Envelhecimento do cérebro: Dez mitos e verdades que você precisa saber
Como qualquer outro órgão do corpo humano, o
cérebro também passa por alterações e mudanças ao longo dos anos e envelhece
com o tempo. As alterações são não apenas estruturais, mas também funcionais.
Nos cérebros idosos, por exemplo, ocorre uma perda de sintonia entre as
regiões.
Para esclarecer algumas curiosidades sobre a saúde
do cérebro e o envelhecimento cerebral, o Dr. Marcelo Valadares, médico
neurocirurgião da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas
da Unicamp e do Hospital Albert Einstein elencou alguns mitos e verdades sobre
o tema. Veja abaixo:
1) O tamanho do cérebro pode diminuir com a idade.
VERDADE.
A redução do volume do cérebro com a idade é comum
durante o envelhecimento. Isso se deve à diminuição no número de células, entre
elas, os neurônios, que são os principais responsáveis pelo funcionamento do
órgão. “Além disto, acontece também uma diminuição das conexões entre os
neurônios. Esta alteração do volume cerebral também é chamada de atrofia e pode
ser maior ou menor, de acordo com outras condições de saúde, que variam para
cada pessoa”, explica o Dr. Marcelo Valadares.
2) Exames preventivos podem contribuir para evitar
o envelhecimento do cérebro. MITO.
Até o momento, não existem exames que possam
prevenir o envelhecimento do cérebro. As recomendações são relacionadas a
prevenção de problemas de saúde. Exames podem ser úteis quando existem
alterações neurológicas perceptíveis, como problemas de memória e de atenção.
3) Os neurotransmissores - substâncias que levam a
informação de um neurônio ao outro ou a um tecido - também sofrem com mudanças
durante o envelhecimento. VERDADE.
Dentro do próprio neurônio a transmissão se dá por
meio de energia, como acontece com o sistema elétrico de uma casa, por exemplo.
Como os cabos de energia, os neurônios são compridos e podem ter mais que 1 metro
de extensão. Entre as células, são os neurotransmissores que se comunicam,
passando a mensagem adiante. “Hoje conhecemos mais de 60 tipos de
neurotransmissores e, com a idade, a concentração de cada um pode variar; isso
pode estar associado a problemas de saúde”, ressalta o neurocirurgião.
4) Já existem formas de frear o desenvolvimento das
doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. MITO.
Infelizmente, ainda não existe uma forma clara de
frear processos degenerativos no cérebro, principalmente quando doenças como
Alzheimer e Parkinson já forma identificadas. Porém, segundo o neurocirurgião
da Unicamp e do Hospital Albert Einstein, existem condições de saúde que podem
reduzir o risco do desenvolvimento destas doenças. “Adotar um estilo de vida
mais saudável desde cedo, com alimentação balanceada, prática de atividades
físicas e evitando o excesso de bebidas alcoólicas, por exemplo, pode reduzir o
risco de doenças neurodegenerativas”, diz o médico.
5) O estilo de vida de um jovem pode influenciar,
no futuro, no envelhecimento do seu cérebro. VERDADE.
Um cérebro jovem deve ser estimulado e bem cuidado.
“A forma como se estimula o cérebro hoje, impacta diretamente no amanhã. O
cuidado deve ser físico, mental e emocional, uma vez que as emoções e a
cognição estão ligadas às conexões entre os neurônios. Hábitos de vida
saudáveis associados a um sono regular, evitando estresse e ansiedade, são
cuidados essenciais”, afirma o Dr. Marcelo Valadares.
6) Pessoas que mantêm hábitos relacionados à atividade
intelectual, como ler e estudar, têm uma menor predisposição a desenvolver
demência. VERDADE.
Sim, é verdade: manter vivos hábitos como ler e
estudar parecem estar relacionados a um menor risco de desenvolver demências
ou, ao menos, de resistir aos sintomas em seu início. O neurocirurgião explica
que a principal hipótese para explicar o mecanismo é chamada de reserva
cognitiva. “Estudos indicam que, quem estimula o cérebro, teria mais conexões
entre seus neurônios e maior capacidade de processamento da informação. Essa
reserva seria fundamental diante da morte de neurônios ligada ao envelhecimento
ou a doenças, suprindo a função que seria perdida normalmente”, afirma.
7) A qualidade do sono é importante para porque o
cérebro desliga e, assim, estaremos descansados para o próximo dia. MITO.
Segundo o Dr. Valadares, o sono de qualidade é um
dos principais elementos para manter a saúde do cérebro em dia. “Enquanto
dormimos, em vez de ‘desligar’, nosso cérebro inicia um dos seus momentos de
maior atividade. Enquanto nossa consciência está ausente e sonhamos, os
neurônios processam e arquivam as informações recebidas durante o dia. Além
disso, acreditamos que boa parte da ‘limpeza’ de resíduos de atividade cerebral
ocorra durante o sono. Esse trabalho noturno é o que garante a qualidade e a
limpeza, garantindo que o órgão esteja apto às atividades no próximo dia”, diz
o médico.
8) A prática de atividades físicas que desenvolvam
a musculatura corporal também pode contribuir para o cérebro. VERDADE.
Por mais estranho que pareça, é verdade. Diversas
pesquisas apontam que a atividade física moderada está associada com menores
índices de atrofia do cérebro. Ou seja: o cérebro de quem faz exercício físico
pode ser maior daqueles que não fazem. Pesquisadores também acreditam que isso
também signifique um risco menor de doenças neurodegenerativas.
9) Alimentação desregulada e excesso de álcool
podem influenciar diretamente no envelhecimento do cérebro. VERDADE.
Tanto o consumo excessivo de álcool, quanto açucares
e alimentos processados em excesso podem influenciar o cérebro. Entre mudanças
possíveis estão: alterações na capacidade cognitiva em qualquer idade; aumento
na atividade inflamatória, afetando especialmente especial pessoas idosas. De
acordo com médico da Unicamp, pesquisas apontam que evitar alimentos do tipo em
excesso pode preservar a estrutura e as funções cerebrais. No caso do álcool,
especificamente, podem ocorrer alterações profundas nos neurotransmissores.
10) Suplementação com DHA é essencial para
prevenção do envelhecimento cerebral. MITO.
O DHA é um ácido-graxo que faz parte do chamado
ômega 3, complexo de 3 tipos diferentes de substâncias muito importantes para o
organismo. Ele pode ser obtido por meio do leite materno e de alimentos como óleos
de peixes. Porém, a decisão de suplementar ou não DHA além do que já é obtido
naturalmente na alimentação, deve ser avaliada caso a caso, com orientação
médica e nutricional. “O DHA está presente em nosso corpo e é parte essencial
de nosso cérebro, mas ainda não está claro se consumi-lo pode ajudar no
funcionamento do organismo. Como dito anteriormente, é importante ressaltar que
também não existe, até o momento, uma forma de prevenir o envelhecimento do
cérebro”, finaliza o Dr. Valadares.
Dr. Marcelo Valadares - médico neurocirurgião e
pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da
Unicamp e do Hospital Albert Einstein. O
especialista também é fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de
Campinas, que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos,
enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos. No setor público, recriou a divisão de
Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep
Brain Stimulation - Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição.
Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado
à Neurologia.