Ao contrário do
que informam as redes sociais, mulheres na menopausa, que passaram por câncer
de mama, não devem ser submetidas a tratamento hormonal, reforça a Sociedade
Brasileira de Mastologia (SBM)
nateemee
Sob o propósito de amenizar os sintomas do
climatério, o uso da terapia hormonal em pacientes que tiveram câncer de mama
tem sido amplamente divulgado nas redes sociais. Diante da grande visibilidade
alcançada pelo tema, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) se manifesta
contrária à utilização deste recurso que requer estudos científicos amplos e
confiáveis para ser aplicado. “É fundamental ressaltar que nada mudou e o
câncer de mama continua sendo uma contraindicação clássica ao uso de terapia hormonal
do climatério/menopausa”, afirma João Bosco Ramos Borges, mastologista pela
SBM, professor titular de Ginecologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí e
professor da Faculdade Sírio-Libanês.
A fisiopatologia do câncer de mama é caracterizada
pelo crescimento descontrolado de células anormais que podem, inclusive,
invadir tecidos circundantes e se disseminar para outros órgãos. “Estamos
falando de um tumor que tem profunda participação de estrogênio e progesterona,
esteroides sexuais femininos, nesta fisiopatologia”, diz João Bosco. O
mastologista explica que a terapia hormonal aplicada para aliviar sintomas da
menopausa, como ondas de calor, insônia, fadiga e ressecamento vaginal,
utiliza, justamente, estrogênio e, em alguns casos, progesterona.
O especialista destaca pelo menos três estudos
clínicos bem estruturados que investigam o uso de terapia hormonal em mulheres
que sobreviveram ao câncer de mama: “Menopausal hormone therapy after breast
cancer: the Stockholm randomized trial”, “Increased risk of recurrence after
hormone replacement therapy in breast cancer survivors”, ambos publicados pelo Journal of
the National Cancer Institute, e “Safety and efficacy of tibolone
in breast-cancer patients with vasomotor symptoms: a double-blind, randomised,
non-inferiority trial” (The Lancet Oncology).
As pesquisas, segundo João Bosco, têm o propósito
de determinar se a terapia hormonal estaria associada a um risco aumentado de
recorrência ou desenvolvimento de novos cânceres de mama. “Os estudos concluem
que há, sim, aumento de risco de recorrência da neoplasia. Até hoje, é nesta
constatação que profissionais de saúde se baseiam para contraindicar o uso de
hormônios”, afirma.
De acordo com o representante da SBM, o artigo que
embasa a informação veiculada nas redes sociais sobre a indicação de terapia
hormonal na menopausa para mulheres que passaram por tratamento de câncer é uma
“revisão narrativa” publicada em 2022. “As revisões narrativas têm baixo nível
de evidência na hierarquia tradicional da medicina baseada em evidências e não
seguem um protocolo sistemático e transparente como nas metanálises e nos
ensaios clínicos randomizados”, diz. “A seleção dos estudos incluídos pode ser
subjetiva e tendenciosa, refletindo mais a opinião do autor do que uma análise
abrangente da literatura médica”, completa.
Para João Bosco Ramos Borges, o momento é de
avançar em estratégias para o diagnóstico precoce do câncer de mama e melhorar
os tratamentos que proporcionem maior sobrevida às pacientes brasileiras.
“Somos totalmente favoráveis à melhora da qualidade de vida das mulheres após o
câncer de mama. Neste sentido, há terapias alternativas, drogas novas chegando,
mas a terapia hormonal segue absolutamente contraindicada nesta situação”,
conclui o mastologista da SBM.
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