A despeito
da redução em 32% da taxa de gravidezes em adolescentes observada nos últimos
anos no estado de São Paulo, o mesmo fenômeno não tem sido observado em
estatísticas que englobam o Brasil como um todo
É
sabido que o recém-nascido de uma mãe adolescente tem chance aumentada de ser
prematuro ou de baixo peso, motivos suficientes para aumentar sua
morbiletalidade neonatal e pós-neonatal.
Por outro lado, o aleitamento materno (AM) reduz a
morbidade e a mortalidade infantis pela proteção que oferece à criança contra
uma série de enfermidades potencialmente letais, como as doenças respiratórias,
a desnutrição e as diarreias.
Estudos mostram prevalência menor de aleitamento exclusivo
entre adolescentes, quando comparadas com mães adultas. A literatura aponta a
adolescência entre os fatores de risco para o desmame precoce.
Autores relatam risco relativo entre 1,38 e 1,48 para a
cessação do aleitamento exclusivo antes dos seis meses de vida, conforme
preconizado pela OMS e pelo Ministério da Saúde.
Vários são os motivos descritos para essa menor disposição
da mãe adolescente em amamentar, a iniciar pela própria pouca experiência e
pelo conhecimento reduzido a respeito da amamentação. Além disso, o medo da
dor, da dificuldade com o ato de amamentar e do embaraço diante de uma possível
exposição pública também pode se constituir em barreira a influenciar
negativamente a decisão da adolescente sobre o AM. Há, ainda, referência à
própria vida conjugal, atividade fora do lar e dificuldade para amamentar nos
primeiros dias, como fatores associados ao desmame em adolescentes.
Estudo clássico norte-americano mostra que pouco mais da
metade das puérperas adolescentes optou espontaneamente pelo AM. Esta decisão
independeu do tipo de parto, índice de Apgar, peso ao nascer, idade gestacional
ou sexo do bebê. Os autores observaram, ainda, que 83% das adolescentes haviam
tomado a decisão sobre amamentação antes do terceiro trimestre da gestação, o
que mostra a importância fundamental da educação pré-natal precoce. Além disso,
praticamente um terço delas já havia se decidido antes da gravidez, sugerindo
que os programas de educação em aleitamento materno deveriam começar antes
mesmo do pré-natal, idealmente, durante o ensino fundamental.
Experiência no Reino Unido mostrou o impacto positivo de
uma clínica de assistência pré-natal dedicada exclusivamente a gestantes
adolescentes sobre os resultados obstétricos e neonatais. A avaliação feita
doze meses após o início das atividades mostrou melhora em uma série de
parâmetros, como aumento na taxa de partos vaginais, aumento da média de peso
ao nascer, redução das admissões em unidade neonatal de cuidados especiais,
aumento da prática de contracepção e prolongamento do tempo de aleitamento
materno.
Frente ao exposto, é importante que o profissional de saúde esteja atento a todas as oportunidades que lhe são oferecidas, seja como orientador ou cuidador, para contribuir positivamente no sentido de aumentar a prática da amamentação entre as adolescentes, especialmente aquelas que se encontram grávidas pela primeira vez. Neste aspecto, é fundamental manter um diálogo não inquisidor, mas encorajador, desde o início do pré-natal, transmitindo confiança e procurando detectar os conceitos da jovem sobre a amamentação, quais os seus medos e eventuais tabus sobre o assunto e, principalmente, se ela já se decidiu a respeito.
A existência de grupos de discussão pré ou pós-consulta facilita um esclarecimento mais detalhado. No ambulatório de pré-natal do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, todas as grávidas adolescentes são convidadas a participar desses grupos. Os temas discutidos incluem vantagens do AM, consequências do desmame precoce, fisiologia da lactação, extração manual e conservação do leite humano, cuidados com as mamas, alimentação da gestante e da nutriz, amamentação em sala de parto, importância do alojamento conjunto, uso de drogas e contracepção durante o AM, técnicas de amamentação, dificuldades mais frequentes e legislação a respeito.
Frente ao exposto, é importante que o profissional de saúde esteja atento a todas as oportunidades que lhe são oferecidas, seja como orientador ou cuidador, para contribuir positivamente no sentido de aumentar a prática da amamentação entre as adolescentes, especialmente aquelas que se encontram grávidas pela primeira vez. Neste aspecto, é fundamental manter um diálogo não inquisidor, mas encorajador, desde o início do pré-natal, transmitindo confiança e procurando detectar os conceitos da jovem sobre a amamentação, quais os seus medos e eventuais tabus sobre o assunto e, principalmente, se ela já se decidiu a respeito.
A existência de grupos de discussão pré ou pós-consulta facilita um esclarecimento mais detalhado. No ambulatório de pré-natal do Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, todas as grávidas adolescentes são convidadas a participar desses grupos. Os temas discutidos incluem vantagens do AM, consequências do desmame precoce, fisiologia da lactação, extração manual e conservação do leite humano, cuidados com as mamas, alimentação da gestante e da nutriz, amamentação em sala de parto, importância do alojamento conjunto, uso de drogas e contracepção durante o AM, técnicas de amamentação, dificuldades mais frequentes e legislação a respeito.
A educação pré-natal é particularmente importante para as
adolescentes que vivem em locais onde é fácil adquirir mamadeiras e fórmulas
infantis, bem como, em locais onde a alta hospitalar pós-parto seja muito
precoce.
De qualquer modo, o profissional de saúde deve estar preparado
para desestimular a grávida adolescente de qualquer prática que já se
demonstrou ser totalmente inútil durante a gestação, como massagens nas mamas,
exercícios para as papilas, expressão do colostro e aplicação de pomadas ou
cremes nas papilas.
O sucesso do aleitamento materno
também dependerá de procedimentos que ajudem a adolescente por ocasião do
parto, como presença de acompanhante de sua escolha, parcimônia com analgésicos
e sedativos que possam interferir no comportamento do recém-nascido e,
especialmente, o estímulo ao parto normal.
Mais que a adulta, a mãe adolescente necessita de bastante
atenção e apoio para amamentar com sucesso nos primeiros dias após o parto. Por
isso, o incentivo ao sistema de alojamento conjunto, a assistência profissional
quanto ao posicionamento correto do bebê para uma sucção adequada, a
amamentação por livre demanda quanto ao horário e à duração das mamadas são
fatores fundamentais para o estabelecimento do aleitamento materno exclusivo.
Após a alta hospitalar, é muito interessante o
envolvimento de familiares, como a própria mãe ou outra parenta próxima, para
transmitir a confiança necessária à jovem nutriz, além da ajuda, sempre que
possível, do seu marido. O importante é que ela acredite que é capaz de amamentar,
que a sua criança não necessita de nada além do seu leite e que suas mamas,
seja do tamanho que forem, produzirão leite adequado e em quantidade
suficiente.
Além disso, o encaminhamento da mãe adolescente a grupos
de apoio é essencial na prevenção das principais causas de desmame, como a
“insuficiência de leite”, os traumatismos papilares, o ingurgitamento mamário e
a possível mastite puerperal.
Todas as evidências científicas apontam que a forma mais
eficaz de ajudar as puérperas adolescentes a estabelecer e manter o aleitamento
materno é o suporte pessoal contínuo por uma pessoa com conhecimentos adequados
sobre a amamentação.
Em suma, cada qual tem sua parcela de responsabilidade
diante do desafio de aumentar os índices de amamentação entre as adolescentes,
seja profissional de saúde, gestor, autoridade governamental, político, ou
mesmo, simples cidadão ou cidadã.
Corintio
Mariani Neto - Comissão de Aleitamento Materno da Federação Brasileira de
Associações de Ginecologia e Obstetrícia – FEBRASGO
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