Segundo médico, pacientes sofrem e muitas vezes morrem
desnecessariamente devido à falta de conscientização, recursos e
principalmente, acesso aos serviços oncológicos
Na próxima segunda-feira (4 de
fevereiro), comemora-se o Dia Mundial de Combate ao Câncer. A data, criada pela
União Internacional de Controle do Câncer (UICC), visa mobilizar pessoas e
organizações mundiais para reforçar a importância de adoção de hábitos
saudáveis, atitudes de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento fundamentais
para o controle da doença.
“Infelizmente,
a realidade da saúde pública brasileira não permite o mesmo tratamento
disponível no sistema privado e ainda há entraves que prolongam o diagnóstico.
E, o câncer não dorme em berço esplêndido. Essa falta de acesso, de recursos,
de serviços muitas vezes leva a morte do paciente”, afirma o oncologista de
Campinas-SP, Adolfo Scherr, do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia.
No Brasil,
sancionada em novembro de 2012 e em vigor desde maio de 2013, a Lei 12.732
garante aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) o início do primeiro
tratamento oncológico em até 60 dias após o diagnóstico. “Porém, na prática,
esta lei não funciona. Um exemplo é um paciente diagnosticado com câncer de
próstata no estágio inicial. Se o tratamento definitivo indicado for a
radioterapia, este deve esperar em média um ano na fila para conseguir o
procedimento na rede pública. Isto sem contar no tempo gasto para o
diagnóstico, prazo este não contemplado pela lei, uma vez que uma biópsia de
próstata guiada por ultrassom é realizada em poucos serviços públicos, o que
faz com que boa parte dos pacientes que não possuem plano de saúde tenham que
pagar pelo exame ou quem não tem recursos, fica a mercê de uma longa espera. E
o câncer espera?”, indaga o oncologista.
Segundo
Dr. Adolfo, quando o diagnóstico é câncer a primeira palavra que vem à
mente do médico é tempo. “Para a maioria dos tumores malignos, quanto
mais precoces forem o diagnóstico e a terapêutica adequada, maiores as chances
de cura, ou seja, quanto menos tempo se ‘perder’ entre o início de um sintoma
ou o aparecimento de um nódulo suspeito na mama, por exemplo, e o diagnostico
seguido do tratamento, maiores as chances de sucesso. O paciente da rede
privada tem acesso muito mais rápido, diferente de quem depende do SUS”.
Tecnologia,
alta complexidade e aumento de custo
Segundo o
médico, em medicina, especialmente na oncologia, todo acréscimo de tecnologia e
vanguardismo vem obrigatoriamente acompanhado de um aumento nos custos. Por um
lado, exames como tomografia computadorizada, ressonância magnética,
cintilografia óssea entre outros são fundamentais para o diagnóstico. E por
outro, medicamentos que curam, ou que aumentam a sobrevida e a qualidade de
vida dos pacientes Todos considerados de alto custo.
“Resolver
este problema de subfinanciamento dos serviços públicos versus
alto custo dos tratamentos oncológicos não é simples e demanda um esforço
global que envolve governo, indústria farmacêutica, médicos e sociedade em geral”,
comenta Dr. Adolfo.
O médico
aponta que o orçamento previsto em 2019 para a saúde no Brasil é de R$ 128
bilhões. Deste montante, apenas 2% será destinado para a oncologia. “Esta é a
média anual de gasto do orçamento total do Ministério da Saúde para o tratamento
oncológico”, diz.
De acordo
com o oncologista, com os valores repassados pelo governo federal para as
instituições públicas (em sua maioria), ou privadas que prestam serviço ao SUS
no âmbito do tratamento de câncer, se consegue tratar de forma honesta a
maioria dos pacientes. Muitos são curados, segundo ele. “Porém, o que fazer
quando – não muito raro – o paciente necessita de um tratamento de alto custo e
este é, por vezes, é a sua única opção? Quem paga a conta? Muitas vezes é o
paciente, com sua vida”, alerta o médico.
Dr. Adolfo
afirma que os oncologistas devem lutar para que os serviços atendidos pelo SUS
tenham protocolos de tratamento oncológico baseados em evidências científicas e
em estudos de custo-efetividade, uma vez que nem sempre a droga mais cara e
mais recente lançada no mercado é a mais eficaz e mais custo-efetiva.
“Além
disso, é de extrema importância o engajamento dos oncologistas, em especial os
que trabalham em serviços públicos, com as sociedades médicas como, por
exemplo, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) que mantém uma via
permanente de diálogo e negociação junto ao Ministério da Saúde na busca de
incorporação de novas tecnologias e tratamentos contra o câncer no âmbito do
SUS”, finaliza.
Dados do
câncer
Segundo
estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil terá cerca de 582
mil novos casos de câncer em 2019. Um estudo conduzido pelo grupo Observatório
de Oncologia em parceria com o Conselho Federal de Medicina mostrou que o
câncer já é a principal causa de morte em 10% dos municípios brasileiros,
superando os óbitos por doenças cardiovasculares, atualmente líderes em
mortalidade. E a estimativa é que, em 2030, as neoplasias sejam a primeira
causa de morte no país.
Adolfo Scherr - graduado
em medicina pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de
Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Fez residência em Clínica Médica
pelo Conjunto Hospitalar do Mandaqui-SP. Possui residência em Oncologia Clínica
pela Unicamp e Mestrado em Clínica Médica pela FCM-Unicamp. É membro titular da
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) com título de Especialista em
Cancerologia Clínica pela Associação Medica Brasileira – AMB/SBOC. Adolfo faz
parte do corpo clínico de oncologistas do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e
Hematologia e atua no Hospital Vera Cruz, no Instituto Radium de Campinas e no
Hospital Santa Tereza.
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