A obesidade infantil
é um dos desafios mais urgentes da saúde pública no Brasil. Dados recentes do
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) mostram que cerca de
14,2% das crianças brasileiras com menos de cinco anos já apresentam excesso de
peso ou obesidade — número quase três vezes superior à média global, que é de
5,6%. Entre os adolescentes, a situação é ainda mais alarmante: um em cada três
jovens de 5 a 19 anos está com sobrepeso ou obesidade, segundo o Atlas Mundial
da Obesidade 2024. As projeções indicam que, se nada for feito, metade das
crianças e adolescentes brasileiros poderá estar acima do peso até 2035.
Para a pediatra
Mariana Bolonhezi, CEO do Instituto Macabi, a prevenção deve começar desde
cedo, ainda na introdução alimentar. Segundo ela, é essencial conscientizar as
famílias sobre a diferença entre alimentos in natura, minimamente processados e
os ultraprocessados, que são contraindicados. Mariana destaca que muitos dos
alimentos rotulados como “infantis”, como iogurtes adoçados e lanches prontos,
têm pouco valor nutricional e apenas estimulam o chamado apetite hedônico —
aquele impulso de comer por prazer, não por necessidade. “Comer saudável não é
comer caro. É comer o trivial, aquilo que vem da terra, é acessível e
nutritivo”, explica.
Outro ponto
importante na prevenção é o respeito à saciedade da criança. Forçar a
alimentação ou recorrer a distrações para que a criança aceite a comida pode
comprometer a relação saudável com os alimentos. Mariana reforça que se
alimentar é um comportamento aprendido e que precisa ser tratado com cuidado e
orientação.
A atividade
física também é um pilar fundamental na prevenção da obesidade. Para isso, é
necessário reduzir o tempo de tela e incentivar o movimento livre, ao ar livre
e em contato com a natureza. O aumento do sedentarismo e o excesso de tempo em
frente a celulares, tablets e televisões são sinais de alerta que não devem ser
ignorados. Uma dieta rica em ultraprocessados, pobre em alimentos naturais e o
hábito de substituir refeições por itens “preferidos” da criança também indicam
que algo precisa mudar.
Mariana enfatiza que a obesidade é uma doença multifatorial. Não se trata apenas de comer bem ou mal, mas sim de um conjunto de fatores emocionais, sociais e comportamentais que impactam diretamente na saúde da criança. Apesar disso, muitas dessas causas podem ser prevenidas com orientação adequada. Ela reforça que a informação é a principal aliada de famílias, educadores e profissionais de saúde. Prevenir a obesidade infantil é garantir um futuro mais saudável, com menos riscos de doenças crônicas como hipertensão, diabetes tipo 2 e complicações cardiovasculares já na fase adulta.
“Obesidade infantil não é apenas uma questão estética ou passageira. É uma condição séria, com impactos duradouros. E quanto mais cedo a gente agir, maiores são as chances de reverter esse quadro”, conclui Mariana.
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