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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Aids: número de mortes é o menor da década no Brasil, mas número de novas infecções aumentaram

Médico da SBPC/ML afirma que educação e conscientização também são necessárias para diminuição das ocorrências
 

De acordo com o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde (MS), a taxa de mortalidade de Aids no Brasil foi a menor dos últimos dez anos. No ano de 2023, a taxa apresentada foi de 3,9%, cerca de 10,3 mil óbitos, a menor desde 2013, quando houve o início da série histórica. Entretanto, o número de novos casos aumentou 4,5% em relação ao ano de 2022. Por isso, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) faz o alerta: além do crescimento dos casos de HIV, há também o aumento das infecções sexualmente transmissíveis como sífilis, clamídia e gonorreia. 

A estimativa, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é que mais de um milhão de ISTs curáveis e não virais ocorram diariamente no planeta em indivíduos com idade entre 15 e 49 anos. Em outubro de 2023, dados divulgados pelo MS mostraram que os casos detectados de sífilis por 100 mil habitantes aumentaram em 23%. 

Celso Granato, médico infectologista e patologista clínico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), afirma que é necessário mais educação e conscientização para diminuir esses percentuais. Um dos motivos para o crescimento das outras ISTs pode ser também o uso de Profilaxia Pré-Exposição (PREP), o medicamento para ser usado antes da exposição ao vírus por pessoas que não adotam o preservativo como método de prevenção. 

Segundo o boletim 2023 da UNAIDS - programa conjunto das Nações Unidas que tem como objetivo liderar e coordenar a resposta global à epidemia de HIV/AIDS, cerca de 39,9 milhões de pessoas no mundo estavam vivendo com HIV em 2022, sendo 1,3 milhão de pessoas infectadas naquele ano. Entre eles, 38,6 milhões tinham 15 anos ou mais; 1,4 milhão tinham menos de 15 anos e 53% de todas as pessoas vivendo com HIV eram mulheres e meninas. Cerca de 5,4 milhões de pessoas não sabiam que estavam vivendo com HIV em 2023. Desde 2010, as novas infecções por HIV por ano diminuíram 39%, de 2,1 milhões para 1,3 milhão em 2022. No entanto, essa redução está muito longe da meta de ficar abaixo de 370 mil até 2025. 

As mortes relacionadas à AIDS foram reduzidas em 51% desde 2010. Em 2023, cerca de 630 mil pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS em todo o mundo, comparado a 1,3 milhão em 2010. A meta para 2025 é de menos de 250 mil. E apesar do Brasil apresentar, nos últimos dez anos, queda de mais de 25% na mortalidade, segundo o governo, cerca de 30 pessoas ainda morrem por conta dessa condição a cada dia no país. 

Diante da maior prevalência mediana entre certos grupos de pessoas - 2,3% maior entre mulheres jovens e meninas de 15 a 24 anos na África Oriental e Austral; 7,7% maior entre homens que fazem sexo com homens; 3% maior entre profissionais do sexo; 5% maior entre pessoas que usam drogas injetáveis; 9,2% maior entre pessoas trans; e 1,3% maior entre pessoas privadas de liberdade. 

No Brasil, os dados apontam que em 2023, 70,7% dos casos novos foram notificados em pessoas do sexo masculino, 63,2% em pessoas pretas e pardas e 53,6% em homens que fazem sexo com outros homens. A faixa etária com mais casos é a de 20 a 29 anos de idade, com 37,1% dos casos.
 

Último avanço no combate ao HIV: Profilaxia Pré-Exposição (PREP)

A PrEP é uma das formas de prevenção mais recentes do HIV. O tratamento consiste em tomar determinadas medicações, com prescrição médica, que preparam o organismo a um possível contato com o vírus. Essa profilaxia pode ser feita de duas formas: a diária, que consiste em tomar continuamente os comprimidos, e a sob demanda, que ocorre quando a pessoa toma a PrEP somente numa possibilidade de exposição. 

“A PrEP tem enorme importância, mas é para um público muito restrito dentre essa população que corre mais risco, não pode ser banalizada e usada por todo mundo que não quer usar camisinha porque não gosta tanto. A preocupação no momento é que o número de infecções por HIV e outras ISTs – como clamídia, sífilis, gonorreia – aumentou em relação a anos anteriores. Não basta usar um medicamento para evitar a contaminação pelo HIV e se descuidar para outras doenças. As pessoas precisam, primeiramente, eleger o preservativo como melhor método de precaução e não usar apenas em casos muito específicos mesmo, e em segundo, estarem fazendo continuamente o monitoramento por meio de exames. Por meio do SUS, há testagem rápida para HIV, sífilis, hepatites B e C em diversas unidades de saúde”. 

Para o médico, é necessário um trabalho de conscientização pelos órgãos de saúde pública. “Eu acho que é muito importante passar a mensagem de que é muito importante a pessoa se proteger de uma forma mais ampla”, ressalta.

 

E o que fazer caso houver exposição de risco a HIV e outras ISTs?

De acordo com Granato, os exames de sangue geralmente podem detectar o vírus após duas a três semanas da contaminação. No site do Ministério da Saúde, tem uma série de medidas a serem seguidas em situações de exposição ao HIV e outras ISTs, principalmente em casos de violência sexual. Mas, segundo Celso Granato, não existe um protocolo único, ele deve ser feito caso a caso conforme os sintomas. 

“Se a pessoa tiver uma ferida, no caso da sífilis, ela pode fazer exame após 5 a 10 dias. Se a pessoa for uma mulher, por exemplo, e ela tiver uma secreção que mudou suas características, aumentou o volume, ficou com cheiro mais forte, ela pode fazer o exame assim que essa mudança de secreção aparecer”, recomenda. 

Ele enfatiza ainda que o médico deve estudar e estar preparado para entender as características da sífilis, do HIV, da gonorreia, do herpes. “Isso é uma coisa que tem que estar na cabeça do médico para saber quando pedir os exames, porque, infelizmente, essas situações estão ficando cada vez mais comuns”, esclarece Granato.

 

SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial


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