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quinta-feira, 23 de maio de 2019

Nove dos 17 estados da Mata Atlântica estão no nível do desmatamento zero, aponta estudo


Entre 2017 e 2018 foram desmatados 113 Km² no bioma, o menor desmatamento registrado pelo Atlas da Mata Atlântica desde 1985


O desmatamento da Mata Atlântica entre 2017 e 2018 caiu 9,3% em relação ao período anterior (2016-2017), que por sua vez já tinha sido o menor desmatamento registrado pela série histórica do Atlas da Mata Atlântica, iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que monitora o bioma desde 1985. O estudo tem patrocínio de Bradesco Cartões e execução técnica da Arcplan.

O relatório aponta que no último ano foram destruídos 11.399 hectares (ha), ou 113 Km², de áreas de Mata Atlântica acima de 3 hectares nos 17 estados do bioma. No ano anterior, o desmatamento tinha sido de 12.562 hectares (125 Km²).

Acesse o relatório completo em www.sosma.org.br/quem-somos/publicacoes/

Dos 17 estados, nove estão no nível do desmatamento zero, com desflorestamentos abaixo de 100 hectares, ou 1 Km². São eles: Ceará (7 ha), Alagoas (8 ha), Rio Grande do Norte (13 ha), Rio de Janeiro (18 ha), Espírito Santo (19 ha), Paraíba (33 ha), Pernambuco (90 ha), São Paulo (96 ha) e Sergipe (98 ha). Outros três estados estão a caminho desse índice: Mato Grosso do Sul (140 ha), Rio Grande do Sul (171 ha) e Goiás (289 ha).

Marcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, destaca que o resultado positivo tem relação com ações afirmativas de monitoramento sistemático e combate ao desmatamento empenhadas por órgãos ambientais estaduais, polícia ambiental, Ministério Público e Ibama nos últimos anos. É o caso de ações realizadas em regiões da Mata Atlântica como as do projeto "De Olho no Verde", do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro vinculado à Secretaria de Estado do Ambiente, ou a operação nacional "Mata Atlântica em Pé", que envolveu Ministérios Públicos e órgãos ambientais de 15 estados em 2018.

"Esses dados comprovam como o acompanhamento da sociedade civil e investimentos dos governos no cumprimento da Lei da Mata Atlântica, por meio dos órgãos de conservação, fiscalização e controle, trazem resultados concretos. Este tipo de ação precisa ter continuidade", observa. Vale ressaltar que a Mata Atlântica é o único bioma brasileiro com uma lei específica.

A Bahia é um exemplo de como as ações de comando e controle são importantes. Há dois anos, foi o primeiro estado do ranking, com 12.288 hectares desmatados entre 2015 e 2016 – número maior do que o total de desmatamentos neste ano, por exemplo. "Naquele ano, o então secretário de Meio Ambiente do estado esteve no nosso 'Encontro das Secretarias de Meio Ambiente dos estados da Mata Atlântica', onde se comprometeu com o combate ao desmatamento e realizou operações de fiscalização", explica Marcia.

No ano seguinte, a partir das ações afirmativas realizadas, o estado teve uma redução de 67% no desmatamento – foram 4.050 hectares desmatados. Agora, verifica-se uma segunda queda, de 51%, apesar do estado ainda ser um dos maiores desmatadores.


Quem ainda desmata

Apesar dos resultados positivos desta edição do Atlas da Mata Atlântica, cinco estados ainda mantém índices inaceitáveis de desmatamento: Minas Gerais (3.379 ha), Paraná (2.049 ha), Piauí (2.100 ha), Bahia (1.985 ha) e Santa Catarina (905 ha).

Para o diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, é preciso ficar atento às mudanças propostas pelo atual governo federal que podem reverter as conquistas alcançadas até aqui. "Não podemos permitir o enfraquecimento da gestão ambiental e nenhuma tentativa de flexibilização da legislação" enfatiza.

Confira o ranking de desmatamentos entre 2017-18, em hectares:

UF
Área UF
UF na Lei
% na Lei
Mata 2018
% Mata 2018
Desmatamento 17-18
Variação
Desmatamento 16-17
MG
58.651.979
27.622.623
47%
2.829.026
10,20%
3.379
8%
3.128
PI
25.157.775
2.661.841
11%
901.787
33,90%
2.100
42%
1.478
PR
19.930.768
19.637.895
99%
2.322.682
11,80%
2.049
25%
1.643
BA
56.473.404
17.988.595
32%
2.004.746
11,10%
1.985
-51%
4.050
SC
9.573.618
9.573.618
100%
2.189.122
22,90%
905
52%
595
GO
34.011.087
1.190.184
3%
30.172
2,50%
289
75%
165
RS
26.876.641
13.857.127
52%
1.092.336
7,90%
171
-15%
201
MS
35.714.473
6.386.441
18%
712.374
11,20%
140
21%
116
SE
2.191.508
1.019.753
47%
69.901
6,90%
98
-71%
340
SP
24.822.624
17.072.755
69%
2.344.483
13,70%
96
6%
90
PE
9.815.022
1.690.563
17%
198.346
11,70%
90
-75%
354
PB
5.646.963
599.487
11%
54.982
9,20%
33
-47%
63
ES
4.609.503
4.609.503
100%
483.087
10,50%
19
316%
5
RJ
4.377.783
4.377.783
100%
820.164
18,70%
18
-64%
49
RN
5.281.123
350.994
7%
12.041
3,40%
13
-44%
23
AL
2.777.724
1.524.618
55%
140.659
9,20%
8
-97%
259
CE
14.892.047
866.120
6%
64.064
7,40%
7
56%
5
16.269.972
12,40%
11.399
-9,30%
12.562

Ieda Del'Arco Sanches, pesquisadora e coordenadora técnica do estudo pelo INPE, ressalta que após o aumento do desmatamento em 2015-2016, que atingiu 29.075 ha, o desmatamento decresceu nos dois últimos anos (12.562 ha em 2016-2017 e 11.399 ha em 2017-2018), apresentando os menores índices já registrados desde o início do monitoramento do Atlas. "Interessante notar que desde o período 2010-2011, quando o mapeamento começou a ser feito anualmente, essa é a primeira vez que o desmatamento diminuiu em dois anos consecutivos. O quadro é bastante promissor, mas é preciso manter o ritmo no combate ao desmatamento para não retroceder", reforça ela.


Mata Atlântica em pé

O Atlas da Mata Atlântica indica que restam 16,2 milhões de hectares de florestas nativas mais preservadas acima de 3 hectares na Mata Atlântica, o equivalente a 12,4% da área original do bioma.

O estudo fundamenta-se na identificação de remanescentes florestais em estágios primário, médio e avançado de regeneração com ao menos 3 hectares de área contínua bem preservada, que são essenciais à conservação da biodiversidade no longo prazo. Sendo assim, florestas nativas menores de 3 hectares, áreas muito alteradas, ou em regeneração, e pequenas manchas, especialmente no espaço urbano, não são contabilizadas. Esta área mínima de 3 hectares também justifica-se pela necessidade de manter a compatibilidade com os dados históricos que permitem a comparação e monitoramento das alterações dos fragmentos florestais ao longo do tempo.


Sobre a Mata Atlântica

A Mata Atlântica é uma das florestas mais ricas em diversidade de espécies e ameaçadas do planeta. O bioma abrange área de cerca de 15% do total do território brasileiro, o que inclui 17 Estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), dos quais 14 são costeiros. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente e, desses remanescentes, 80% estão em áreas privadas.

Ela é a casa da maioria dos brasileiros, abriga cerca de 72% da população, sete das nove maiores bacias hidrográficas do país e três dos maiores centros urbanos do continente sul americano. E a floresta possibilita atividades essenciais para a nossa economia – como a agricultura, a pesca, a geração de energia, o turismo e o lazer.




Sobre a Fundação SOS Mata Atlântica

A Fundação SOS Mata Atlântica é uma ONG ambiental brasileira. Atua na promoção de políticas públicas para a conservação da Mata Atlântica por meio do monitoramento do bioma, produção de estudos, projetos demonstrativos, diálogo com setores públicos e privados, aprimoramento da legislação ambiental, comunicação e engajamento da sociedade em prol de restauração da floresta, valorização dos parques e reservas, água limpa e proteção do mar. Saiba como você pode apoiar em www.sosma.org.br.




Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)

Para especialista, modelo de saúde precisa ser mudado


Diretora de estratégias e novos negócios da Qualirede aponta mudança na remuneração da saúde no Brasil como um dos passos importantes na solução dos problemas


Entra ano, sai ano e a sensação de que os problemas da saúde no Brasil continuam os mesmos é nítida. Fato é que enquanto o tempo passa, esses problemas ficam cada vez mais difíceis de serem resolvidos. Há desafios que crescem de tamanho como o envelhecimento da população e custos crescentes trazem novos obstáculos.

Para entender melhor esse cenário, conversamos com a médica Martha Regina Oliveira, diretora de estratégias e novos negócios da Qualirede, empresa nacional que atua nacionalmente na gestão de saúde para operadoras e empresas. Martha já atuou como especialista em regulação de saúde suplementar e diretora de desenvolvimento setorial na Agência Nacional de Saúde (ANS), além de diretora na Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). Especializada em pediatria e saúde pública (UFRJ), mestre em epidemiologia (UFRJ) e doutora na área de envelhecimento humano (UERJ), Martha aponta algumas saídas para antigos problemas. Confira.


1 – Quais são os desafios que exigem maior urgência de resolução?

R: Temos alguns desafios. O primeiro é o desafio da qualidade, pois, precisamos aumentar a qualidade do setor, expondo quais são as operadoras e prestadoras realmente qualificadas. O segundo é mexermos na forma como a saúde está sendo realizada e como está sendo paga, que é o desafio do modelo de remuneração e modelo assistencial. E um outro desafio que temos é como reorganizar o sistema no Brasil. Enfim, os desafios são grandes e têm diferentes perspectivas.


2 - Às vezes temos a impressão que os desafios são sempre os mesmos. Qual a razão dessa sensação?

R: Exatamente, os desafios são os mesmos. É que construímos a saúde suplementar, durante 60 anos de uma forma e agora esse modelo precisa ser mudado. Como esses desafios são complexos, é necessário soluções amplas, ou seja, podemos iniciar a organização estrutural aos poucos, mas, não teremos todos os problemas resolvidos de uma única vez.


3 – Quais investimentos deveriam ser feitos?

R: Um dos investimentos é em relação à qualidade. Além disso, é necessário sair do modelo que sempre utilizamos: entrada não organizada no sistema de saúde. O ideal é termos um modelo com porta de entrada e atenção primária. A saída do sistema também precisa de mudança, ou seja, em relação ao cuidado de longa permanência e paliativo, que não possuem investimentos.


4 – Em 2030, 20% da população terá 60 anos. Estamos preparados para atender esses pacientes?

R: Não estamos e é necessário que estejamos preparados em todos os sentidos: tanto na questão social, quanto na parte da saúde. O idoso é quem mais utiliza o sistema de saúde e um sistema desorganizado é mais cruel com ele do que com qualquer outra faixa etária, pois o idoso sofre todas as consequências do sistema de saúde de uma forma mais impactante.


5 - Nos últimos anos, os gastos com o sistema de saúde suplementar ficaram maiores e as receitas menores. Além disso, a exigência por qualidade só aumenta. Como equilibrar a balança entre receitas e gastos no sistema de saúde?

R: É preciso mudar a organização e a forma como fazemos assistência. Ou seja, esse novo modelo assistencial deve ter uma nova forma de remuneração, que privilegie o resultado ao invés do volume.


6 – A atenção à saúde primária é geralmente o primeiro ponto de contato que as pessoas têm com o sistema de saúde. Qual a avaliação que a senhora faz sobre esse aspecto no Brasil?

R: Este deveria ser de fato o primeiro ponto de contato, mas infelizmente não é. Se tivéssemos a atenção primária como organizadora, teríamos um sistema muito mais articulado. Além disso, a figura do concierge, auxilia o paciente com a coordenação do cuidado e com a organização do sistema.


7 – Atualmente são mais de 65 mil propostas de mudanças na saúde tramitando no Congresso e no Senado. Precisamos de tantas mudanças assim ou o caminho seria mais curto?

R: Com certeza o caminho é mais curto. Não precisamos de lei ou regulamentação para fazermos o que é preciso.


8 – É possível pensar em iniciativas entre a saúde pública e a privada para amenizar os problemas na saúde?

R: A articulação entre os dois sistemas é importante e necessária e ela deve ser feita, especialmente em um país que temos a saúde pública utilizada por 75% da população.


9 – Em 2018, a redução de beneficiários cresceu menos. No entanto, ainda há mais perdas do que receitas. Qual a projeção para 2019?

R: A projeção é ter uma reorganização do setor e que ele volte a crescer. Mas, isso vai depender muito de como será organizado a saúde suplementar e a pública.


Judicialização para o fornecimento de remédios sem registro na Anvisa pode crescer



O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu no último dia 22 de maio que o Poder Público deverá fornecer, com restrições, medicamentos sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A maioria dos ministros da Corte Superior também determinou que a administração pública não deve ser obrigada a fornecer medicamentos sem registro que estejam em fase de testes. Para eles, nesses casos, a situação será analisada individualmente.

A decisão do STF foi positiva, mas não resolve a Judicialização no fornecimento de remédios na saúde pública brasileira. Os ministros do Supremo garantiram aos indivíduos o direito ao medicamento avaliando caso a caso, as necessidades e as condições clínica, social e a efetividade do tratamento individualmente. Entretanto, a decisão deve fomentar ainda mais a judicialização dos casos, já que a análise será individual. Ou seja, o mesmo medicamento poderá ser fornecido para um paciente e não para outro. Isso provocará novas discussões nos tribunais brasileiros.

Os ministro do STF também foram cautelosos na decisão para evitar a onerosidade dos cofres públicos com tratamentos ineficazes, garantindo aos cidadãos o acesso à saúde de forma competente e seguro. O Supremo ponderou algumas condições e ressalvas para a concessão destes medicamentos.

Assim, o Poder Público não está obrigado a conceder medicamentos que ainda estão em fase de testes, sendo duvidoso ao paciente a eficácia do tratamento. Embora a votação dos Ministros tenha genericamente o mesmo entendimento, as ressalvas apontadas por cada um deles são diferentes, sendo necessário aguardar o término da votação para a conciliação de uma decisão final sobre o assunto.

Entre as restrições apontadas pelos ministros estão: a necessidade da família do paciente não possuir condições de arcar com o medicamento; a impossibilidade da substituição do medicamento por algum já fornecido pelo SUS e; se a concessão do medicamento for imprescindível para o tratamento e da comprovação da eficácia do tratamento.

Devemos aguardar os próximos capítulos desta longa e duradoura batalha da judicialização da saúde. Trata-se de um dos principais gargalos do Judiciário brasileiro. No caso dos medicamentos, há centenas de processos espalhados em tribunais de todo o país. A maioria dos casos envolve doenças raras, e o juiz determina a concessão do remédio. Segundo dados do Ministério da Saúde, até 2016 o governo federal já havia cumprido 16,3 mil decisões sobre fornecimento de medicamentos. De 2010 a 2015, houve aumento de 727% nos gastos
referentes à judicialização dos medicamentos.

Portanto, os números deverão crescer. Isso porque o Poder Público defende que a concessão de medicamentos caros coloca em risco o fornecimento do básico para toda a coletividade e não há orçamento disponível para todos. E os pacientes que precisam dos remédios argumentam que os medicamentos são, na maioria das vezes, a única esperança de sobrevida.




José Santana Júnior - advogado especialista em Direito Médico e da Saúde e sócio do escritório Mariano Santana Sociedade de Advogados. 

Os concursos públicos vão acabar? Como lidar com a insegurança no noticiário?


Especialista aponta que novas vagas em concursos devem ser ofertadas em breve e os estudantes devem estar preparados


Decreto presidencial que altera regras para lançar concursos públicos, ausência de verba destinada às vagas na Lei de Diretrizes Orçamentárias, informatização e terceirização: serão esses sinais do fim dos concursos públicos? Mudanças governamentais combinadas à desinformação podem deixar muitos estudantes aflitos, mas é preciso lembrar que a máquina pública precisa renovar seus servidores para manter suas funções e cumprir seus deveres constitucionais.

De acordo com o coordenador das Carreias de Tribunais do AlfaCon, Thállius Moraes, o decreto Nº 9.739, de 28 de março de 2019, que impõe novas regras para concursos federais, não deve acabar com a realização de concursos nesse âmbito, mas trazer transparência aos candidatos. Exemplo disso é a exigência de que o edital preveja o limite de aprovações além de indicar a colocação em que o candidato já esteja desclassificado. Também está previsto no edital a descrição precisa das disciplinas, o que auxiliará os concurseiros no momento de estudo.  Esse decreto também impôs uma maior organização aos órgãos públicos, que terão de apresentar, dentre outros fatores, dados como a necessidade daquela demanda, a quantidade de servidores cedidos, etc.

A substituição das pessoas por máquinas é outro tema recorrente – no mercado de trabalho em geral e também quando se fala sobre o possível fim dos concursos públicos. Esse cenário já é uma realidade, mas sua implementação ocorre de forma gradual. Há cargos, no entanto, que têm de ser necessariamente exercidos por humanos: um policial militar que está na linha de frente de delitos nas ruas, por exemplo, não perderá jamais a sua vaga para um sistema informatizado.

Já no sistema judiciário, cargos organizacionais e administrativos correm mais risco de terem seu ofício exercido por uma máquina, mas oficiais de justiça, técnicos e analistas do judiciário, bem como aquelas carreiras que lidam com o público, precisam ser realizadas por pessoas. Em geral, a informatização é positiva: otimiza recursos, economiza papel, traz segurança e, para o servidor, oferece a possibilidade de realizar o trabalho remotamente.

A terceirização é mais um ponto de argumentação para aqueles que pregam o final dos concursos públicos. É importante ressaltar que esta medida afeta principalmente vagas em empresas públicas e sociedades de economia mista, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Via de regra, o governo contrata outras companhias para realizar atividades como limpeza, zeladoria e vigilância a fim de otimizar os gastos públicos. Isso significa que cargos técnicos como a receita, o INSS, que detêm grande quantidade de vagas, continuarão exigindo concursos públicos porque exigem conhecimento especializado de servidores.

E, por fim, os concursos não estarem especificados na LDO (Leis de Diretrizes Orçamentárias) é historicamente comum. Em 2016, por exemplo, o edital para o INSS estava ausente no documento, mas mesmo assim ocorreu. Neste momento, a LDO está passando do executivo para o legislativo, o que pode implicar também em novas alterações.

Moraes ainda dá conselhos para que os concurseiros revigorem sua motivação: “É importante filtrar as informações e colocar em prática o que efetivamente se pode fazer, que é estudar. Os concursos virão com atraso ou não, com mais ou menos vagas; mas acontecerão; e é preciso estar preparado”, aconselha.






AlfaCon



Cerrado registra volume de chuvas acima da média e doenças afetam lavouras de trigo



As análises das amostras ainda estão em andamento e, por isso,
não há ainda a confirmação exata do que causou a quebra nessa safra

Entenda as causas, sintomas e a complexidade das doenças que estão prejudicando a safra 2019 nas lavouras de trigo de Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal


O excesso de dias chuvosos e consequentemente um ambiente muito mais úmido do que em anos anteriores criou uma condição extremamente favorável para o desenvolvimento atípico de doenças nesta safra de trigo no Cerrado brasileiro. E não foi só uma doença, mas um complexo de doenças de trigo. A epidemia foliar, veloz e de grande extensão, surpreendeu produtores e técnicos, que comunicam quebra na produção. Por isso, nas últimas duas semanas, pesquisadores de diferentes elos do setor tritícola visitaram lavouras dos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, e Distrito Federal com o objetivo de tentar, em conjunto, realizar a correta diagnose do complexo de doenças responsável pelos danos.

Segundo o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antônio dos Santos, além do grande volume de chuvas - de 20% a 40% superior para a média na região -, as temperaturas também se mantiveram muito acima do normal, principalmente as mínimas. “Em muitos locais, os volumes de chuvas totais ultrapassaram os 850 mm e, em alguns períodos deste verão e do outono, as temperaturas mínimas ficaram até 3 a 4°C acima da média. Um prato cheio para um maior desenvolvimento de doenças”, comenta. A média de chuva na região varia entre 600 e 750 mm.

O agrometeorologista comenta que todo clima atípico tem um causador. “Muitos poderão dizer que é o El Niño, mas não é. Foi exatamente a não influência clássica dele que provocou chuvas acima da média em toda metade Norte do Brasil nesses últimos 6 a 8 meses. Isto é, mesmo os Institutos Climatológicos de todo o mundo, em especial a NOAA, estarem divulgando que o clima está sob efeito do El Niño desde a primavera de 2018 no hemisfério Sul, a atmosfera não vem respondendo com tal. Apenas em alguns momentos, ao longo desse período, é que se observou um clima semelhante ao de um El Niño. Até porque entre os meses de dezembro e janeiro, houve registros de seca no Sul do Brasil, algo que não é muito comum para um ano sob influência do El Niño.

Na opinião dele, como o clima/atmosfera não foi influenciado por um El Niño clássico, os corredores de umidade ficaram muito aleatórios e, com isso, houve períodos até que a atmosfera se comportou com uma La Niña, causando muitas chuvas sobre as regiões Central e Norte do Brasil. “Por isso, foram registradas chuvas bem acima da média sob as áreas produtoras de trigo de MG, GO e DF”, afima.


Complexo de doenças em análise

A safra de trigo no Cerrado está marcada por
condições ambientais atípicas em 2019
Paulo Kuhnem, fitopatologista da Biotrigo Genética, comenta que essa complexidade de fenômenos climáticos criou um cenário ideal para ocorrência de diferentes lesões foliares que causaram um complexo de doenças que não ficaram restritas apenas às lavouras de trigo, mas também afetando outros cultivos da região, como milho e feijão. “Foi realmente um ambiente extremamente favorável para a ocorrência de doenças foliares. Provavelmente essa situação não estaria sendo observada, mesmo nos plantios mais antecipados se fosse um ano como foram as últimas três safras na região”, comenta. “Muitas das amostras recebidas pela Biotrigo de técnicos e agricultores tinham folhas com elevado número de lesões de Brusone e de Bacteriose, sintomas em igual intensidade que eu só tinha observado na Bolívia onde essas doenças ocorrem com frequência devido ao clima úmido e quente da região”, complementa.

Tanto a Brusone na folha quanto a Mancha Marrom necessitam de elevado número de horas de molhamento foliar contínuo (14 e 11h, respectivamente) e temperatura acima dos 24°C, inclusive à noite. Esses períodos prolongados de condições favoráveis as infecções desses fungos além de aumentar o número de infecções foliares também são condições ideias para a multiplicação de bactérias. “As bactérias não conseguem penetrar diretamente no tecido foliar, necessitando de aberturas naturais (como os estômatos e hidatódios), ferimentos causados por insetos ou ainda lesões foliares como as de Mancha Marrom e Brusone. Por tanto, ambiente extremamente favorável e em períodos prolongados, associado a presença de lesões foliares, proporcionaram condições para bactéria infectar e rapidamente aumentando os danos foliares nas lavouras. Como as bactérias se multiplicam de forma muito rápida, em poucos dias as lavouras podem passar do verde para completamente amarelas e, nos casos mais severos, causando a morte das plantas”, ressalta.

O pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Maurício Antônio de Oliveira Coelho, concorda que se trata de uma situação nova para os triticultores na região do Cerrado e que até o correto diagnóstico, a assistência técnica e a pesquisa só podem responder apenas baseados na sintomatologia observada. “Todos foram pegos de surpresa. Era praticamente impossível trabalhar de forma preventiva. A partir do momento em que as primeiras lavouras demonstraram, a gravidade da situação, produtores começaram a fazer as primeiras aplicações curativas. Posteriormente, em lavouras mais novas foram feitas aplicações preventivas”, relata.


Agente causal

As análises encaminhadas pelos pesquisadores de diferentes elos do setor tritícola ainda estão em andamento e, por isso, não há a confirmação exata do que causou a quebra nestas regiões. Um dos fatores que estão dificultando a sintomatologia é a ocorrência de outras doenças de forma concomitante. Paulo comenta que nas amostras coletadas nas lavouras de Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal e analisadas no laboratório de fitopatologia da Biotrigo, pode-se isolar colônias de bactérias, que numa análise inicial, tem tido enquadramento em sua maioria dentro do gênero Xanthomonas. “Ainda estamos realizando mais testes para tentar identificar a espécie ou patovar desses isolados bacterianos para então poder dizer que se trata ou não da Xanthomonas já relatada inúmeras vezes no Brasil”. Nas lavouras acompanhadas não foram observados sintomas de estria bacteriana padrão causada por Xanthomonas transluces pv. undulosa, que como o nome indica, causa estrias no sentido das nervuras de coloração marrom. “Vale ressaltar que também isolamos bactérias que não se enquadraram nesse gênero, e por isso também estamos investigando se essas são patogênicas no trigo ou apenas contaminantes nas amostras”, complementa.

Também foram isolados nas amostras testadas pela Biotrigo, nas lesões com sintomas típicos de Brusone, colônias do fungo Pyricularia oryzae, que é o agente causal da doença. “Não foi possível isolar o fungo agente causal da Mancha marrom (Bipolaris sorokiniana) nas amostras recebidas, mesmo das lesões consideradas típicas. Contudo, isto não significa que a Mancha marrom também não esteja envolvida neste complexo de doenças. Estas amostras levaram um tempo para chegar no nosso laboratório aqui em Passo Fundo e isto pode ter afetado a viabilidade deste fungo. De qualquer modo estamos reprocessando estas amostras e também aguardando mais amostras chegarem para podermos ter mais dados dos patógenos envolvidos na situação desse ano, considerada por agricultores e técnicos locais como atípica”, ressalta Paulo.


Linhas de ação para as próximas safras

Na opinião do melhorista da Biotrigo, André Schönhofen, a velocidade e extensão dos sintomas nas lavouras foram os motivos que geraram mais dúvidas entre os produtores, técnicos e empresas de pesquisa. “Em nossas visitas, verificamos que lavouras em todos os estádios de desenvolvimento apresentavam sintomas foliares. É importante destacar que se esse ano fosse mais próximo de um clima considerado normal, é provável que as lavouras semeadas dentro das datas do zoneamento agroclimático estivessem significativamente melhores, tanto em sanidade de folha como de espiga”, disse.
Maurício, da Epamig, concorda que a tomada de decisão do produtor quanto a melhor época de realizar a semeadura será decisiva para o controle das doenças nas próximas safras. Ele acredita que a partir da diagnose correta e conhecendo os danos potenciais causados por estas doenças foliares, o produtor de trigo deva trabalhar em duas linhas de ação principais para o trigo no Cerrado. “Primeiro: não recomendar, em hipótese nenhuma, semeadura de trigo fora do zoneamento (meses de janeiro e fevereiro). Para semeaduras em março, trabalhar de forma preventiva na aplicação de fungicidas recomendados para cada situação. Segundo: é muito importante que os produtores conheçam as condições climáticas que favorecem às doenças foliares e a Brusone na espiga. A busca de informações climáticas, quer seja do histórico da região quanto das previsões para os meses de cultivo, poderão auxiliar enormemente na tomada de decisão do produtor quanto a melhor época de realizar a semeadura”, finaliza.




Fotos: Divulgação Biotrigo

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