Dr. Mauro Jácome, gastroenterologista e cirurgião geral, contextualiza a importancia de exigir receita médica para o uso de canetas emagrecedoras
Nas últimas semanas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
decidiu que passa a ser obrigatória a retenção de receita médica na venda das
chamadas canetas emagrecedoras É o caso de medicamentos como Ozempic, Saxenda,
Wegovy e o novato Mounjaro que está a caminho das farmácias brasileiras. Esses
medicamentos, prescritos para pacientes com diabetes tipo 2, também estão sendo
usados por quem deseja perder peso.
Essa demanda começou no pós pandemia, especialmente com a popularização do
uso indiscriminado do Ozempic. A fama desses medicamentos de fato é verídica.
Por conta de como eles atuam no organismo, especialmente pela semaglutida ou
tirzepatida, princípios ativos que atuam diretamente na secreção de insulina
pelo pâncreas o que acaba manipulando o nível de glicemia do corpo. Além disso,
a molécula dessa substância, ou de substâncias similares encontradas nas
canetas, ajuda a retardar o esvaziamento gástrico, promovendo maior sensação de
saciedade.
“Tanto na prática quanto os estudos indicam que o uso desses medicamentos
colaboram para o emagrecimento. Logo, os pacientes que usufruem deles não estão
equivocados. Porém, a custo do quê? Sempre é importante lembrar que o uso
indiscriminado de qualquer medicação que seja, pode provocar sérias
consequências ao corpo e os usuários das canetas emagrecedoras estão esquecendo
disso. A retenção desses medicamentos é uma necessidade dos tratamentos
modernos para o emagrecimento, sem dúvidas”, aponta o médico
gastroenterologista e cirurgião geral, Dr. Mauro Jácome.
A opinião do Dr. Mauro vai de encontro às sociedades brasileiras de
Endocrinologia e Metabologia e de Diabetes que, juntas, no fim do ano passado
divulgaram uma carta aberta defendendo a retenção de receita para a venda dos
agonistas de GLP-1, nome técnico das canetas emagrecedoras. Para as entidades,
o uso indiscriminado gera preocupações quanto à saúde da população e ao acesso
dos pacientes que realmente necessitam do tratamento.
Para as entidades, e de acordo com especialistas e pesquisas, o uso de
emagrecedores sem acompanhamento médico e com a dosagem inadequada pode
provocar náuseas, distensão abdominal, constipação ou diarreia. O uso incorreto
também pode agravar transtornos psicológicos e alimentares.
“O corpo é uma caixinha de surpresas. Nós sabemos como são as
funcionalidades e o metabolismo, mas, a sua reação a cada tipo de medicação é
sempre uma surpresa. Por isso, antes de prescrever qualquer medicação,
realizamos baterias de exames, avaliações clínicas e investigações profundas
para entender as possíveis reações metabólicas. Só depois entregamos a receita.
Porém, o paciente que vai até a farmácia e compra uma caneta de Ozempic,
Saxenda e Wegovy, ou ainda importa o Mounjaro, não tem essa análise. Logo, ele
não faz ideia do que está colocando para dentro e muito menos de quais reações
isso pode provocar”, completa Dr. Mauro Jácome.
O médico ainda analisa a aplicação dessas medicações a longo prazo e
relaciona ao seus efeitos emagrecedores, especialmente quando não há um ponto
final para o uso. “Esses medicamentos atuam nos hormônios intestinais,
diretamente no centro da saciedade, o que permite uma retirada mais tranquila
com redução gradual das doses. Quando o paciente está sob acompanhamento
multidisciplinar, como com um nutricionista, aprende a fazer melhores escolhas
alimentares. Isso ajuda a evitar o retorno da fome intensa e a recaída em
antigos hábitos após o fim do tratamento”, finaliza.
A partir de agora, as farmácias deverão reter a receita no momento da compra
realizada pelo consumidor. Para serem válidas nas drogarias, as prescrições
precisarão ter duas vias e validade de até 90 dias. Além disso, os
estabelecimentos deverão registrar as receitas no Sistema Nacional de Gerenciamento
de Produtos Controlados (SNGPC).
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