No Mês da Mulher, é crucial falarmos sobre uma condição frequentemente mal compreendida e subdiagnosticada em mulheres adultas: o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Segundo o Dr. Matheus Trilico, neurologista referência em TDAH em adultos, este transtorno vai muito além da simples desatenção, apresentando nuances e desafios únicos que merecem foco especial e ação imediata.
O Enigma do Diagnóstico Tardio
"O diagnóstico de TDAH em mulheres adultas é
frequentemente um quebra-cabeça complexo", explica o Dr. Matheus. Uma
pesquisa recente publicada no Journal of Child Psychology and Psychiatry revela
que mulheres são diagnosticadas significativamente mais tarde que homens.
"Isso se deve, em parte, à apresentação atípica dos sintomas e ao
mascaramento por outras condições como ansiedade e depressão", acrescenta
o especialista.
Prevalência e Desafios no
Brasil
Estudos recentes buscam elucidar a prevalência do
TDAH em adultos no Brasil. "Um estudo realizado em uma área metropolitana
brasileira encontrou uma prevalência de 4,59% em adultos", informa o Dr.
Trilico. Embora esses dados não especifiquem a prevalência em mulheres, o
neurologista ressalta que "a prevalência de TDAH tende a ser menor em
mulheres em comparação com homens, o que torna o diagnóstico ainda mais
desafiador."
Manifestações Diversas do TDAH
O TDAH pode se manifestar de três formas: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo/impulsivo ou combinado. "É crucial entender que a manifestação do TDAH em adultos difere significativamente daquela observada em crianças", explica Dr. Matheus Trilico.
Na infância, meninos tendem a exibir mais sintomas
de hiperatividade e impulsividade, enquanto meninas são mais propensas a
apresentar sintomas de desatenção. "Essa diferença na apresentação pode
contribuir para o diagnóstico mais tardio em meninas, já que os sintomas de
desatenção são menos disruptivos", observa o especialista.
Além da Hiperatividade Visível
Contrariamente à crença popular, o TDAH em mulheres
adultas nem sempre se manifesta como hiperatividade física. "Muitas
mulheres experimentam o que chamamos de 'hiperatividade interna' - uma agitação
mental constante e dificuldade em desacelerar os pensamentos", esclarece
Dr. Trilico. Esta forma de hiperatividade pode passar despercebida por anos,
levando a diagnósticos equivocados ou tardios.
O Desafio das Comorbidades
Um estudo publicado no Journal of Attention
Disorders destaca que mulheres com TDAH frequentemente apresentam comorbidades
psiquiátricas. "Ansiedade e depressão podem mascarar o TDAH, criando um
'ofuscamento diagnóstico' que dificulta a identificação do transtorno",
alerta o neurologista. Este fenômeno ressalta a importância de uma avaliação
clínica abrangente e sensível às particularidades femininas.
Impacto na Vida Adulta
O TDAH não tratado pode ter consequências
significativas na vida adulta. "Vemos impactos em relacionamentos,
carreira e bem-estar emocional", observa Dr. Matheus. Uma pesquisa recente
publicada no Neuroscience and Biobehavioral Reviews revela que mulheres adultas
com TDAH são mais propensas a relatar sintomas como "distração
fácil", "dificuldade em organizar tarefas" e "fala
excessiva", além de experimentarem impactos adversos significativos em
suas vidas pessoais.
Estratégias Iniciais de Manejo
Dr. Trilico sugere algumas estratégias iniciais que
mulheres podem implementar em suas vidas diárias:
- Estabeleça
rotinas estruturadas e use lembretes visuais.
- Pratique
técnicas de mindfulness para melhorar o foco.
- Divida
tarefas grandes em etapas menores e mais gerenciáveis.
- Utilize
apps de organização e gerenciamento de tempo.
- Busque apoio de amigos, familiares ou grupos de suporte.
"Essas estratégias podem ajudar no manejo dos
sintomas, mas não substituem o diagnóstico e tratamento profissional",
enfatiza o especialista, que é referência em TDAH em adultos no Brasil.
Inspiração e Esperança
Figuras públicas como Simone Biles, ginasta
olímpica, e Greta Gerwig, diretora de cinema, são exemplos inspiradores de
mulheres que alcançaram o sucesso apesar - e talvez até por causa - de seu
TDAH. "Estas mulheres mostram que o TDAH não é um obstáculo intransponível,
mas uma parte de quem elas são", ressalta Dr. Matheus Trilico.
O Caminho para o
Autoconhecimento
O neurologista encoraja as mulheres que se
identificam com os sintomas descritos a buscarem ajuda profissional
rapidamente. "O diagnóstico preciso é o primeiro passo para o tratamento
adequado e uma vida plena", afirma.
"Entender o TDAH em mulheres é mais do que um desafio médico; é um passo crucial para a equidade em saúde mental", conclui Dr. Trilico. No Mês da Mulher, que esta discussão sirva como um catalisador para maior compreensão, empatia e suporte às mulheres que vivem com TDAH. A ação é urgente: quanto mais cedo o diagnóstico e o tratamento, melhor a qualidade de vida.
Dr. Matheus Luis Castelan Trilico - CRM 35805PR, RQE 24818. Médico pela Faculdade Estadual de Medicina de Marília (FAMEMA); Neurologista com residência médica pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR); Mestre em Medicina Interna e Ciências da Saúde pelo HC-UFPR; Pós-graduação em Transtorno do Espectro Autista.
https://blog.matheustriliconeurologia.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário