A
morte ganha um dia próprio no calendário de muitas culturas e tem diversas
interpretações. Você sabe quais são seus significados? De onde vem o medo da
morte? Quais as concepções da morte na modernidade? O psicólogo da
Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista no assunto, Aurélio Melo,
comenta os principais tópicos que cercam o tema.
O que é a morte?
A
morte é, ao mesmo tempo, necessária e impossível ao pensamento. É o que diz o
filósofo francês Comte-Sponville. Isso significa dizer que não ficamos sem
pensar na morte, logo ela é necessária. Mas não temos a experiência da morte
(ninguém nunca voltou dela), logo ela é impossível conhecê-la.
Porque
temos medo da morte?
Todos
temos medo da morte: as crianças, os velhos, os ateus, os religiosos, os
corajosos e os covardes. São muitos os tipos de medo: medo do fim, medo de
sofrer, medo do desconhecido, medo da separação e do abandono.
Nascemos
com medo da morte?
Não.
Quando criança pequena, nos primeiros anos de vida, sequer distinguimos seres
animados de inanimados. Portanto, não se sabe o que é morrer. A ideia da
morte vai sendo conhecida paulatinamente e é por volta do início da
adolescência que se tem a ideia da morte como evento natural, universal e
irreversível.
O
homem sempre temeu a morte?
Não. A
morte foi encarada de diferentes maneiras pelo homem, de acordo com cada época
e cultura. Por exemplo, no século XIX, no ocidente marcado pelo romantismo, a
morte era, de certa maneira desejada pelos jovens. Era glamoroso morrer jovem e
apaixonado. Já nos dias atuais, "afastamos" a morte da nossa vida e,
quando ela aparece, lamentamos como se fosse uma falha tecnológica, um
acontecimento que poderia ter sido evitado se a medicina fosse mais avançada.
Existe
morte em vida?
Sim.
Há a morte das pessoas próximas, queridas ou conhecidas (as celebridades) que
nos traz uma experiência de separação, perda, dor. É a morte do outro. Há
também mortes simbólicas pelas quais passamos ao longo da vida: a aposentadoria
(morte profissional); a velhice (morte social); a menopausa (morte da
fertilidade); a separação conjugal (morte do outro dentro de mim).
O que
é a morte hoje?
A
morte hoje vem sendo expropriada. Ou seja, vem sendo expulsa do seu lugar. Não
se fala em morte, nem na morte. Em poucos dias, a morte cai no esquecimento. Os
rituais funerários são cada vez mais rápidos e esvaziados de carga dramática. A
morte atrapalha e, como diz o título de um belo filme: "The show must go
on" (o espetáculo deve continuar).
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