A experiência
mostrou à Gislene Erbs que privilegiar as necessidades e desejos dos outros e
colocar seus próprios objetivos em segundo plano causa prejuízos ao bem-estar,
qualidade de vida e felicidade
Em suas consultas, a psicóloga, hipnoterapeuta e
coach sistêmica, Gislene Erbs, detectou um problema que se repetia com diversos
pacientes: eles tinham extrema dificuldade em dizer não às demandas alheias,
privilegiando as necessidades e desejos dos outros e colocando suas prioridades
em segundo plano, o que impactava negativamente o bem-estar, a felicidade e a
qualidade de vida deles.
Durante os atendimentos, Gislene buscava
orientá-los a superarem a dificuldade de dizer um não categórico sempre que
isso se fazia necessário, habituando-os a praticar a arte de colocarem-se em
primeiro lugar. Buscando romper as barreiras de seu consultório e difundir a
mensagem de empoderamento para um número maior de pessoas, Gislene escreveu o
livro “Sim ou Não – A difícil arte de colocar-se em primeiro lugar na sua
vida”, da editora Literare Books International.
O impulso para abordar o assunto veio do trato com
os pacientes, mas o conteúdo apresentado na obra não é fruto apenas de sua
prática profissional e conhecimento teórico, mas também, claro, de sua
experiência. Em sua vida, Gislene se deparou mais de uma vez com situações em
que precisou impor limites àqueles ao seu redor. Muitas vezes conseguiu e se
fortaleceu. Outra vezes anulou-se, tendo somente a vontade alheia como norte, o
que custou caro para sua saúde física e mental.
Natural de Luiz Alves, interior de Santa Catarina,
Gislene teve uma infância pobre e uma educação rígida. Ainda era criança quando
se mudou para Joinville (SC) com seus pais, em busca de uma vida melhor. “Minha
mãe conta que nessa época precisava dividir até ovo comigo. Nós nunca chegamos
a passar fome, mas sempre foi tudo muito contado, controlado”, relata. A
despeito de ser filha única, Gislene nunca se sentiu cheia de mimos e
cuidados. “Meus pais faziam questão de estabelecer limites. Então, quando
eu chorava para ganhar algum presente, eles não me davam, justamente para que
eu não ficasse mimada”, lembra.
Por conta da infância pobre, sem perspectivas,
embora tranquila e feliz, Gislene nutria o desejo de conhecer outros lugares do
mundo. Para isso, pensou até em se juntar a uma congregação religiosa, sem
nunca ter tido a real vontade de se tornar freira. Acabou não dando certo,
porque seus pais tinham outros planos. “Eu fui educada e preparada para casar,
porque para eles isso significava que eu estaria segura dos perigos da vida”,
diz. E assim foi: Gislene casou-se com 17 anos, na mesma época em que ingressou
na faculdade, para tentar concretizar um de seus sonhos de criança: trabalhar
com artes plásticas. O outro, ser psicóloga, tornou-se realidade anos
depois.
Ainda uma adolescente, Gislene se viu tendo que
manejar uma rotina estressante. Ela precisava fazer caber no seu dia, o cuidado
da casa e dos filhos, que vieram nos primeiros anos de casamento; os estudos na
faculdade; e o trabalho na empresa familiar de confecção, que estava repleta de
pedidos. “Em alguns dias da semana eu ficava sem dormir, para conseguir dar
conta de todas essas atividades e ganhar dinheiro suficiente para custear a faculdade
e ajudar no sustento da família”, conta.
Depois de seis anos de casamento, Gislene resolveu
dizer o seu primeiro “não”. Deixando de pensar no que seu esposo queria e
colocando-se em primeiro lugar na sua lista de preocupações, divorciou-se. A
psicóloga explica que ela e o esposo não comungavam dos mesmos princípios e
valores. “Eu ficava muito tempo sozinha e não o considerava nem um bom marido
nem um bom pai. Comecei a adoecer mentalmente e percebi que não estava valendo
a pena. Como não desejava que os meus filhos entendessem que esse tipo de
relacionamento é uma norma, resolvi dar um basta”, explica.
Tempos depois, Gislene começou a se relacionar com
outra pessoa, que ao contrário do seu ex-marido, deu o suporte que ela
precisava para seguir o sonho de se tornar psicóloga. “Eu sempre fui curiosa em
relação as 'coisas da vida', e ansiava entender o comportamento humano”, conta.
Assim, logo após terminar a faculdade de artes, em 1994, surgiu uma
oportunidade de Gislene cursar uma especialização em psicanálise, que ela
agarrou e adorou. “Foi durante estes estudos que eu percebi que precisava fazer
uma faculdade de psicologia”, explica. Mãe de dois filhos, cheia de afazeres,
precisou postergar seu sonho, que foi concretizado anos depois. Em 2007 estava
formada em psicologia.
Neste ínterim, entre os términos dos dois cursos, Gislene
havia deixado de trabalhar na empresa familiar, algo que precisou voltar a
fazer, para tentar ajudar o empreendimento que se afundava em dívidas. Pensando
no bem-estar dos outros ao invés de seu próprio bem-estar, a psicóloga
tornou-se avalista de dívidas que não eram suas. “Eu que tive uma educação
muito rígida, no sentido que deveria ser correta com tudo, de que não poderia
gastar o dinheiro que não tinha, de repente me vi cercada de cobranças e com o
nome negativado”, relata.
Por 16 anos, Gislene lutou para recuperar seu nome.
Os tempos em que se viu imersa em dívidas cobraram seu preço até mesmo em sua
carreira de psicóloga. Para ter um alívio dos cobradores que insistentemente a
procuravam, Gislene trocou de número de telefone e acabou perdendo os contatos
de vários clientes. “Além disso, eu não conseguia comprar um móvel para o meu
consultório, porque meu nome estava ‘sujo’ na praça”, conta. Esses
acontecimentos contribuíram para que Gislene entrasse em depressão profunda e
desenvolvesse um câncer de útero, doenças das quais hoje está
curada.
Há quatro anos, Gislene conseguiu se reerguer
financeiramente. O episódio serviu para que ela aprendesse a lição de que suas
vontades e de que o seu bem-estar devem ser prioritários. “Hoje eu não empresto
meu nome mais para ninguém”, garante. Há dois anos, a psicóloga “virou a
chave”, ao decidir que sua história poderia servir de inspiração para que mais
pessoas se conscientizassem da importância de dizer não aos outros e sim a elas
mesmas, de maneira consciente e equilibrada.
Assim, compartilha as lições que a vida lhe ensinou
no livro “Sim ou não - difícil arte de colocar-se em primeiro lugar na sua vida”
e na sua profissão. Mas em suas consultas, o que mais tem peso são seus
conhecimentos teóricos e práticos. Além da psicanálise, especializou-se
em hipnose ericksoniana e tem mestrado em saúde. “A minha interpretação é
psicanalítica, mas as práticas que eu desenvolvo sãos de várias linhas sempre
com um foco sistêmico”, explica. Conforme ela, sua característica maior como
psicóloga é extrair o que, em sua concepção, é o melhor de cada linha para
aplicá-la em seus pacientes, visando o resultado mais eficaz.
Gislene
Erbs - Graduação em
Psicologia pela Associação Catarinense de Ensino, graduação em Educação
Artística. Universidade da Região de Joinville e Mestrado em Saúde e Meio
Ambiente pela Universidade da Região de Joinville. Tem experiência na área da
Saúde e Educação, com ênfase em Avaliação. Psicológica. Atuando principalmente
nos temas: Saúde, Hipnose, Liderança, Carreira, Avaliação Psicológica.