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sábado, 5 de abril de 2025

O pilar humano do ESG


A cada ano, testemunhamos o aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos, impulsionando o debate sobre a necessidade de as empresas adotarem práticas alinhadas aos princípios de ESG (Environmental, Social and Governance). No entanto, a adoção dessas ações costuma ser predominantemente associada à dimensão ambiental, reduzindo o conceito de sustentabilidade e não abarcando, por vezes, as dimensões inerentes aos indivíduo, seja em seus processos de autoconhecimento, seja na luta por direitos. Essa visão limitada enfraquece o pilar social (S), deixando de lado aspectos essenciais, como o bem-estar dos colaboradores, a equidade e o impacto social das empresas. 

Ao mesmo tempo em que as empresas têm em pauta seus investimentos no negócio, algumas delas já investindo diretamente em projetos sociais, é preciso considerar o cuidado pelo ambiente interno. As empresas são formadas por pessoas, e cuidar delas não é apenas uma questão de ética ou normativa, mas também estratégica e sustentável. 

Mas o que quero dizer com isso? Quando pensamos no viés social de uma organização, não estamos falando apenas de políticas internas, mas do impacto real sobre os colaboradores, suas famílias e todo o ecossistema ao seu redor. Cuidar do bem-estar desse círculo socializante é essencial para construir uma base sólida para o negócio. Na Sow, quando começamos o diálogo com as empresas para transmitir a necessidade de entender certos conceitos sociais, deixamos claro que esse trabalho é extremamente importante e precisa acontecer, além das ações externas, como compensação ambiental ou filantropia. 

Nesse contexto, a saúde mental tem ganhado cada vez mais protagonismo no ambiente corporativo. Questões como burnout, ansiedade e depressão não afetam apenas a qualidade de vida dos profissionais, mas também comprometem a produtividade e a sustentabilidade das empresas. Por isso, esse investimento não deve ser visto como um custo, mas como um diferencial estratégico. 

E os números reforçam essa necessidade. Um levantamento da Organização Mundial da Saúde aponta que cada dólar investido em saúde mental pode gerar um retorno de US$ 4 em produtividade e redução de custos médicos. Além disso, um estudo da Gallup destacou que ambientes emocionalmente saudáveis apresentam uma redução de até 41% nos índices de absenteísmo e turnover. Essa relação evidencia que investir no social não é somente um imperativo moral, mas também uma estratégia inteligente para impulsionar a competitividade e a rentabilidade. Isso deixa claro que um ambiente corporativo saudável é uma necessidade para empresas que desejam se manter relevantes e sustentáveis a longo prazo. 

E construir esse ambiente não se resume apenas à inclusão ou retenção de talentos, mas também ao cuidado com a saúde mental dos profissionais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), transtornos como depressão e ansiedade geram um impacto econômico significativo, resultando em uma perda de produtividade global estimada em US$ 1 trilhão por ano. 

Os indicadores também mostram reflexos no mercado financeiro. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da B3, indica que empresas que adotam boas práticas sociais tendem a apresentar maior valorização de suas ações e menor risco de passivos trabalhistas. Isso evidencia que o compromisso com o "S" não é apenas uma preocupação individual, mas uma peça-chave para a sustentabilidade dos negócios e uma gestão de pessoas mais eficaz. 

E temos casos de sucesso no Brasil que são referência na implantação dessa política, integrando responsabilidade social e sustentabilidade, investindo na capacitação e no desenvolvimento de comunidades, gerando impacto positivo tanto na sociedade quanto na cadeia produtiva. Esse modelo de negócio reforça sua competitividade e cria um diferencial sustentável no mercado. 

O "S" no ESG é um pilar fundamental para organizações que buscam crescimento sustentável e responsável. Investir em diversidade, inclusão, qualidade de vida e saúde mental gera impacto positivo não apenas na sociedade, mas também na resiliência e lucratividade dos negócios. Cuidar das pessoas é cuidar do futuro. E, no mundo corporativo, o futuro pertence às empresas que reconhecem que seu maior ativo é o capital humano.



Karina Damião - psicanalista e presidente da associação Sow Saúde Integral.



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