Um estudo inovador publicado na revista científica Nature Medicine demonstrou um impacto significativo no uso da estimulação cerebral profunda para amplificar a recuperação da capacidade de andar em pacientes com lesões incompletas na medula espinhal.
A pesquisa, liderada pelo Dr. Newton Cho e o Dr.
Grégoire Courtine, em colaboração com a École Polytechnique Fédérale de
Lausanne (EPFL) e o Hospital Universitário de Lausanne (CHUV), investigou a
ativação de neurônios glutamatérgicos no hipotálamo lateral - até então
subestimado em pesquisas sobre lesões na medula espinhal - a partir da
estimulação cerebral profunda desta área. A abordagem terapêutica é capaz de
reorganizar projeções neurais remanescentes na medula espinhal, promovendo
melhorias funcionais duradouras em humanos. Os participantes do estudo
relataram progresso imediato na marcha, com aumento na resistência e redução do
esforço percebido. Um dos participantes pode subir os degraus de uma escada.
Resultados promissores de um ensaio piloto mostraram
que, além das melhorias clínicas, a neuroestimulação pode mediar reorganizações
neurais que persistem mesmo após o desligamento do dispositivo, destacando seu
potencial como um novo paradigma terapêutico.
“Os profissionais que praticam a estimulação cerebral
profunda como um tratamento de reabilitação funcional estão entusiasmados com
os resultados encontrados, mas ainda precisamos investigar mais profundamente
os mecanismos e a segurança em longo prazo, em grupos maiores de pacientes”,
destaca o Dr. Marcelo Valadares, médico neurocirurgião e pesquisador da
Disciplina de Neurocirurgia na Unicamp.
O avanço complementa outro estudo de impacto
publicado no New England Journal of Medicine, conduzido pela Universidade
de Louisville, nos Estados Unidos, que investigou a estimulação epidural da
medula espinhal combinada com treinamento locomotor. Essa pesquisa mostrou que
pacientes com paralisia motora completa poderiam recuperar a capacidade de
andar em ambientes controlados. Enquanto o estudo americano focava na
estimulação local da medula espinhal, a nova pesquisa amplia o horizonte ao
direcionar regiões específicas do cérebro capazes de coordenar a recuperação.
“O que estamos vendo é uma integração de esforços
associados: enquanto a estimulação epidural da medula espinhal oferece suporte
motor direto, a estimulação cerebral profunda do em uma região específica do
cérebro vai além e atua como uma ‘chave mestre’, reorganizando redes neurais
para potencializar a recuperação funcional”, explica o
neurocirurgião. “Essas descobertas abrem novas portas para o tratamento de lesões
complexas, oferecendo esperança aos pacientes”, complementa.
Embora mais estudos clínicos em larga escala sejam
necessários para validar a segurança e eficácia do tratamento, a combinação entre
tecnologia avançada, neurociência e abordagens clínicas inovadoras já
proporcionam tratamentos eficazes aos pacientes.
No Brasil, a estimulação medular e cerebral já é uma realidade consolidada em tratamentos para condições como dor crônica e Parkinson, com resultados expressivos. Esses avanços mostram o potencial da neuroestimulação como ferramenta terapêutica, aliando tecnologia e neurociência de ponta. “No caso de paralisias, embora a aplicação ainda esteja em fases de estudos e validação, a consolidação dessas técnicas no país pode abrir novas possibilidades promissoras, trazendo esperança para pacientes e ampliando o alcance da reabilitação funcional”, defende o neurocirurgião da Unicamp.
Dr. Marcelo Valadares - médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Neurocirurgia Funcional é a sua principal área de atuação. Seu enfoque de trabalho é voltado às cirurgias de neuromodulação cerebral em distúrbios do movimento, cirurgias menos invasivas de coluna (cirurgia endoscópica da coluna), além de procedimentos que envolvem dor na coluna, dor neurológica cerebral e outros tipos de dor. O especialista também é fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas, que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos. No setor público, recriou a divisão de Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep Brain Stimulation – Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição. Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado à Neurologia.
www.marcelovaladares.com.br
Instagram: @drmarcelovaladares
Facebook: facebook.com/drmarcelovaladares
Nenhum comentário:
Postar um comentário