De vez em quando retornam as discussões sobre quais
invenções, ou inovações, tiveram maior impacto sobre o aumento da produção, da
produtividade (produto por hora de trabalho) e do bem-estar da população. Algumas
são unanimidades. É o caso da agricultura, que, descoberta há 10 mil anos,
libertou a humanidade da vida nômade (mudança constante de local em busca de
alimentos) e ampliou enormemente as possibilidades de bem-estar social.
Outra ação humana revolucionária que impactou
profundamente a produção e o comércio foi a domesticação do cavalo, ocorrida há
6 mil anos nas estepes da Ucrânia, sudoeste da Rússia e Cazaquistão. O cavalo
viria a se tornar importante meio de transporte de homens e cargas, fazendo que
a vida humana melhorasse substancialmente. Nessa galeria, outra invenção
decisiva para o progresso foi o papel. Inventado por Cao Lun em torno do ano
105 antes de Cristo e feito com fibras vegetais, o papel teve enorme efeito no
desenvolvimento econômico e social.
Em 1455, Johannes Gensfleisch zur Laden zum
Gutenberg criou uma das maiores contribuições para o mundo: a imprensa. A
tipografia tornou possível que os textos, antes manuscritos, fossem impressos
por “tipos” – letras móveis produzidas em cobre e fixadas em uma base de
chumbo, que recebiam a tinta e eram prensadas no papel. Esse invento, ao lado
de outros, promoveu uma revolução tão grande que a essa época convencionou-se
chamar de “Renascimento”. E a vida do homem nunca mais foi a mesma.
No mundo moderno, uma invenção genial foi a máquina
a vapor, sobretudo por estar na base da Revolução Industrial (1760-1830) e no
aumento expressivo da produtividade. A máquina a vapor deu os primeiros passos
em 1698, quando Thomas Savery, engenheiro militar inglês, criou um motor para
ser utilizado dentro das fábricas. Depois veio Thomas Newcomen, em 1712, com
uma nova máquina que poderia ser utilizada dentro de minas de carvão.
Porém, a mais fantástica revolução nos processos
produtivos veio com a invenção, por volta de 1870, da energia elétrica tal qual
a conhecemos hoje. E a humanidade seguiu fazendo maravilhas com sua
inteligência. O telefone (1876), o rádio (1920), a telefonia celular (1973), a
internet (1989), além de muitos outros em várias áreas, sobretudo na cura de
doenças. Atualmente, há milhares de invenções e inovações em curso, das quais
quase nada sabemos, que vão revolucionar radicalmente a vida humana nas
próximas décadas.
Enquanto tantas inovações estão acontecendo no
mundo, nós, no Brasil, passamos os dias bombardeados por uma avalanche de
notícias e desgraças morais produzidas nas estruturas e nas instituições de
Estado, instituições essas que deveriam cuidar das bases para o progresso da
ciência, da moral e do bem-estar social. Com tanta evolução ocorrendo no
exterior, fora no campo da ciência e da tecnologia, o Brasil está gastando
tempo, energia e dinheiro do povo com desmandos e as misérias do poder e da
política.
Nos estudos comparativos internacionais, o
desempenho do Brasil na educação, na ciência e na tecnologia é pífio, fraco. E
as últimas estatísticas mostram algo pior: o Brasil nem gasta pouco com
educação; gasta absurdamente mal. Isto é, o país faz as coisas malfeitas ou por
falta de dinheiro ou, quando põe dinheiro, por ineficiência, corrupção e
inchaço de burocracias estatais. Há momentos em que cabe perguntar: será que,
se o sistema estatal brasileiro tivesse 50% a mais de dinheiro, a educação
básica, a saúde e a pesquisa não continuariam sendo quase tão ruins quanto são
hoje? A questão está aberta, em busca de resposta.
José Pio Martins - economista, é
reitor da Universidade Positivo.
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