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terça-feira, 10 de dezembro de 2024

209 mil crianças estão fora da pré-escola, etapa obrigatória, por opção dos pais

Dados do IBGE mostram, ainda, que universalização está mais próxima dos 20% mais ricos.

 

Dados recentes da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2024, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), colocam luz a realidade educacional da primeira infância: 441 mil crianças de 4 a 5 não frequentam a pré-escola. Dessas, 209 mil estão fora dessa etapa por opção dos pais. No Brasil, a pré-escola é uma etapa educacional obrigatória e, segundo o Plano Nacional de Educação, deveria estar universalizado desde janeiro de 2016. 

Para a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, instituição que desde 2007 atua em prol da primeira infância, a situação exige ações emergenciais. “Para mais de 440 mil crianças está sendo negado o direito a pré-escola de qualidade. Os adultos responsáveis precisam entender a importância dessa etapa para o desenvolvimento de suas crianças e as esferas governamentais precisam elaborar estratégias de busca ativa e expandir a rede para que esse atendimento alcance os que mais necessitam”, defende Mariana Luz, CEO da Fundação. 

Os dados apresentados também revelam o aumento no percentual de crianças que não frequentava escola por opção dos pais ou responsáveis. O índice, que era de 39,8% em 2022, pulou para 47,4% em 2023. Os motivos relacionados a falhas de cobertura somam 42,4%. Isso significa dizer que 187 mil de crianças de 4 e 5 anos poderiam estar frequentando educação infantil caso as condições materiais, de transporte, de proximidade, de vagas e de segurança fossem garantidas às famílias. 

Por fim, os dados ajudam a evidenciar as desigualdades de acesso: entre as 20% mais pobres, 89,7% frequentam a pré-escola. Entre as 20% mais ricas, 98% frequentam a pré-escola.
 

Pré-escola e alfabetização: A educação infantil é essencial para o desenvolvimento integral da criança (desenvolvimento cognitivo, físico, social e emocional) e para construir uma base sólida e ampla, que prepare as crianças pequenas para a aprendizagem ao longo da vida. E, embora a alfabetização não seja o objetivo dessa fase educacional, é nela que os pequenos desenvolvem as habilidades cognitivas necessárias para iniciar esse processo.  

Na pré-escola, por exemplo, as crianças desenvolvem o interesse pela leitura de histórias, habilidades e conhecimento em aspectos baseados no código e no significado da linguagem oral e escrita. É também nessa fase que os pequenos desenvolvem habilidades de coordenação ampla e fina, sequenciação, equilíbrio e lógica matemática.  

Além disso, evidências cientificas provam que o investimento na educação na primeira infância também uma estratégia eficaz para reduzir os custos sociais.  

“Toda criança necessita de cuidados na primeira infância – e as crianças em situação de vulnerabilidade têm menor probabilidade de obtê-lo. O investimento na primeira infância gera impactos positivos na saúde pública, na redução das taxas de abandono escolar e no combate à pobreza e a criminalidade”, finaliza Luz.  

Uma análise realizada pelo professor e economista James Heckman, da Universidade de Chicago, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, mostrou que cada dólar investido na primeira infância reverte em 7 dólares. O ganho tem como base no aumento da escolaridade e do desempenho profissional, além da redução dos custos com reforço escolar, saúde e gastos do sistema de justiça penal. 

Um outro estudo publicado pelo professor Heckman, em 2021 estabeleceu uma conexão direta e duradoura entre a primeira infância e a qualidade de vida de acordo com o envelhecimento: aos 54 anos, indivíduos que tiveram a oportunidade de uma educação pré-escolar de qualidade superaram em cerca de 80% de seus pares em saúde e indicadores sociais, e ganharam, em média, 10 mil dólares a mais anualmente.

 

Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

 

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