De acordo com estudo, adquirir experiência na
área é o principal motivador desses estudantes
Em
tempos de crise, como o atual, o desemprego no mercado celetista pesa mais
sobre a mão de obra mais nova da população brasileira. Diante de um cenário
econômico desfavorável, o grupo amarga os piores efeitos da recessão. Para se
ter ideia, a redução de postos entre os jovens no Brasil atingiu, no fim de
2017, a maior taxa em 27 anos. Segundo o estudo "Tendências Globais de
Emprego para a Juventude 2017", realizado pela Organização Internacional
do Trabalho (OIT), a taxa brasileira supera o dobro da média mundial, de 13,1%.
Entre mais de 190 países avaliados, apenas 36 têm uma situação pior que a nossa
para os jovens.
Além
dos cortes, eles ainda enfrentam aquele velho dilema: para entrar no mundo
corporativo é preciso experiência prévia. Mas como adquiri-la sem uma primeira
chance? Por isso, aqueles que ainda frequentam as salas de aulas recorrem a
outras alternativas, como o estágio. Inclusive, segundo uma pesquisa
especializada, a modalidade está tão atraente para os estudantes que vem
ganhando o posto de primeira opção como porta de entrada no mercado de trabalho.
Segundo especialistas, além de fato de não exigir experiência, esses programas
proporcionam a vivencia profissional que os jovens necessitam para o
desenvolvimento da carreira.
Sobre o estudo
Segundo
um levantamento feito pela Companhia
de Estágios – consultoria e assessoria especializada em programas de
estágio e trainee – quase 60% dos jovens estão em busca de uma oportunidade de
estágio e apenas 4% procura, especificamente, por uma vaga CLT. Entre aqueles
que já atuam no programa, o cenário não é muito diferente: 39% almeja uma
efetivação, enquanto 37% deseja ingressar em outro estágio. Somente 24% tem
como prioridade encontrar uma colocação formal.
Mais
de 90% dos jovens que esperam a efetivação estão satisfeitos com a vaga de
estágio atual e desejam permanecer na empresa. Já entre os que querem
partir para o mercado celetista, esse índice cai para 64%. Dentre os
estagiários que pretendem procurar outra vaga no programa após a conclusão do
contrato atual, o nível de satisfação com a vaga é equilibrado. De acordo com
Tiago Mavichian, diretor da recrutadora, isso pode acontecer por várias razões:
“Pode ocorrer um descontentamento com a empresa na qual está atuando, ou o
desejo de aprender mais sobre a profissão, visto que os contratos de estágio
são relativamente curtos e, nem sempre, o estudante consegue aprender tanto
quanto gostaria, ou, até mesmo, o intuito de conhecer outros campos de atuação”
– explica o especialista.
Desenvolvimento de carreira e remuneração
35%
dos estagiários que esperam ser efetivados alegam que a maior preocupação, no
momento, é conseguir ser promovido no trabalho e impulsionar a carreira. A
remuneração oferecida pelos empregadores também pode contribuir para tal
decisão: 58% desses jovens recebem bolsa auxílio acima de R$1.200. Já para os
estudantes que, embora satisfeitos com o estágio, querem procurar outra
oportunidade, a prioridade é adquirir mais experiência antes de se candidatarem
ao mercado formal. Aliás, essa é a maior preocupação do momento para 34% deles.
Cenário econômico nacional
Apesar
de lenta, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou
sinais de uma recuperação: entre janeiro e junho deste ano o país voltou a
criar empregos e apresentou um saldo de 392.461 novos postos. Mas essa melhora
ainda passa longe do esperado, especialmente diante da grande procura. Para se
ter ideia, no último dia 16 de julho, cerca de 6.000 pessoas compareceram a um
mutirão realizado no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, que oferecia vagas com
salário médio de 1.200 reais, valor, muitas vezes, menos atrativo quando
comparado à outras modalidades, como a autônoma e, até mesmo, o estágio. Além
disso, o índice de medo do desemprego, medido desde 1996 pelo Ibope e pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI), chegou ao seu pico no final do
primeiro semestre do ano. O indicador, que vai de 0 a 100, registrou 67,9
pontos.
Mercado saturado
De
acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o aumento do desemprego foi maior entre os jovens do que em
outras faixas da população. No primeiro semestre do ano, a taxa chegou a 28,1%
na faixa etária de 18 a 24 anos e 43,6% entre 14 a 17 anos. O estudo, que faz
parte da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, mostra
que, apesar do recuo no número de postos fechados, que caiu de 13,1% para 12,4%
no trimestre encerrado em junho, o desemprego ainda atinge, no total, 13
milhões de brasileiros.
Além
disso, o levantamento também registrou o maior índice de pessoas fora da força
de trabalho (que não trabalham nem procuram) desde o início da série histórica
do IBGE, em 2012. 65,6 milhões de brasileiros integram o grupo, composto por
donas de casa, aposentados, jovens, estudantes, e pessoas que deixaram de ter
disponibilidade ou que desistiram de procurar um emprego formal. Diante desse
cenário negativo, os jovens buscam alternativas para não ficarem à margem do mercado,
por isso, o estágio acaba se mostrando uma opção atraente a esse público, que
geralmente cursa o ensino médio ou a graduação.
Programas de estágio
Para
Mavichian, essa situação não é exclusividade do Brasil: “Em países que
contabilizam o valor das verbas rescisórias pelo tempo de serviço prestado à
empresa, é comum que os cortes cheguem primeiro na mão de obra mais jovem,
afinal essa demissão é mais barata do que a de um veterano. Isso diminui o ônus
patronal. E o mesmo ocorre com as contratações, pois os jovens têm pouca ou
nenhuma experiência profissional, e, necessariamente, precisam ser treinados
pelas empresas, o que gera custo. Por isso o empregador tende a descartar esse
grupo do quadro de colaboradores”. Já no estágio, o diretor da recrutadora
explica que isso não é um impedimento. O programa tem cunho educativo e visa
ser o complemento prático de tudo o que é apreendido em sala de aula para
proporcionar o desenvolvimento profissional do estudante.
Portanto, a
experiência prévia é um requisito dispensável, assegurado por lei.
Segundo
Mavichian, as empresas que implementam o programa de estágio procuram,
justamente, por um jovem em formação: “O principal intuito é treinar o
estudante de acordo com a cultura da empresa, para que este se desenvolva
profissionalmente e possa integrar o quadro efetivo no final do contrato. Além
disso, o estudante oferece um olhar em constante capacitação, que está antenado
com as principais tendências do mercado na atualidade e, na maioria das vezes,
isso é de grande valia para a organização. Ou seja, é uma via de mão dupla,
porque o estudante também adquire bagagem profissional e desenvolve sua
carreira” – finaliza o especialista.
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