País vizinho
elimina a doença e mostra que o caminho para o fim da malária passa por acesso,
prevenção e compromisso político. Uma lição urgente para o Brasil.
Foto: Prefeitura de Caraguatatuba.
Enquanto
o mundo acompanha avanços em inteligência artificial, terapias genéticas e
medicina personalizada, uma velha conhecida da humanidade segue fazendo
milhares de vítimas todos os anos: a Malária. Só no Brasil, foram mais de 130
mil casos em 2022. Uma doença que tem cura, tem prevenção, tem tratamento, mas
que ainda não tem fim.
Por
isso, o anúncio feito no final de junho pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
chamou tanta atenção: o Suriname, pequeno país encravado na Amazônia, foi
declarado livre da Malária. Um feito histórico. É o primeiro país da região a
conseguir esse reconhecimento. E o mais importante: fez isso apesar das mesmas
dificuldades que enfrentamos por aqui: floresta densa, comunidades isoladas,
fronteiras ativas e desigualdade social.
O
que é a Malária, afinal?
Apesar
de conhecida, a malária ainda é cercada de desinformação. Trata-se de uma
doença infecciosa transmitida por um mosquito específico, o Anopheles,
que se prolifera em áreas com água parada e vegetação. Ao picar uma pessoa
infectada, o mosquito se torna vetor do parasita e pode transmitir a doença a
outras pessoas.
Os
sintomas mais comuns são febre alta, calafrios, suor intenso, dor de cabeça e
muito cansaço. Sem tratamento, a doença pode evoluir e causar complicações
graves no fígado, rins, pulmões e até no cérebro.
Quem mais sofre?
No Brasil, a malária atinge
principalmente a região Norte — Amazonas, Acre, Rondônia e Pará. Os mais
afetados são os que vivem mais longe do sistema de saúde: populações indígenas,
ribeirinhas e trabalhadores de áreas de garimpo. Nesses locais, muitas vezes
não há médicos por perto, nem postos de saúde. O diagnóstico e o tratamento
demoram a chegar, o que eleva o risco de complicações e de transmissão.
Tem cura? Tem prevenção?
Sim, e ambas são acessíveis. A malária
tem cura, com tratamento gratuito oferecido pelo SUS. O diagnóstico precoce é
essencial para evitar complicações.
Entre as formas de prevenção estão o uso de mosquiteiros, roupas protetoras,
repelentes e a eliminação de criadouros ao redor das casas. Campanhas
educativas e medidas comunitárias são decisivas nas áreas de risco.
Por que o Suriname conseguiu?
O Suriname apostou no essencial:
acesso, prevenção e informação. O país descentralizou o atendimento, levou
testes rápidos às áreas mais remotas, capacitou profissionais locais e envolveu
as comunidades no combate à doença. Mesmo com a queda no número de casos, o
monitoramento continuou firme, estratégia fundamental para evitar novas ondas
de transmissão.
“Eliminar a malária exige constância. Não basta agir durante os surtos; é
preciso vigilância contínua”, explica a infectologista Dra. Carolina Larocca,
professora do InfectoCast.
Foram mais de 20 anos de políticas públicas consistentes e planejamento
nacional. O resultado veio agora: o reconhecimento da OMS e, mais importante, a
proteção da população.
E o Brasil?
Temos recursos, profissionais e o SUS.
Mas ainda enfrentamos barreiras como o desmatamento, o avanço do garimpo
ilegal, a precariedade da atenção básica em regiões isoladas e os cortes no
orçamento da saúde.
“A malária no Brasil persiste não por falta de tecnologia, mas por falta de
prioridade. É uma doença que atinge quem já vive à margem — e, por isso, segue
invisível para muitos”, destaca a Dra. Carolina Larocca.
O que podemos aprender?
A lição do Suriname é clara: dá para
vencer a malária, mesmo com poucos recursos e grandes desafios. O que faz a
diferença é a decisão de agir. Com planejamento, ciência e compromisso social,
a doença pode deixar de fazer parte da realidade de milhões de brasileiros. Até
lá, é preciso manter o tema vivo. Porque a informação também salva vidas. E a
mudança começa quando entendemos o problema, e não aceitamos mais conviver com
ele.
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