Só existe uma maneira de se preparar para o futuro em sua empresa. Pensando estrategicamente! Esta deve ser uma das principais características de um CEO. Quem adquire essa capacidade consegue pensar em estratégias no longo prazo. Sei que o futuro é incerto, principalmente nos dias de hoje com mudanças cada vez mais rápidas e no país instável que vivemos. Mas, justamente por isso, o planejamento é essencial. Tentar tornar esse futuro mais claro, viável e mais a favor do negócio não é somente inteligente, é também indispensável.
Pensar estrategicamente é muito utilizado nos discursos corporativos. No
entanto, observo que poucos gestores realmente o executam. Isso acontece porque
exige que o gestor saia do seu lugar comum, de algo que ele domina, que é o dia
a dia da organização, e enxergue a empresa pelo lado de fora. Na prática, a
maioria das pessoas ainda é operacional, comportamento herdados dos nossos antepassados
que viveram a Revolução Industrial. Esse movimento automatizou as fábricas,
confinou trabalhadores em ambientes fechados e criou uma legião de dependentes
de empregos, salários, carteira assinada, crachá e outros benefícios. Ou seja,
as pessoas passaram a acreditar que a eficiência estava no trabalho e no
resultado imediato do que estavam fazendo. Hoje ainda há gestores com esse
pensamento. Claro que trabalhar no operacional é mais atrativo, pois você vê o
resultado no curto prazo, mas geralmente essa atitude não garante a
perpetuidade da empresa. Por isso, o CEO deve pensar de forma estratégica e não
operacional.
Quando ele coloca essa habilidade em prática consegue traçar o seu Planejamento
Estratégico, que é uma ferramenta muito importante da administração para
determinar as decisões que serão tomadas pensando na longevidade da empresa. E
isso não só nas grandes empresas, mas as pequenas empresas também se beneficiam
quando fazem um planejamento estratégico. O problema é que ainda são poucos os pequenos
empresários que adotam a estratégia.
Uma pesquisa realizada pela empresa americana Constant Contact, em 2018, com
1005 proprietários de pequenas empresas mostrou que 63% não fazem um
planejamento a longo prazo, se antecedendo, no máximo, para um ano. Aí você
pode falar: mas, Filipe, minha empresa é pequena, eu faço tudo aqui, não tenho
tempo pra nada, estou correndo o tempo todo, como posso parar para pensar
estrategicamente? Sim, eu sei disso, negócios em fases iniciais ou empresas
pequenas são assim mesmo - também fomos pequenos um dia - mas eu quero que
tenha em mente que se você estiver correndo tanto assim e a direção for a
errada estará se distanciando ainda mais do seu objetivo a cada passo que der.
Na maioria das vezes, correr sem direção é pior do que ficar parado. Existem
muitas empresas que até sobrevivem e prosperam sem o planejamento estratégico,
mas tenho certeza de que elas devem perder muitas oportunidades ao não o
aplicar. Se você está entre essas empresas, está na hora de mudar sua atitude.
Fazer um planejamento estratégico é garantia de que tudo ocorrerá exatamente
como foi previsto? Claro que não. Acidentes de percurso podem acontecer no meio
do caminho e tirar a organização do trajeto ideal. Lembre-se que o planejamento
não é trilho e sim trilha. O trilho é um caminho fixo, enquanto a trilha é
flexível à pequenas mudanças de trajeto que porventura sejam necessárias, mas
sem perder o destino final em mente para nortear os próximos passos. Na Anjo,
por exemplo, fazemos o planejamento estratégico com visão de 10 anos, porém a
cada cinco anos o revisamos para ver se ainda faz sentido. Além disso, todos os
anos realizamos os orçamentos anuais com base no planejamento estratégico.
Afinal, sempre vai existir tempo de vacas gordas e vacas magras, tempo de
bonança e escassez. O segredo é guardar durante a bonança para poder ser mais
estratégico e passar pela escassez da forma mais saudável possível aguardando
as próximas oportunidades.
Para fazer um bom planejamento estratégico é importante que o gestor saia da
operação e possa enxergar a empresa por outro ângulo. Quando digo sair da
operação não significa que você precisa abandonar seu cargo, mas se afastar por
umas horas da agitação do dia a dia empresarial, daquele entra e sai da sua sala,
daquele telefone que não para de tocar, daquelas decisões que precisam ser
tomadas imediatamente (essas demandas acontecem a todo o momento) para se
dedicar a isso. Eu sei que quando a empresa está começando, o fundador é o CEO,
administrativo, marketing, vendas e muito mais. Mas eu sugiro que tire uns
momentos na semana, ou no mês, para sair da operação e pensar estrategicamente.
Se a sua empresa tiver um funcionamento hierárquico, sugiro que inclua seus
líderes e profissionais-chave no processo. Ao tornar o PE participativo, o
gestor traz mais alinhamento e engajamento entre todos, aumentando as chances
de que as ações ali elaboradas sejam reais e possam ser colocadas em ação.
Filipe Colombo - CEO da Anjo Tintas, indústria de tintas com mais de 30 anos no
mercado. Pai de dois filhos e triatleta, empresário comanda a marca desde os 27
anos como presidente. São mais de 400 colaboradores, mais de 6.400 clientes
ativos e produtos que podem ser encontrados em todos os estados brasileiros em
mais de 6.200 lojas. Formado em Administração com ênfase em Marketing e com MBA
cursado nos EUA, China e Dubai, o CEO está oficialmente trabalhando na empresa
há 16 anos, mas pode dizer que frequenta a Anjo desde criança, já que seu pai,
Beto Colombo, a fundou inicialmente nos fundos da casa em que viviam.