Nova alta da taxa básica de juros reflete problemas graves da política fiscal, que gera incertezas e, por sua vez, inflação persistente
O Brasil encerrará 2024 com a quarta maior taxa de
juros nominal do planeta (12,25%), após o reajuste de um ponto porcentual
(p.p.) da Selic, anunciado nesta quarta-feira (11) pelo Comitê de Política
Monetária (Copom), do Banco Central (Bacen). Se, por um lado, a nova
elevação [gráfico 1] era, de fato, necessária — dada a conjuntura
econômica do País —, por outro, conviver com juros dessa
magnitude é preocupante para o futuro.
Na imediatez do anúncio, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
do Estado de São Paulo (FecomercioSP) reconhece que o comitê reagiu a um
contexto inflacionário que se mostra cada vez mais permanente. O Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro, divulgado na última terça (10),
mostrou um encarecimento de 0,39% nos preços. No acumulado de 12 meses, já
estão 4,82% maiores, sendo que a meta estipulada pelo Bacen era de uma inflação
de 4,5% em 2024.
Nesse
sentido, a escalada dos preços já ameaça o poder de compra das famílias
brasileiras, justamente em um ano marcado por queda do desemprego (6,2%, no
trimestre encerrado em outubro) e aumento da massa de renda real.
Ainda, essa
inflação persistente é consequência do desequilíbrio fiscal do Brasil, que,
além de se prolongar no tempo, está longe de ter uma resolução no horizonte. O
pacote de corte de gastos anunciado pelo governo é visto pela Federação como
paliativo, adiando um debate inevitável sobre novas medidas para a redução.
Essa situação impacta diretamente as expectativas sobre a inflação do mercado,
jogando incertezas nas previsões e, por consequência, elevando as taxas de
juros de longo prazo. Em meio a esse conflito, o Bacen não tem muito o que
fazer a não ser ancorar essas expectativas em uma Selic elevada e evitar que
essa inflação saia do controle. Em outras palavras, foi uma medida amarga, mas
necessária.
É por isso que essa discussão deveria exceder a taxa Selic, focando mais
nos motivos pelos quais permanece alta (apenas a Turquia, a Rússia — em guerra
— e a Argentina têm juros nominais maiores). De acordo com a FecomercioSP, as
dúvidas quanto à política fiscal é a principal causa desse cenário, já que, além
das expectativas do mercado, também desestimulam o investimento privado, elevam
os custos do financiamento da dívida pública e minam toda a confiança que
(ainda) existe na economia brasileira daqui para a frente. Dessa forma, o Bacen
tem atuado como um estabilizador macroeconômico de um país que não encontra uma
solução factível para a sua desorganização fiscal. A Selic a 12,25% nada mais é
do que a consequência (e não a causa) do Brasil atual.
FecomercioSP
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