Blefaroespasmo
atinge, na maioria dos casos, pessoas acima dos 56 anos com predominância nas
mulheres: a cada 3 mulheres, apenas 1 homem é acometido
Piscar é um ato natural e
saudável. Em média, uma pessoa pisca entre 15 e 20 vezes por minuto. Sim,
é bastante. Tanto que chegamos a ficar com os olhos “fechados” cerca de 10% do
tempo em que estamos acordados. O piscar tem duas funções principais:
lubrificar os olhos e nos proteger de algo que possa ameaçá-los. Poeira, por
exemplo, ou uma mão que se aproxima.
Só que, algumas pessoas – especialmente aquelas acima de 56 anos – podem sofrer
com uma condição caracterizada por piscar descontroladamente, chamada de
blefaroespasmo essencial, uma distonia focal rara, com uma incidência entre 16
e 133 casos a cada 1 milhão de pessoas. O blefaroespasmo é tão raro, que
estudos feitos nos Estado Unidos apontam que os pacientes chegam a visitar
quatro médicos antes de conseguir o diagnóstico final.
Início insidioso
Segundo a Dra.Tatiana Nahas, oftalmologista, especialista em cirurgia de pálpebras e Chefe do
Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo,
o blefaroespasmo é caracterizado por contrações espasmódicas bilaterais dos
músculos ao redor dos olhos, especificamente da musculatura que controla o
movimento da pálpebra e dos cílios. “Essas contrações, que são chamadas de
espasmos, fazem com que as pálpebras se fechem”, explica.
O blefaroespasmo, geralmente, começa com um simples piscar continuado, mas pode
se arrastar por dias ou até mesmo por semanas, afetando a qualidade de vida da
pessoa. Se não tratado, o blefaroespasmo irá evoluir para a chamada cegueira
funcional”, diz Dra. Tatiana.
Genética e estresse são algumas causas
A causa exata do blefaroespasmo permanece desconhecida. Entretanto, alguns
estudos apontam que a genética é importante, já que é comum encontrar membros
de uma mesma família que desenvolveram a condição. Além disso, eventos
estressantes, como morte de cônjuge, perda de emprego, infidelidade conjugal,
problemas financeiros, entre outros, estão ligados ao desencadeamento do
blefaroespasmo.
O que a pessoa sente?
No início, o paciente poderá relatar aumento da frequência ou duração do ato de
piscar, assim como dificuldade de manter os olhos abertos. A maioria dos
pacientes irá apresentar uma produção de lágrimas deficiente. Isso leva a
irritação dos olhos e, consequentemente, a piora dos espasmos. Um estudo
mostrou que no início do quadro, mais da metade dos pacientes com
blefaroespasmo apresenta queixas oftalmológicas de irritação, fotofobia
(sensibilidade à luz), olho seco ou sensação de corpo estranho.
“Nota-se que ao longo de algumas semanas, os espasmos ficam cada vez mais
frequentes e, com isso, pode surgir a cegueira funcional que leva a outras
situações como isolamento social e incapacidade para o trabalho. O
comprometimento das atividades da vida diária, como dirigir, ver TV, ler ou
sair de casa sozinho é importante em pessoas com blefaroespasmo”, comenta Dra.
Tatiana.
Outro ponto é que a ação constante de forças oponentes, ou seja, entre os
músculos que abrem e os que fecham as pálpebras, pode causar várias alterações
palpebrais, como ptose, ectrópio e entrópio, por exemplo.
Diagnóstico diferencial
Para fechar o diagnóstico do blefaroespasmo, o médico oftalmologista irá
realizar diversas avalições e solicitar exames, inclusive neurológicos. O
blefaroespasmo pode ser secundário, ou seja, ser uma comorbidade de outras
doenças oftalmológicas, como síndrome do olho seco, entrópio espástico,
triquíase, blefarite, uveíte, catarata subcapsular, entre outras condições.
Tratamento pode ser feito com toxina botulínica
Um dos tratamentos mais efetivos para o problema é o uso de toxina botulínica.
A substância é injetada nos músculos afetados para enfraquecê-los e bloquear os
impulsos nervosos que levam a essa contração ininterrupta. “Geralmente, é
preciso repetir o procedimento a cada três ou quatro meses”, diz a Dra.
Tatiana.
Nem todos os casos respondem ao tratamento com a toxina botulínica. Para estes,
é recomendada a cirurgia. “Uma das opções cirúrgicas – há várias - é remover
toda a musculatura da pálpebra superior e parte da pálpebra inferior. Essa
técnica é chamada de miectonia limitada. Ela melhora os aspectos funcionais e
os estéticos do paciente”, completa a médica.
“É importante ressaltar que embora raro, o blefaroespasmo representa um
importante fator de risco para a cegueira funcional, afeta a qualidade de vida
e a execução de atividades diárias, como sair de casa, cozinhar, ler, etc. Mas,
o tratamento reverte essa condição. Quanto mais cedo for feito, melhor será o
resultado”, conclui Dra. Tatiana.