Evolução de tratamento e informação melhoram a qualidade de vida dos pacientes
Em
17 de abril comemora-se o Dia Mundial da Hemofilia. E, empregar a
palavra “comemora-se” hoje, é bem mais correto do que há alguns anos. O
tratamento, antes restrito a transfusões de sangue, evoluiu bastante e
trouxe mais qualidade de vida aos pacientes. A hemofilia é um distúrbio
na coagulação do sangue. Quem nasce com esta doença tem algumas
proteínas necessárias para coagular o sangue (fatores de coagulação) em
menor quantidade de que o normal. Explica-se: quando há algum corte no
vaso e a região sangra, as proteínas de coagulação entram em ação para
coagular o sangue. Como as pessoas com hemofilia têm menos fatores de
coagulação no corpo, o sangramento demora a parar.
Trata-se
de uma doença genética que afeta principalmente os homens (99,9% das
pessoas acometidas). Curiosamente, é transmitida pelas mulheres (a
alteração genética afeta o cromossomo X). Mais de 400 mil pessoas no
mundo têm hemofilia. E, de acordo com a World Federation of Hemophilia
(WFH), a frequência estimada é de 1 a cada 10 mil nascimentos. Cerca de
30% dos casos de hemofilia não têm histórico familiar dessa condição. No
Brasil, há aproximadamente 11.500 pessoas diagnosticadas (dados do
Ministério da Saúde).
A hemofilia é classificada em A e B. Pessoas com hemofilia A têm deficiência de fator VIII e com hemofilia B têm
deficiência de fator IX. Os sangramentos são semelhantes nos dois tipos
de hemofilia, porém a gravidade das manifestações geralmente depende da
quantidade de fator presente no sangue (pessoas com hemofilia grave, ou
seja, praticamente sem fator VIII ou IX de coagulação, sangram com mais
facilidade). A hemofilia A é a mais comum e acomete 85% dos pacientes.
Diagnóstico para todos
Diagnosticar
precocemente a doença é fundamental para evitar complicações
decorrentes. O diagnóstico de hemofilia ocorre a partir do histórico de
hemofilia em parentes masculinos ou a partir da investigação de
sangramentos espontâneos ou após pequenos traumas, podendo ser hematomas
subcutâneos nos primeiros meses de vida (após vacinas), sangramento
muscular ou articular em meninos que começam a engatinhar ou andar,
sangramento intracraniano após quedas, ou mesmo sangramento prolongado
após procedimentos cirúrgicos ou extração dentária. É importante lembrar
que embora o histórico familiar esteja frequentemente presente, em até
30% dos casos pode não haver antecedente familiar de hemofilia.
Portanto, é importante não subestimar sangramentos.
Como é o tratamento
O
dia 17 de abril é importante como data comemorativa para chamar a
atenção e aumentar a consciência sobre a hemofilia. A data foi criada em
1989 para celebrar o nascimento do fundador da Federação Mundial de
Hemofilia, Frank Schnabel. Nascido em 1926 e portador de hemofilia A
grave, Schnabel dedicou sua vida para melhorar a qualidade de vida das
pessoas com hemofilia por meio do incentivo ao desenvolvimento
científico.
Seus
esforços não foram em vão. Embora não exista cura para o distúrbio, seu
tratamento evoluiu muito. O tratamento consiste, basicamente, na
reposição do fator de coagulação deficiente. Ou seja, pessoas que vivem
com a doença dependem da reposição do fator deficiente por via
endovenosa, também conhecida como terapia de substituição de fator VIII
ou IX, que fornece ao corpo a proteína em falta. Existem duas
modalidades básicas de reposição de fator: sob demanda (feita após a
ocorrência de sangramento) e como profilaxia (feita periodicamente, para
prevenir a ocorrência de sangramentos e de suas consequências).
A importância da profilaxia
No
tratamento sob demanda, o concentrado de fator de coagulação deficiente
é administrado somente após a ocorrência de um episódio hemorrágico, o
que não impede o aparecimento de sequelas. O corpo começa a usar o fator
imediatamente para formar um coágulo e cessar a perda de sangue.
Por
isso, é importante fazer o tratamento contínuo, chamado de profilaxia,
que consiste na reposição regular de fator de coagulação a fim de manter
seus níveis suficientemente elevados, mesmo na ausência de hemorragias,
para prevenir os episódios de sangramentos. Esta é uma prática mundial,
em que o incômodo das infusões rotineiras é recompensado com a
diminuição dos sangramentos.
É
importante saber que não existe uma fórmula única de profilaxia que
atenda a todos as pessoas igualmente. A frequência e a dosagem das
infusões de fator, por exemplo, vão depender da gravidade da hemofilia,
dos hábitos do paciente, de seu peso, como ele tem respondido aos
fatores infundidos.
Outra
boa notícia deste dia 17 de abril é que o acesso ao tratamento hoje no
Brasil é universal, garantido pelo SUS e disponível em todos os Estados
brasileiros.
Pessoas com hemofilia e demais interessados podem acessar o site da Federação Brasileira da Hemofilia (http://www.hemofiliabrasil.org.br/) e se informar onde encontrar centros de tratamento no seu Estado.
Fonte: Laboratório Shire
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