Vivemos na era das incertezas. Essa expressão
tornou-se comum não porque as incertezas tenham passado a existir só agora, mas
porque se multiplicaram exponencialmente nas últimas décadas. Como sabemos,
nunca tivemos certeza de nada, exceto da morte. Agora, nem isso. Já se fala em
escaneamento da consciência, uma espécie de pendrive que seria conectado a um
andróide e permitiria que vivêssemos e vivêssemos long time. Ficção
Científica? Não. A ficção tornou-se o nome do que ainda não foi realizado e não
mais do fantasioso e do mirabolante. E todas as mudanças mudarão as pessoas e
as coisas em volta delas. Como entender e participar desse mundo?
É fato que há 30, 40 anos, quando pensávamos no
futuro, apareciam na tela de nossa imaginação não mais do que umas seis ou sete
possibilidades de trabalho: médico, engenheiro, advogado, militar, funcionário
do Banco do Brasil ou de algum cartório, motorista de ônibus ou ajudar o pai na
loja (lembrando que astronauta e arqueólogo eram profissões desejadas em um
tempo ainda mais remoto). Agora, o problema é que, diante da mesma pergunta,
são dezenas as profissões possíveis, muitas das quais ainda nem têm nome,
outras conhecemos de ouvir falar mas não sabemos exatamente quais habilidades
seriam necessárias para exercê-las: energias renováveis, inteligência
artificial, manipulação genética, robótica, internet das coisas, etc. e tal.
Jovens miram perplexos o horizonte dos próximos anos e se perguntam: vai ter
lugar para mim?
Tudo vai sendo virado de cabeça para baixo e as
tradições que ancoraram tantas práticas sociais, conceitos e valores do mundo
do trabalho, rapidamente vão se tornando obsoletas. Isso gera um desconforto,
quando não um sentimento de revolta. Mas a saída continua a ser uma só: buscar
entender as mudanças em vez de maldizê-las. Quanto maior a compreensão do que
está acontecendo, maiores as chances de assumir um protagonismo nesses novos
tempos. E então, o que está acontecendo? Como um jovem de hoje pode ter chance
de uma boa colocação profissional no mundo de amanhã?
Em primeiro lugar, compreendendo que precisa
aprender o tempo todo e precisa se comunicar com todo mundo. Ou seja: a ideia
de “estar formado” em algo, de “ter feito seus estudos” em tal lugar, de “ter
terminado a escola” em tal ano, não tem mais nenhum futuro. Viver é aprender
permanentemente e da maneira mais heurística possível. Heurística? É, trata-se
do aprendizado que leva ao aprendizado, do questionamento constante e do uso
intensivo da imaginação, da criatividade, do pensamento disruptivo. Disruptivo?
Sim, refere-se ao pensamento que rompe com o padrão da normalidade, que
rastreia novos paradigmas, que está sempre atento para outras maneiras de
associação, composição, reorganização dos fatos e dos saberes.
Além de aprender o tempo todo, é preciso também
poder se comunicar com todo mundo. Daí a importância de dominar as linguagens:
línguas estrangeiras, linguagem da programação, mas também a linguagem social
do network,
a linguagem emocional das negociações, a linguagem afetiva das parcerias. Em
resumo: conectividade e capacidade de tradução, esses são os dois pilares do
trabalho no futuro.
A escola, em algum momento, vai precisar contribuir
para essa reconstituição de saberes, rompendo com a ideia de que há coisas que
precisam ser aprendidas porque são coisas importantes. Não é assim que
funciona. Tudo o que precisa ser aprendido não é importante por si, mas porque
tem um papel no processo de transformação constante do mundo. A linguagem
matemática é fundamental, assim como a compreensão histórica ou o conhecimento
dos seres vivos, mas apenas na medida em que estão inseridos no contexto da
descoberta, que é o lugar da problematização; da justificação, que é onde se
analisam os dados e apresentam-se as conclusões; e da aplicação, quando esses
conhecimentos agem como ferramentas de transformação da realidade.
Assim, pensar uma escola a partir de cases,
de questionamentos, de problematizações, associando diversas disciplinas com
diferentes mentes de diversas idades, estimulando a formulação de hipóteses,
sendo rigoroso na apresentação e verificação dos dados, premiando o esforço, a
criatividade e o espírito de equipe - são os passos para colocar a escola no
lugar de relevância para as exigências desse tempo que é o de olhar o horizonte
e não enxergar o que há, mas imaginar o que haverá lá. Um tempo cujo futuro
será uma invenção do presente.
Daniel Medeiros - Mestre
e doutor em Educação Histórica pela UFPR. É professor no Curso Positivo.