Com a atualização da NR-1, riscos psicossociais como estresse e assédio passam a integrar oficialmente o processo de gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST).
A partir de 2025, o cenário da gestão de saúde e
segurança no trabalho no Brasil sofrerá uma transformação significativa.
Empresas de todos os portes serão obrigadas a incluir a avaliação de riscos
psicossociais como parte de suas estratégias de proteção à saúde dos
trabalhadores. Essa mudança é resultado da atualização da Norma Regulamentadora
nº 1 (NR-1), promovida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em 2024, que
busca alinhar as práticas brasileiras aos padrões globais de saúde ocupacional.
Riscos
psicossociais: uma nova fronteira no ambiente de trabalho
Riscos psicossociais envolvem fatores como
organização do trabalho, relações interpessoais e condições que impactam
diretamente a saúde mental dos trabalhadores. Entre eles, destacam-se metas
irreais, jornadas exaustivas, assédio moral, conflitos interpessoais e a
ausência de suporte adequado.
Esses fatores, muitas vezes negligenciados, podem
desencadear problemas sérios como estresse crônico, ansiedade, depressão e até
burnout. O impacto não se limita ao bem-estar dos trabalhadores: "Quando
não tratados, os riscos psicossociais geram altos custos para as empresas, como
aumento no número de afastamentos, queda na produtividade e maior rotatividade
de funcionários", alerta Edgar Bull, perito judicial e especialista em
segurança do trabalho.
O que a
atualização da nr-1 traz de novo?
Antes da atualização, a gestão de SST já exigia o
controle de riscos no ambiente laboral, mas não abordava explicitamente os
riscos psicossociais. Agora, a norma exige que os empregadores identifiquem,
avaliem e tratem esses riscos como parte integrante do Programa de
Gerenciamento de Riscos (PGR).
"Essa atualização coloca o Brasil na vanguarda da proteção à saúde mental no trabalho, mas também representa um desafio significativo para empresas que ainda não estão preparadas", ressalta Edgar. segundo ele, será necessário adotar práticas como a reorganização do trabalho, melhorias na comunicação e a criação de canais de suporte para os funcionários.
Setores sob os holofotes da fiscalização
Com a
implementação, setores mais vulneráveis, como teleatendimento, bancos e saúde,
serão o foco inicial das fiscalizações do MTE. Os auditores-fiscais terão a
missão de analisar não apenas os documentos e processos das empresas, mas
também os relatos dos trabalhadores.
"É
essencial que as empresas comecem a se adaptar desde já. Esperar até o último
momento pode resultar em multas e complicações legais", alerta Edgar Bull.
Ele também reforça a importância de diagnósticos precisos: "Para setores
complexos, contar com consultores especializados será uma estratégia essencial
para adequação."
Investimento
em consultoria especializada e boas práticas
Embora a
norma não obrigue a contratação de psicólogos ou outros especialistas como
parte do quadro fixo de funcionários, Edgar destaca a importância de investir
em consultorias especializadas. Empresas que contratam profissionais para
realizar avaliações específicas e propor soluções personalizadas têm mais
chances de cumprir as exigências da norma sem gerar custos desnecessários.
Além disso,
práticas como pesquisas de clima organizacional, treinamentos e o
fortalecimento de lideranças podem ajudar a prevenir situações de risco. O
gerenciamento de riscos psicossociais não é apenas uma obrigação legal; é uma
oportunidade para criar ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos.
A
importância de envolver a liderança
Um dos
maiores desafios será engajar líderes e gestores na implementação dessas
mudanças. A liderança é peça-chave na identificação e resolução de riscos
psicossociais. Sem gestores capacitados, qualquer iniciativa pode ser ineficaz.
Ele sugere
que empresas invistam em treinamentos para seus líderes, promovendo habilidades
como escuta ativa, resolução de conflitos e gestão empática. Quando a liderança
entende os impactos dos riscos psicossociais, as soluções se tornam mais
efetivas.
Com a
atualização da NR-1, o Brasil dá um passo importante para a consolidação de
ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis. No entanto, essa mudança requer
planejamento, investimento e uma visão estratégica por parte das empresas.
"Gerenciar riscos psicossociais é mais do que cumprir a lei; é uma oportunidade de fortalecer o vínculo com os colaboradores e promover uma cultura organizacional sustentável", conclui Edgar Bull. A adaptação não será simples, mas os benefícios para empresas e trabalhadores fazem dela um marco essencial na evolução das relações de trabalho no Brasil.
Edgar Bull – Engenheiro e Perito Judicial Especialista em Segurança do Trabalho. Engenheiro Civil formado pela USP, pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho e Higiene Ocupacional e bacharel em Direito. Com uma trajetória sólida e ampla experiência em perícias judiciais, ele atua como perito nos Tribunais Regionais do Trabalho da 2ª e 15ª regiões, além de ser membro ativo da Comissão de Perícias da OAB e professor de pós-graduação do SENAC. Responsável técnico pela EST da METRA (Medicina e Assessoria em Segurança do Trabalho), Edgar é referência em segurança do trabalho e avaliação de riscos, com um olhar especializado para a proteção dos trabalhadores e a conformidade legal das empresas.
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