A
cada ano, testemunhamos o aumento da frequência e intensidade dos eventos
climáticos extremos, impulsionando o debate sobre a necessidade de as empresas
adotarem práticas alinhadas aos princípios de ESG (Environmental, Social and
Governance). No entanto, a adoção dessas ações costuma ser predominantemente
associada à dimensão ambiental, reduzindo o conceito de sustentabilidade e não
abarcando, por vezes, as dimensões inerentes aos indivíduo, seja em seus
processos de autoconhecimento, seja na luta por direitos. Essa visão limitada
enfraquece o pilar social (S), deixando de lado aspectos essenciais, como o
bem-estar dos colaboradores, a equidade e o impacto social das empresas.
Ao
mesmo tempo em que as empresas têm em pauta seus investimentos no negócio,
algumas delas já investindo diretamente em projetos sociais, é preciso
considerar o cuidado pelo ambiente interno. As empresas são formadas por
pessoas, e cuidar delas não é apenas uma questão de ética ou normativa, mas
também estratégica e sustentável.
Mas
o que quero dizer com isso? Quando pensamos no viés social de uma organização,
não estamos falando apenas de políticas internas, mas do impacto real sobre os
colaboradores, suas famílias e todo o ecossistema ao seu redor. Cuidar do bem-estar
desse círculo socializante é essencial para construir uma base sólida para o
negócio. Na Sow, quando começamos o diálogo com as empresas para transmitir a
necessidade de entender certos conceitos sociais, deixamos claro que esse
trabalho é extremamente importante e precisa acontecer, além das ações
externas, como compensação ambiental ou filantropia.
Nesse
contexto, a saúde mental tem ganhado cada vez mais protagonismo no ambiente
corporativo. Questões como burnout, ansiedade e depressão não afetam apenas a
qualidade de vida dos profissionais, mas também comprometem a produtividade e a
sustentabilidade das empresas. Por isso, esse investimento não deve ser visto
como um custo, mas como um diferencial estratégico.
E
os números reforçam essa necessidade. Um levantamento da Organização Mundial da Saúde aponta
que cada dólar investido em saúde mental pode gerar um retorno de US$ 4 em
produtividade e redução de custos médicos. Além disso, um estudo da Gallup destacou que ambientes emocionalmente saudáveis apresentam uma redução
de até 41% nos índices de absenteísmo e turnover. Essa relação evidencia que
investir no social não é somente um imperativo moral, mas também uma estratégia
inteligente para impulsionar a competitividade e a rentabilidade. Isso deixa
claro que um ambiente corporativo saudável é uma necessidade para empresas que desejam se
manter relevantes e sustentáveis a longo prazo.
E
construir esse ambiente não se resume apenas à inclusão ou retenção de
talentos, mas também ao cuidado com a saúde mental dos profissionais. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), transtornos como depressão e ansiedade geram um
impacto econômico significativo, resultando em uma perda de produtividade
global estimada em US$ 1 trilhão por ano.
Os
indicadores também mostram reflexos no mercado financeiro. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da B3, indica que empresas que adotam boas práticas
sociais tendem a apresentar maior valorização de suas ações e menor risco de
passivos trabalhistas. Isso evidencia que o compromisso com o "S" não
é apenas uma preocupação individual, mas uma peça-chave para a sustentabilidade dos negócios e uma gestão de pessoas
mais eficaz.
E temos casos de sucesso no Brasil que são referência na
implantação dessa política, integrando responsabilidade social e
sustentabilidade, investindo na capacitação e no desenvolvimento de
comunidades, gerando impacto positivo tanto na sociedade quanto na cadeia
produtiva. Esse modelo de negócio reforça sua competitividade e cria um
diferencial sustentável no mercado.
O
"S" no ESG é um pilar fundamental para organizações que buscam
crescimento sustentável e responsável. Investir em diversidade, inclusão,
qualidade de vida e saúde mental gera impacto positivo não apenas na sociedade,
mas também na resiliência e lucratividade dos negócios. Cuidar das pessoas é
cuidar do futuro. E, no mundo corporativo, o futuro pertence às empresas que
reconhecem que seu maior ativo é o capital humano.
Karina Damião - psicanalista e presidente da associação Sow Saúde Integral.
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