Está aturdido? Percebeu só
agora a causa de o país estar nessa bancarrota, e nós bancarrotados? Na lista
tinha nomes pelos quais você ainda juraria de pés juntos? Sinto muito. O que a
gente pode fazer? Vamos ficar parados, só olhando, ouvindo, achando que tudo
isso vai passar e o mundo estará livre de ratos?
O que os olhos
não veem o coração não sente. Pois agora não só estamos sabendo, como ouvindo e
vendo, em detalhes formidáveis, a roubalheira que parece não ter mais fim e que
não temos noção de onde foi exatamente esse começo. Talvez quando nos
orgulhávamos do tal "jeitinho brasileiro". Ou quando começaram a
aparecer de todos os lados ídolos de lama, salvadores da pátria, guerreiros dos
trabalhadores, do povo, libertadores? Gente parecida com agentes de trânsito
que só sabem de esquerda, direita. De uma vez por todas, presta atenção naquela
máxima "quando a esmola é muita até o santo..."
Não podemos
substituir o coentro pelo cheiro verde, como diria a natureba Bela Gil. Então
eu te pergunto, porque também estou me perguntando, angustiada. O que a gente
faz, objetivamente? Na prática?
Não quero ser
chata, mas informo: primeiro, que vem mais, muito mais por aí, e as revelações
serão depuradoras; segundo, que não será a Justiça - nem se ela tomasse
anfetamina e de repente aparecesse toda lépida, ágil, e moralizadora - a
resolver a pergunta sobre qual país estará saindo disso tudo, que direção
tomar. Sozinho não anda.
Continuo vendo
na tevê as mesmas caras de pau, com os mesmos bocas-duras, línguas de trapo, os
mesmos partidos, com as mesmas cantilenas, como se não fosse com eles o
assunto. Desmemoriados. Contra o soro da verdade que, parece, embebedaram os
delatores executivos, um relaxante, antes que começassem a dar o serviço. Não
posso ter sido só eu que detecto alegria e certo alívio nas declarações,
naturalidade sincera, ironia cáustica e vingativa nos detalhes e nos apelidos.
Ah, os apelidos! São um capítulo à parte. Definitivos. Eles pagaram, gastaram,
mas também se divertiram. Extorquiram e foram extorquidos. Mas botaram no papel
- até programa especial inventaram - tim-tim por tim-tim, até porque precisavam
cobrar os préstimos. E negócio entre malandros tem leis especiais, fora dos
círculos oficiais. Igual droga.
Uma amiga
querida, muito querida, está tão indignada que não consegue pensar em outra
coisa que não seja o degredo de todos eles, vejam só. Degredo. Lembra que há
500 anos Portugal mandou para cá tudo quanto é gente que não prestava, e que
agora seria hora de devolver esses que parecem ser seus descendentes. Suei para
explicar a ela que seria uma sacanagem com o local escolhido para largá-los.
Como ela está muito brava, também deve ter pensado numa cela gigante, um dragão
engolindo a chave.
O problema - e
nisso ela concorda - é que nada disso resolveria a questão principal. Como
salvar o país que derrete sob nossos pés? Esses envolvidos são lixo que não dá
para ser reciclado, altamente infectados.
Como lidar com
essa vergonha que nos assola diariamente, nos deixa tão atônitos que acabamos
esquecendo que algo precisará mesmo ser feito qualquer hora dessas, e o momento
é agora, now? As
Organizações Odebrecht acabaram. O Rei pode ser deposto. Não sobrou nem a pedra
fundamental.
Brasil, escandalizado, humilhado, na encruzilhada, 2017
Marli Gonçalves
- jornalista - Não. Nunca vi nada igual. Hora que é bom ser como sou, sempre fui,
meio do contra. Mas estou anotando todas as sugestões que me parecerem sérias,
porque não dá para se acostumar jamais com tanta sacanagem. Lista delas.
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