87%
das brasileiras que vivem em áreas urbanas foram assediadas no último mês,
afirma ActionAid Brasil tem pior resultado entre quatro países pesquisados;
ocorrência de assédio antes dos 10 anos de idade também é maior por aqui
Oitenta e sete por cento das mulheres brasileiras que vivem em áreas urbanas
disseram ter sido assediadas no último mês em pesquisa divulgada nesta
sexta-feira (25.11) pela organização internacional de combate à pobreza ActionAid.
Entre as formas de abordagem relatadas pelas entrevistadas, estão assovios
(65%), ser encarada (59%), ouvir comentários de cunho sexual (52%), insultos
(38%), ser seguida na rua (29%), deparar-se com homens se exibindo (29%) e ser
tocada (20%). Cinquenta e cinco por cento das entrevistadas relataram ter sido
assediadas na rua e 23%, no ambiente de trabalho.
O
estudo é divulgado por ocasião do Dia Internacional pelo Fim da Violência
Contra as Mulheres, celebrado em todo o mundo neste 25 de novembro, e foi encomendado
pela ActionAid ao instituto global de pesquisa YouGov. Numa comparação com
outros três países, o Brasil é o que apresenta a maior incidência de assédio no
mês anterior à pesquisa, realizada entre os dias 1 e 14 de novembro: 87% contra
76% de respostas positivas na Tailândia, 73% na Índia e 57% na Grã-Bretanha.
Além
disso, 86% das brasileiras entrevistadas afirmaram tomar alguma providência
para se proteger das abordagens indevidas. Dentre as medidas, estão: fazer um
caminho diferente do usual (55%), evitar parques ou áreas mal iluminadas (52%),
ligar ou enviar mensagem para alguém confirmando estar bem (48%), solicitar a
companhia de outra pessoa (44%), evitar transporte público (17%) e desistir de
ir a um evento social (18%).
A
pesquisa também aponta que, entre os quatro países pesquisados, a maior
porcentagem de mulheres que passaram por alguma forma de assédio antes dos 10
anos de idade está no Brasil. Dezesseis por cento das entrevistadas disseram
ter sido assediadas antes dos 10 anos de idade e 55%, com 18 anos ou menos. Na
Grã-Bretanha, 12% relataram ter sido abordadas antes dos 10 anos, contra 8% na
Tailândia e 6% na Índia.
A
pesquisa divulgada nesta sexta-feira vem na sequência de outro estudo publicado
em maio deste ano, que mostrou que 86% das brasileiras já sofreram assédio em
público. O objetivo de ambos os levantamentos é chamar atenção para a violência
representada por este tipo de abordagem nas vidas das mulheres e que acontece,
em proporções diferentes, em países e culturas diversas.
“O
assédio é uma enorme violência contra as mulheres e impacta suas vidas todos os
dias, seja pela ocorrência de situações traumatizantes, seja pela convivência
constante com o medo, que as faz criar estratégias para se proteger, como mudar
de caminho ou deixar de usar determinado meio de transporte. O fato de o Brasil
ter se saído pior na comparação com outros países chama atenção para o debate
urgente que precisamos realizar sobre a cultura do estupro tão vigente por aqui
e sobre as condições existentes para que ela seja perpetrada”, afirma Jéssica
Barbosa, assessora do Programa de Direito das Mulheres da ActionAid no Brasil.
Para
combater a violência contra as mulheres, a ActionAid tem uma campanha global
chamada Cidades Seguras para as Mulheres, que pede a melhoria dos serviços
públicos, a fim de diminuir a vulnerabilidade das mulheres nos espaços urbanos.
No Brasil, a campanha foi lançada em agosto de 2014 e já alcançou algumas
conquistas, como a iluminação de Heliópolis, em São Paulo, com lâmpadas de LED,
após caminhada das mulheres do bairro denunciando os pontos de escuridão e
insegurança.
“A
qualidade dos serviços de iluminação, transporte e segurança, por exemplo, tem
implicações na violência de gênero que acontece nas cidades. As mulheres
precisam estar o menos vulneráveis possível. É preciso que o planejamento
urbano leve em consideração as necessidades específicas das mulheres como
usuárias das cidades e direcione a oferta de serviços públicos de acordo com
suas realidades”, completa Jéssica.
NOTAS
AO EDITOR
1.
Todos os resultados foram obtidos pelo YouGov Plc. O tamanho total da amostra
foi de 2.236 mulheres: 1.038 na Grã-Bretanha, 502 no Brasil, 496 na Tailândia e
200 na Índia. A pesquisa foi realizada online no período entre 1 e 14 de
novembro. Os números foram ponderados e são representativos de todas as
mulheres maiores de idade na Grã-Bretanha, todas as mulheres online na
Tailândia, e toda a população urbana feminina de Brasil e Índia.
2.
Para a pesquisa, foram considerados assédio atos indesejados, ameaçadores e
agressivos contra as mulheres, podendo configurar abuso verbal, físico, sexual
ou emocional.
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