A gente até se acostuma a ver e encontrar, embora nem sempre possa
reconhecer de cara. Às vezes leva anos. Mas nunca o que é falso esteve tão em
voga, sendo usado ou mesmo combatido diariamente. As informações chegam falsas
para que o nosso passo seja dado em falso.
Se ser falso fosse
carimbo na testa ia ter muita gente precisando cobrir bem com maquiagem pesada
para sair por aí. Mas agora estamos às voltas com o pior, com a
irresponsabilidade descarada de fazer ou ajudar a circular informações,
afirmações, falsas. O que já tem trazido consequências devastadoras e
perigosas. Por exemplo, o baixo índice de vacinação e imunização para doenças
graves que já estavam prescritas e voltam a nos assolar.
Nosso país é no geral,
ignorante, e isso não afeta só pessoas pobres ou que não tenham estudos - elas
muitas vezes sabem até mais do que muitos letrados, conhecem a vida e a verdade
na própria carne. Temo que, porque justamente de origem essas informações
falsas estejam sendo passadas na maldade, por quem sabe exatamente o foguete
que está lançando e até sendo pago para isso, estejam fazendo maior estrago.
Tentam aparentar ter alguma chancela, nobreza, testemunho; tudo falso.
Afinal, em um país onde
os telefones de emergência recebem mais trotes do que chamados reais, o campo é
fértil. Num país que qualquer zinho
que coloque um Dr.
na frente de seu nome escancara portas... Qualquer que mostre carteira com
brasão e se empine todo...
Mas é a propagação que
deve ser analisada, como se fôssemos bombeiros diante de um incêndio. Primeiro
joga a água, esfria.
E o dedinho nervoso? Que
compartilha insanamente tudo o que recebe? Aquelas vozes sinistras em gravações
de áudio: “Aqui é o fulano...”.
Pior se ainda põe o recado “Repasso, como chegou” ... “Não chequei, mas veio de
boa fonte...” e aí aparece como “fonte” o primo do irmão do avô do tio, filho
da mãe de um amigo, que garante ser verdade. Vou falar: vejo (e recebo) até de
jornalistas
importantes, nomões,
que em redações creio que jamais fariam isso. Seria a comichão vontade de
participar, dizer que sabe, soube? Talvez. Isso fora quem distorce, torce e
torce os fatos de alguma afirmação correta até ela se tornar falsa.
Beleza falsa – outro
tema da hora - é pouco. Temos falsos profissionais, médicos, mecânicos;
remédios falsos; falsos sites, e-mails, falsos alarmes; falsos ricos, falsos
conquistadores; falsas campanhas de caridade! Mais falso que os nomes
verdadeiros de artistas, a arte falsa.
Falsos sequestros! Eu
que não tenho filhos vivo recebendo aviso de que algum deles foi sequestrado.
Outro dia segurei, disfarçando a voz e me fazendo teatralmente de pai
desesperado, mais de dez minutos de conversa com um bandido que ligou aqui. É
impressionante, gente, a violência, virulência e contundência. No meio da
conversa, fazem fortes ameaças, e, claro, citam Deus, se dizem família também,
e fazem jorrar frases feitas e bíblicas na linguagem modo “mano”. E o coitado
do “filho” fica berrando lá atrás como se estivesse sendo estripado: socorro, papai, paga logo o que eles
estão pedindo!
Ganhar na loteria a
gente não ganha, mas receber esse tipo de chamada é comum.
Sei é que está tudo tão
falso como a tal nota de três reais, os discursos de campanha e risadas em
programas de humor.
Dá vontade de se
esconder em algum fundo falso até tudo passar. Ah! E usar roupas com bolsos
falsos para não ser roubada!
Marli Gonçalves - jornalista. Fato.
2018, agosto, é bem assim.
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