos de hepatite D (ou Delta).
De 2000 a 2016, foram
identificados 66.196 óbitos por causas básicas e associadas às hepatites virais
dos tipos A, B, C e D. Sendo que 1,7% foram associados à hepatite viral A,
21,4% à hepatite B, 75,8% à hepatite C e 1,1% à hepatite D.
Hepatites Virais e Câncer
A infecção pelo vírus
da hepatite B ou C quando se torna crônica está associada ao Hepatocarcinoma, o
câncer no fígado. “As hepatites podem acometer o individuo de forma aguda,
porém os sorotipos B e C podem cronificar causando repetidas lesões hepáticas
pela infecção do vírus e assim provocar cirrose. Isso aumenta os riscos de
desenvolvimento do hepatocarcinoma”, explica a oncologista do Hospital do
Câncer Anchieta (Hcan), Dra. Regina Hercules Vidal.
Com um bom
acompanhamento médico e tratamento, é possível se curar e evitar o retorno da
doença. “A abordagem multiprofissional é feita com as avaliações do
gastroenterologista, oncologista clínico, cirurgião oncológico, radiologista
intervencionista. Os tratamentos eficazes são o transplante hepático,
tratamento local com radiofrequência, crioabalção, quimioembolização,
radioterapia, quimioterapia e utilização de medicações com alvo molecular e
imunoterapia. O câncer de fígado não é o mais difícil de ser tratado, mas é
necessário cuidado para que não haja retorno”, afirma Dra. Regina Hercules
Vidal.
Quanto às gestantes,
o período requer atenção para não haver contágio. “As mulheres já com
diagnóstico de hepatite crônica com cirrose, normalmente, já estão fora da fase
reprodutiva ou possuem ciclos anovulatórios, ou seja, inférteis. A prevenção da
transmissão mãe-feto é muito importante, está relacionada a vários fatores e
precisa ser monitorada. Todo paciente com diagnóstico de hepatite viral crônica
tem que ser acompanhado por um especialista, com exames complementares. Se
prevenir com vacinas, como a da hepatite B, que está disponível gratuitamente
no SUS, é fundamental. Prevenção é o melhor tratamento”, conclui a oncologista
do Hcan.
O Ministério da Saúde
escolheu o mês de julho para realizar campanhas de conscientização com o tema
“Julho Amarelo”, também instituído pela Lei
13.802/19.
Hospital Anchieta
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